Um conselho de Nassau
Seu nome original era Johann Mauritius van Nassau-Siegen. Nasceu na Alemanha em 1604. E morreu em 1679. Sobrinho neto do príncipe Guilherme I de Orange. Trata-se de Maurício de Nassau, que governou o Brasil holandês de 1637 a 1644.
Nassau foi notável administrador. Substituiu o sistema de câmaras municipais por conselhos de escabinos, mais representativo. Dividiu o Brasil em administrações distritais. Desapropriou e alienou engenhos de açúcar abandonados pelos proprietários. Diminuiu os juros para o setor agrícola. E propiciou clima de relativa liberdade religiosa.
O Recife substituiu Olinda como capital da província. E a cidade foi remodelada. Com apropriação urbana dos rios. Abertura de canais e construção de pontes. Pintores foram trazidos para documentar figuras e cores do trópico: Franz Post e Albert Eckhout. Em face de divergências com a Companhia das Índias, contra o rigor na cobrança de financiamentos aos donos de engenho, Nassau voltou para a Europa. Em 1664.
Deixou saudade. Diz-se que, no caminho da volta que tomou em direção ao porto, alongaram-se filas de pessoas para o saudar. Dando-lhe salves e adeus. Algumas até choravam. Na verdade, o modo como Nassau conduziu as relações com a população atraiu a simpatia dos pernambucanos. Além de saudade, Nassau deixou um conjunto de recomendações ao seu sucessor.
Este é aspecto pouco lembrado. A dimensão expressiva do caráter limpo e aberto de Nassau. Ele não alimentou ressentimento com a saída. Não fechou seu coração aos brasileiros de Pernambuco. Com os quais convivera por sete anos.
Ao contrário. Magnânimo, legou conselhos aos gestores que lhe sucederam. Fruto de experiência única. Que carregava como tesouro pessoal. Numa época em que não havia facilidade de comunicação. De transmitir informações sobre a situação dos negócios públicos. Nassau forneceu bússola administrativa aos que ficaram à frente da gestão da província. Com senso de responsabilidade pública. Dos que têm consciência do fio de continuidade institucional do Estado.
Pois bem. Num dos trechos da carta que entregou aos novos administradores de Pernambuco, Nassau escreveu o seguinte:
“Quanto aos delitos dos soldados, convém vossas senhorias não sejam compassivos. Pois, só pelo rigor se pode manter dedicada essa gente. A impunidade dos soldados, bem como de toda sorte de indivíduos os transvia e os corrompe facilmente. Mas, para poder castigar, é necessário não lhes dar ocasião de alegar que são mal alimentados”.
E, no trecho seguinte:
“Com os oficiais convém que vossas senhorias procedam de um modo cortês e polido, sem, todavia, admiti-los à familiaridade e às relações íntimas de amizade, pois, sei, por experiência, que tal convivência é muitas vezes fonte e origem de muitas desordens”.
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