Sáb, 06 de Dezembro

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Juliana Marins

Pai de Juliana Marins revela como foi a queda da filha no vulcão no Monte Rinjani, na Indonésia

Publicitária brasileira, de 26 anos, fazia trilha no Monte Rinjani quando caiu em penhasco. Buscas duraram quatro dias, quando corpo foi retirado por voluntários

Juliana MarinsJuliana Marins - Foto: @resgatejulianamarins/Instagram/reprodução

A família de Juliana Marins, a publicitária brasileira de 26 anos que morreu após uma queda no Monte Rinjani, na Indonésia, contou o que descobriu sobre as tentativas de resgate após o acidente. O pai da jovem, Manoel Martins, detalhou o que aconteceu no dia em que a filha caiu da trilha e nas sucessivas tentativas de resgatá-la com vida. O relato, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, esclarece pontos da angustiante espera que se prolongou por quatro dias, até a equipe formada principalmente por voluntários recuperar o corpo de Juliana.

Manoel contou o que conseguiu descobrir ao acompanhar o caso de perto. Ele está na Indonésia, em contato direto com as autoridades. Entre as novas informações, o que aconteceu momentos antes da queda de Juliana da trilha. Segundo o pai da jovem, o guia que a acompanhava se distanciou de onde ela estava para fumar.

Momentos antes da queda
Manoel relatou que o guia que estava com os viajantes na trilha se afastou para fumar, quando deixou sua filha para trás. Isto aconteceu na madrugada do dia 21 de junho, sábado, no horário local.

— Juliana falou: “Estou cansada”. E ele falou: “Senta ali. Fica sentada”. E o guia nos disse que ele se afastou por cinco a dez minutos de onde Juliana estava para fumar. Para fumar! Depois desses cinco a dez minutos de caminhada, dessa meia hora fumando, ele voltou. Quando voltou, não encontrou a Juliana. Isso foi por volta de 4h da manhã. Quando ele avistou Juliana, eram 6h08 da manhã.

Busca por Juliana
O guia somente soube que a jovem tinha caído da trilha, em direção ao penhasco do vulcão, quando viu a luz vinda da lanterna do capacete que a jovem usava. Imagens feitas por ele próprio para informar à equipe o que tinha acontecido mostram um pequeno ponto em meio à escuridão.

Chegada da brigada de socorro
Após acionamento, a brigada de socorro começou a subir o monte por volta de 8h30 da manhã do dia 21. O trajeto até o local do acidente tinha cerca de seis horas de duração. Às 14h, a equipe chegou ao ponto de onde Juliana caiu.

— O único equipamento que eles tinham era uma corda (...) Jogaram a corda na direção da Juliana. Fizeram uma segunda tentativa: o guia, no desespero, amarrou a corda na cintura. Ele tentou descer com essa corda amarrada na cintura sem ancorar a corda — afirmou Manoel.

Imagens de Juliana viva
Enquanto aguardavam a chegada das equipes, outras pessoas que também percorriam a trilha tentavam ajudar no resgate da brasileira. Entre 10h e 12h, com um drone, uma turista grava o vídeo de Juliana se mexendo e consegue identificar o ponto onde ela parou após cair. Nas imagens que percorreram o mundo, a jovem mexe os braços e na bolsa que carregava. Ela aparece sentada em uma cavidade no penhasco. As pessoas que estavam no local tentavam se comunicar.

— Rescue is coming (O resgate está vindo, em português) — grita uma turista.

Pedido de reforço
Após as malsucedidas tentativas de resgate, a administração do parque foi informada que o caso tinha complexidades. Seria preciso, então, acionar a Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas), a defesa civil local, cuja sede fica em outra região, a duas horas do Monte Rinjani.

A equipe dos Basarnas chegou ao local ainda no sábado, dia do acidente, porém às 19h, horário indonésio. Juliana não estava no trecho esperado.

Buscas interrompidas
No dia seguinte, domingo (22), o resgate foi interrompido devido ao mau tempo. Em imagens divulgadas pela equipe, era possível ver uma forte neblina na região. O Monte Rinjani tem 3.726 metros de altura, o segundo mais alto do país. Neste dia, não foi possível ver o ponto em que Juliana estava.

