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Corpo humano

Probióticos, dietas e muito mais: 10 mitos intestinais corrigidos

Especialistas tiraram dúvidas sobre probióticos, dietas de eliminação, intestino permeável e mais

Doenças do intestinoDoenças do intestino - Foto: Pixabay/Reprodução

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Para muitos de nós, o intestino é algo como uma caixa-preta. Comida entra, resíduos saem, e raramente discutimos ou tentamos entender o que acontece entre esses dois pontos. Segundo Morgan Senzischew Shane, gastroenterologista da Faculdade de Medicina Miller da Universidade de Miami, não falamos o suficiente sobre saúde intestinal.

— Não é algo refinado ou educado falar sobre digestão, gases ou hábitos intestinais — acrescenta.

Além disso, Morgan acredita que as pessoas podem se sentir envergonhadas em abordar certos problemas com seus médicos, permitindo que mitos antigos sobre a saúde intestinal persistam e novas fontes de desinformação se espalhem.

Perguntamos a 10 especialistas em gastroenterologia e microbioma quais mitos eles mais gostariam de esclarecer. Veja o que eles disseram:

Mito 1: Você precisa "ir ao banheiro" todos os dias.
— As pessoas muitas vezes se preocupam que, se não evacuarem todos os dias, algo esteja errado — diz Folasade P. May, gastroenterologista da Escola de Medicina David Geffen da U.C.L.A., nos Estados Unidos (EUA).

A médica explica que, no entanto, pode ser normal evacuar de três vezes por dia a três vezes por semana.

— Mais importante do que a frequência é a consistência das evacuações, a aparência das fezes, não muito duras, com caroços ou muito líquidas, e como é a sensação ao evacuar, não muito doloroso ou difícil — explica.
 

ConstipaçãoFoto: Freepik

Se você costuma fazer muito esforço, sentir dor, passar mais de 10 minutos no banheiro ou sentir que não consegue evacuar completamente, pode ser útil consultar um médico. Isso é especialmente importante se você notar sangue nas fezes, mudanças súbitas na frequência ou aparência das evacuações, ou perda de peso inexplicável.

— Esses podem ser sinais de condições graves, como doença inflamatória intestinal, doença celíaca ou câncer colorretal — alerta Folasade.

Mito 2: Eliminar grupos de alimentos pode curar sintomas intestinais.
Tamara Duker Freuman, nutricionista da New York Gastroenterology Associates, em Nova York, diz que, quando atende pacientes com problemas como inchaço ou constipação, eles frequentemente acreditam que cortar várias combinações de alimentos — como grãos, leguminosas, laticínios, ovos e soja — pode ajudar a reduzir a inflamação e curar o intestino.

— No entanto, não há nada intrinsecamente inflamatório nesses alimentos — explica Freuman.

Além disso, dietas de eliminação podem piorar a saúde intestinal, que geralmente é melhor sustentada com o consumo de uma variedade de alimentos de origem vegetal, como grãos integrais, frutas, vegetais e leguminosas.

— Seguir dietas restritivas também pode levar a deficiências nutricionais ou distúrbios alimentares — alerta ela.

Se você tiver problemas intestinais regulares, um profissional de saúde pode ajudar a identificar a causa. Pode ser necessário evitar certos alimentos — por exemplo, no caso de doença celíaca, é preciso evitar o glúten —, mas não é necessário eliminar grupos alimentares inteiros da dieta.

Mito 3: É possível diagnosticar sensibilidades alimentares com um teste simples.
Diversas empresas vendem testes de sensibilidade alimentar, realizados em casa ou em laboratório, que afirmam, ao analisar o sangue ou alguns fios de cabelo, identificar alimentos que podem estar causando problemas como inchaço, dor abdominal e indigestão.

Kate Mintz, nutricionista da U.C.L.A. Health especializada em saúde intestinal, afirma que pode ser "tentador" fazer um teste simples na esperança de obter respostas claras.

— Mas os testes de sensibilidade alimentar, incluindo aqueles realizados em casa e por alguns provedores de medicina alternativa, não foram rigorosamente avaliados — afirma Mintz. — Seus resultados frequentemente sugerem evitar uma longa lista de alimentos, às vezes, alimentos que nunca causaram problemas, o que pode ser confuso ou levar a dietas restritivas desnecessárias, explicou.

