Cariri Olindense: conheça a primeira presidenta da agremiação, fundada há 104 anos
Aos 64 anos, a dirigente se torna a primeira mulher à chegar ao cargo na agremiação, que foi fundada no dia 15 de fevereiro de 1921
"A vontade de modificar. Eu acho que tem que ter inovação. [Se não fosse] assim, a gente não teria uma presidenta, a gente não teria uma mulher [no Ministério] da Cultura. Em diversos cargos. Depois de muito trabalho, de muita luta, eu decidi botar o meu nome".
Foi através das referências que Cláudia Maria da Silva cultivou o desejo de se candidatar à presidência de umas agremiações mais tradicionais do carnaval pernambucano: o Cariri Olindense.
Aos 64 anos, a dirigente se torna a primeira mulher a chegar ao cargo na agremiação, que foi fundada no dia 15 de fevereiro de 1921.
Cláudia Maria da Silva cultivou o desejo de se candidatar à presidência de umas agremiações mais tradicionais do carnaval pernambucanoCláudia foi criada em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, onde - segundo a própria- o carnaval era "diferente".
Chegou em Olinda no ano de 1971, local de origem da família por parte de mãe, e foi na cidade que descobriu a paixão pelo carnaval.
"Essa paixão pelo carnaval foi desenvolvida aqui. Porque, em Arcoverde, como era no interior, no Sertão, o Carnaval é diferente. A família da minha mãe era daqui de Olinda. Então, quando a gente veio, se aflorou mais ainda", conta.
Os pais não aderiram à folia, mas foi justamente em Olinda que Cláudia fez amizade com as filhas do, na época, presidente do Cariri, onde passou a desfilar.
"Eu conhecia as filhas do presidente e, na amizade, eu saí na agremiação. Eu tinha bem menos que 20 anos quando eu comecei a desfilar. Como jovens, mesmo com pais que não gostavam [de carnaval], a gente vai crescendo, vai gostando, vai tomando sintoma e aí ninguém segura", descreve.
O sentimento de sintonia, reforçado pelo encanto com a liberdade que atrela ao cortejo, tomou conta de Cláudia.
É uma festa muito boa, onde não existe discriminação. Brincam todos juntos, não tem diferença. É todo mundo unido de qualquer jeito, como você acha que deve estar. E aí isso é muito gostoso, é maravilhoso. É você brincar o carnaval livre. Pode estar vestido como você quiser, não tem problema.
A mudança motivou Cláudia, mulher negra e vinda do sertão, a reforçar a vontade de enviar a sua candidatura à presidência da agremiação.
E assim o fez. Apesar da vitória, Cláudia descreve a dificuldade enfrentada durante a candidatura, que esbarrou no machismo. Mas foi no mote "para frente é que se anda" que guia a sua trajetória.
"Tem sido muito desafiador, tem que ter vontade mesmo, muita vontade. Agrega ainda aquelas ideias de antigamente, em que o homem podia tudo, era o poder que a gente se curvava, né? Mas, vamos simbora. Pra frente é que se anda. É ter vontade, correr, fazer e acreditar que você pode. Pra mim é isso aí", conta.
Durante a sua gestão, Cláudia tem como objetivo um anseio social: refletir e trabalhar na igualdade de gênero e reforçar o diálogo.
"[Estou aqui] para agregar qualquer um que quiser conversar, debater, discutir o que acha e o que não acha. Sou de apaziguar e trabalhar com todos. Apesar de que, o time de mulheres ainda é pouco. Temos mais homens do que mulheres. Mas estamos todas empenhadas, todas trabalhando", reflete.
Cariri Olindense completa 104 anos no dia 15 de fevereiro O primeiro grande compromisso do ano de Cláudia tem data marcada: dia 15 de feveiro, o Cariri Olindense celebrará 104 anos e se reunirá na sede da agremiação, às 16h, no bairro de Guadalupe.
"Dia 15 de fevereiro é a nossa festa de aniversário, para a nossa população, a nossa comunidade. Portas abertas. Chegar, tomar uma cerveja, curtir um frevo e depois ir às ruas. Que é ainda melhor do que curtir na agremiação. Eles esperam isso aí: um carnaval bonito, empreendedor, satisfatório", afirma.
O bloco volta às ruas na madrugada do dia 2 de março, com a chave simbolizando a abertura do Carnaval, em um cortejo que tem início às 4h.
"Estamos no pique de fantasia e da trajetória do desfile. O público já é imenso e, a cada ano, as expectativas são ainda maiores, mas estamos prontos. Tudo feito", garante.
O bloco volta às ruas na madrugada do dia 2 de março, com a chave simbolizando a abertura do Carnaval Foto: Ricardo Fernandes/Folha de PernambucoPara o Carnaval de 2025, o Cariri Olindense escolheu o tema "A força feminina que rege não só os quatro dias de folia, mas todos os dias guardados pela Marim dos Caetés"
"Isso é dizer e mostrar para as pessoas, não só para as mulheres, mas para os homens também, que nós mulheres somos a maioria e podemos fazer história, estar onde a gente quiser estar", reflete Cláudia.
O que vou agregar é no público, de dizer assim: depois de mais de cem anos, se tem uma mulher na presidencia do Cariri. Para mim, isso é maravilhoso. Primeira mulher presidenta de uma agremiação. É aquela explosão.

