Viva Frei Caneca! Força, Brasil!
O pernambucano Frei Caneca (Frei Joaquim do Amor Divino Caneca - Recife, 20/08/1779 - 13/01/1825), foi o mais importante dos líderes da Confederação do Equador de 1824. Este movimento revolucionário, ocorrido no dia 2 de julho de 1824, hasteou pioneiramente a bandeira republicana e federalista na cidade do Recife, declarando a autonomia da Província de Pernambuco. Um prenúncio de liberdade ao futuro.
Os fatos decorrentes desse movimento, contra o autoritarismo e as injustiças do império, e em favor da democracia e da igualdade republicana, que, após cinco meses do início, foi sufocado pela desproporcional estrutura militar do império na época, nunca foram esquecidos, inclusive a condenação à morte de Frei Caneca. Os ideais da Confederação, lá na frente, tiveram influência nas manifestações que redundaram na definitiva proclamação da República em 1889, tornando-se, assim, relevantes na formação da História soberana da nacionalidade brasileira.
Por sua luta e pioneirismo, Frei Caneca, religioso da Ordem dos Carmelitas Descalços, de Santa Teresa de Ávila (tinha que ser ela), tem o nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria (Panteão da Liberdade e da Democracia), desde 11 de outubro de 2007. Ele também era filósofo, professor, jornalista, político e um grande pensador.
Durante a comemoração dos 200 anos da Confederação do Equador, ocorrida no período de 2 julho de 2024 a 2 de julho de 2025, que foi acompanhada do justo e belo trabalho de reconhecimento no campo das lutas libertárias, realizado, em conjunto, pelo Governo do Estado de Pernambuco e pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano - IAHGP, liderado pela vice-governadora, Priscila Krause, e pelo presidente do IAHGP, George Cabral, aconteceram vários seminários de estudo sobre as ideias e as ações do movimento e sobre a biografia de seus líderes, em vários lugares, além da publicação de livros sobre o tema, a colocação da placa A História nas Paredes, no Engenho Poço Comprido, no município de Vicência, em Pernambuco, e uma sessão solene no Congresso Nacional.
A comemoração do bicentenário da Confederação do Equador culminou, no último dia 2 de julho, com a inauguração da estátua do herói Frei Caneca, em tamanho natural, calculado com base em pesquisa sobre o biotipo do homenageado. A estátua de Caneca está instalada na Praça da República, entre o Palácio do Campo das Princesas, do governo, e o prédio do Tribunal de Justiça. Os ideais venceram o suplício, e a eles devemos, em boa parte, a nação republicana independente que temos hoje.
E, nesse momento, de tantos desatinos, apolíticos, negacionistas e obscurantistas, e, até, pasmem, de ridículas ameaças estrangeira, ridículas, de envergonhar a Groucho Marx (se vivo, teria muitos serviços) e a Estátua da Liberdade; ameaças as quais não vamos nos vergar, o que seria uma covarde terceirização da nossa soberania, recordemos, para os brasileiros e, especialmente, aos mais jovens, uma declaração de Frei Caneca escrita no jornal fundado por ele, “O Typhis Pernambucano” - 25.12.1823 - Nº 1: “Quando a nau da pátria se acha combatida por ventos embravecidos; quando, pelo furor das ondas, ela ora se sobe às nuvens, ora se submerge nos abismos; quando levada pelo furor dos euripos, feita o ludibrio dos mares, ela ameaça naufrágio e morte, todo cidadão é marinheiro; um deve sustentar o timão, outro pôr a cara ao astrolábio, ferrar o pano outro, outro alijar ao mar os fardos que a sobrecarregam e afundam, cada um prestar a diligência ao seu alcance, e sacrificar-se pelos cidadãos em perigo.
Firme neste princípio, eu levanto a voz do fundo da minha pequenez e te falo, oh! Pernambuco, pátria da liberdade, asilo da honra e alcançar da virtude! Em ti floresceram os Vieiras, os Negreiros, os Camarões e os Dias, que fizeram tremer a Holanda e deram espanto ao mundo universo. Tu me deste o berço, tu ateaste no meu coração a chama celeste da liberdade, contigo ou descerei aos abismos da perdição e desonra, ou a par da tua glória voarei à eternidade”.
Sem a visão turva, o Brasil é dos brasileiros e só aos brasileiros cabe conduzir os seus destinos. Força.
* Administrador de empresas (UFPE), articulista, cervantista ([email protected]).
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