Em vez disso, procure um nutricionista que possa ajudar a identificar quais alimentos, se houver, estão causando os sintomas. Isso pode levar tempo, mas é provável produzir resultados melhores.

Mito 4: O estresse pode causar úlceras.
Os médicos costumavam acreditar que úlceras pépticas — feridas abertas no revestimento do estômago ou na primeira seção do intestino delgado — eram causadas por estresse ou outros fatores de estilo de vida, como o consumo de alimentos picantes.

— Esse pensamento foi refutado na década de 1980, quando cientistas descobriram que a bactéria Helicobacter pylori, que perfura o revestimento protetor do estômago, era responsável por muitas úlceras — diz William D. Chey, chefe de gastroenterologia da Michigan Medicine (EUA).

O estresse pode causar problemas cardiovascularesFoto: Pexels

Segundo o médico, o uso frequente de anti-inflamatórios não esteroidais, como aspirina, ibuprofeno e naproxeno, também pode causar úlceras.

— Não tratar a “causa raiz” das úlceras, com antibióticos, no caso de infecções por H. pylori, ou reduzindo o uso de anti-inflamatórios, por exemplo, pode permitir que elas retornem — alerta Chey.

Úlceras recorrentes podem aumentar o risco de sangramento, obstruções ou perfurações no estômago, ou no intestino delgado. Infecções não tratadas por H. pylori também podem aumentar o risco de câncer de estômago.

Mito 5: Sucos detox e jejuns podem curar seu intestino.
É uma ideia popular: preparar um suco com diversos ingredientes da seção de hortifrúti— laranjas, abacaxi, limão, pepino, gengibre, cúrcuma — e consumi-lo diariamente para melhorar a digestão, reduzir o inchaço e ter um intestino mais saudável.

— Se você gosta de preparar essas bebidas, ou comprá-las, tudo bem as consumir com moderação — diz Shane. — Mas alguns sucos podem ser ricos em açúcar e “não estão realmente limpando nada”.

Na verdade, ao transformar frutas e vegetais em suco, remove-se a fibra, que alimenta os micróbios benéficos do intestino e regula as evacuações.

— É melhor preparar vitaminas, que mantêm a fibra, ou fazer uma salada — recomenda Shane.

A versão extrema desse mito é o detox com sucos, no qual as pessoas consomem apenas sucos por vários dias.

— Isso não é benéfico nem sustentável — acrescenta Shane. — e é perigoso promover a ideia de que “seu corpo precisa ser privado de comida para ser limpo e saudável”.

Mito 6: O câncer colorretal afeta principalmente pessoas idosas.
Na faculdade de medicina, no início dos anos 2000, May aprendeu que o câncer colorretal era uma doença de adultos mais velhos. No entanto, suas taxas aumentaram entre os mais jovens, tornando-se a principal causa de mortes relacionadas ao câncer entre homens com menos de 50 anos e a segunda mais comum entre mulheres dessa faixa etária.

Hoje, May explica a estudantes de medicina que, quando adultos apresentam mudanças nos hábitos intestinais, perda de peso inexplicável ou sangue nas fezes, o câncer colorretal deve ser considerado na lista de diagnósticos a descartar.

— Como os estágios iniciais do câncer colorretal frequentemente não apresentam sintomas, todos devem ser rastreados, com uma colonoscopia ou teste fecal caseiro, a partir dos 45 anos, ou mais cedo, se houver fatores de risco específicos — diz May.

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Mito 7: Comer nozes e pipoca pode causar diverticulite.
A diverticulite ocorre quando pequenas bolsas na parede do cólon ficam inflamadas, causando dor abdominal, náusea, vômito, constipação, cólicas ou febre.

— Antigamente, médicos recomendavam evitar nozes, sementes e pipoca para quem tinha propensão à diverticulite, acreditando que esses alimentos poderiam ficar presos na parede do cólon e causar inflamação — diz Nitin K. Ahuja, gastroenterologista da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

PipocaFoto: Pixabay

Mas, segundo Ahuja, essa ideia estava errada. Na verdade, algumas pesquisas sugerem que pessoas que consomem nozes ou pipoca têm menos probabilidade de desenvolver diverticulite do que aquelas que não consomem. Esses alimentos contêm fibras, que estão associadas a um menor risco de diverticulite.