'Visivelmente imóvel'
Na segunda-feira (23), autoridades localizaram a brasileira. Informações publicadas no Instagram oficial do Parque Nacional Gunung Rinjani apontaram que a jovem foi monitorada "com sucesso por um drone" e que permanecia presa em um penhasco rochoso a uma profundidade de cerca de 500 metros, "visualmente imóvel".

O pai da jovem acredita que ela já estava morta neste momento. Na autópsia não foi possível informar com precisão quando aconteceu.

Equipes alcançam Juliana
Equipes de busca conseguiram chegar ao ponto em que Juliana estava na noite de terça-feira (24), hora local. Eles confirmaram que a brasileira foi encontrada sem vida após passar quatro dias na encosta do vulcão. O corpo foi localizado por alpinistas que desceram pela encosta da região conhecida como Cemara Nunggal, entre 2.600 e 3.000 metros de altitude.

Devido às condições, os voluntários passaram a noite no local, para evitar que o corpo descesse ainda mais, ao se encontrar já a 600 metros de profundidade da trilha, e que pudesse ser içado no dia seguinte. Abd Harris Agam, conhecido como Agam Rinjani, integrava esta equipe e foi quem encontrou Juliana. Ele passou a integrar os esforços de buscas ao ver a notícia e se solidarizar. Viajou mais de um dia para chegar ao local. Em entrevista ao Fantástico, contou que nos últimos 10 anos fez o resgate de 21 pessoas com vida e de nove mortos no Monte Rinjani.

— Eu me machuquei, um amigo meu foi internado no hospital. Muitas vezes caíam pedras perto da nossa cabeça — contou à reportagem. — Eu não sei o que dizer, mas obrigado aos meus amigos e brasileiros que acreditam em mim. Eu só quero pedir desculpa para a família por não conseguir salvar Juliana — lamentou.

Causa da morte
A autópsia no corpo de Juliana, feita no Hospital Bali Mandara, em Denpasar, na Indonésia, concluiu que a causa da morte foi trauma, com fraturas, lesões em órgãos internos e hemorragia intensa. De acordo com o médico legista Ida Bagus Alit, responsável pelo procedimento, a morte ocorreu 20 minutos após o trauma, mas ainda não está claro qual das quedas foi fatal.

Promessas para o futuro
No sábado, o governador Lalu Muhamad Iqbal, que comanda a província de Sonda Ocidental, onde fica o vulcão Rinjani, publicou uma carta aberta. Cercado pela repercussão da morte da viajante, ele afirmou que o governo adotará medidas para melhorar a capacidade de reação a ocorrências:

— A infraestrutura de segurança precisa ser aprimorada, já que essa montanha deixou de ser apenas um destino de trilha para se tornar uma atração turística internacional (...) Estou comprometido, como governador, a iniciar uma revisão abrangente com todos os envolvidos na região do Rinjani.

Quem é responsável?
Para o pai de Juliana, empresas e guias devem ser responsabilizados:

— Os culpados, no meu entendimento, são: o guia, que deixou a Juliana para fumar; a empresa que vende os passeios, eles são vendidos em banquinhas! Mas o primeiro é o coordenador do parque, que demorou a acionar a defesa civil. Em momento algum reconheceu o erro nem pediu perdão para nós — disse Manoel.

Segundo ele, ao ser perguntado, o guia disse não possuir certificação para realizar o passeio.

Menos agentes do que o necessário
No último sábado (28), o governador Lalu Muhamad Iqbal, que comanda a província de Sonda Ocidental, onde fica o vulcão Rinjani, publicou uma carta aberta. O conteúdo foi compartilhado no Instagram. Na gravação, ele atribuiu as dificuldades de resgate de Juliana às “forças da natureza”, culpando as chuvas persistentes e uma névoa pela demora, mas admitiu não existir estrutura adequada para situações do tipo na região.

— Estamos profundamente abalados por essa tragédia — disse o governador indonésio.

No comunicado, o representante do governo admitiu que a equipe tem menos agentes do que seria preciso para para salvamentos verticais.

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