Mito 8: Comer feijões e outros alimentos com lectinas pode causar ‘intestino permeável’.
Alguns influenciadores afirmam que certos alimentos que contêm lectinas — como feijões, grãos e alguns vegetais — causam inflamação e tornam o revestimento intestinal “mais permeável”, permitindo que micróbios e substâncias tóxicas passem do intestino para outras partes do corpo.

Todas as plantas contêm lectinas, e elas são particularmente altas no feijão; é por isso que comer feijões crus ou mal cozidos pode causar desconforto gastrointestinal.

— Mas a maioria das lectinas é destruída durante o cozimento, então não há motivo para se preocupar com seus níveis em feijões, grãos ou outros alimentos cozidos — diz Justin Sonnenburg, professor de microbiologia e imunologia na Universidade de Stanford.

Embora alguns vegetais consumidos crus — como tomates, pimentões e ervilhas-tortas — contenham lectinas, essas estão presentes em concentrações muito menores do que no feijão seco e não foram associadas a sintomas digestivos.

— Evitar alimentos vegetais ricos em lectinas devido a esse mito não ajudará o intestino — diz Sonnenburg. — Na verdade, pode prejudicá-lo. Evitar alimentos vegetais pode privar os micróbios benéficos do intestino de fibras suficientes. Quando isso acontece, eles podem começar a consumir o revestimento protetor de muco do intestino, o que, por sua vez, pode levar ao “intestino permeável” e inflamação.

Mito 9: A SII (síndrome do intestino irritável) está ‘tudo na sua cabeça’.
Dor abdominal, inchaço, diarreia, constipação — os sintomas da SII são reais e podem ser debilitantes. No entanto, a condição historicamente carrega um certo estigma, em parte porque não possui um teste diagnóstico, os cientistas não entendem completamente sua causa e certas condições de saúde mental, como ansiedade e depressão, podem agravá-la.

— Até hoje, alguns profissionais de saúde podem não levar a condição a sério, deixando muitos pacientes se sentindo desacreditados ou “loucos” — diz Baha Moshiree, gastroenterologista do Atrium Health Wake Forest, em Charlotte, Carolina do Norte.

A SII é um transtorno de interação entre o intestino e o cérebro, afirma Moshiree. Alguns nervos do intestino — como aqueles que detectam dor, por exemplo — podem ser extremamente sensíveis, o que pode fazer com que funções digestivas normais pareçam dolorosas.

— Embora a saúde mental possa desempenhar um papel na SII, isso não torna a condição menos real ou menos digna de tratamento — explica Moshiree.

— Embora algumas pessoas possam se beneficiar de suplementos probióticos, há poucas evidências de qualidade que sugiram que a maioria das pessoas precise deles — Brian Lacy, gastroenterologista e professor de medicina na Clínica Mayo, em Jacksonville, Flórida.

Milhares de espécies microbianas vivem no intestino, afirmou ele, por isso é improvável que uma cápsula contendo apenas uma ou algumas cepas vivas melhore significativamente sua saúde intestinal. E, para algumas pessoas, os probióticos podem até piorar os sintomas.

— Quem sofre de constipação, por exemplo, pode ter aumento de gases, inchaço e náuseas após tomar um probiótico — diz Kayla Hopkins, nutricionista do Atrium Health Gastroenterology and Hepatology, em Charlotte, Carolina do Norte.

Alimentação pode auxiliar no combate à ansiedadeFoto: divulgação

Ela recomendou, em vez disso, consumir alimentos fermentados, como iogurte, kefir, kimchi ou chucrute, além de uma variedade de alimentos vegetais.

— Um intestino saudável — diz Hopkins. — não começa com muitos comprimidos e poções, se você puder evitar. Começa simplesmente com uma nutrição equilibrada e variedade.

Mito 10: Todo mundo deve tomar probióticos para a saúde intestinal
— Embora algumas pessoas possam se beneficiar de suplementos probióticos, há poucas evidências de qualidade que sugiram que a maioria das pessoas precise deles — Brian Lacy, gastroenterologista e professor de medicina na Clínica Mayo, em Jacksonville, Flórida.

Milhares de espécies microbianas vivem no intestino, afirmou ele, por isso é improvável que uma cápsula contendo apenas uma ou algumas cepas vivas melhore significativamente sua saúde intestinal. E, para algumas pessoas, 

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