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Recuo do Irã do Brics foi "jogada ensaiada"

Em um parágrafo sobre a questão palestina, o texto defende a solução de dois Estados, formulação rejeitada pela República Islâmica por aceitar a existência de Israel, que o Irã não reconhece

Plenária da reunião de cúpula do Brics, no Rio de Janeiro Plenária da reunião de cúpula do Brics, no Rio de Janeiro  - Foto: Pablo Porciuncula / AFP

Uma jogada ensaiada entrou em campo para que a principal declaração da cúpula do Brics no Rio não fosse bloqueada pelo Irã, por conta de diferenças com o grupo em relação a Israel.

Em um parágrafo sobre a questão palestina, o texto defende a solução de dois Estados, formulação rejeitada pela República Islâmica por aceitar a existência de Israel, que o Irã não reconhece. Foi um dos pontos mais debatidos da declaração.

Os negociadores iranianos acabaram aceitando o parágrafo, mas pouco depois o chanceler do país, Abbas Araghchi, publicou em seu canal numa rede social que o país “expressa reserva” em relação ao parágrafo por achar que a solução dos dois Estados não é capaz de resolver o conflito por culpa de Israel.

Araghchi, que representou o país na cúpula do Rio na ausência de seu presidente, acrescentou que o país iria formalizar a reserva com o envio de uma nota ao Brics.

A atitude indicou que a divergência foi mantida mesmo após o aparente consenso que permitiu a conclusão do texto. Mas segundo um negociador foi “tudo combinado”.

Para apaziguar os iranianos, foi concluída a discussão sem qualquer menção de reserva indicada na declaração, porém com o conhecimento de que os iranianos manifestariam sua insatisfação por fora. Segundo um diplomata, o objetivo era manter um “documento limpo”, sem restrições.

Em seu discurso, Araghchi chamou os ataques de Israel ao Irã de “golpe à diplomacia”.

Embora a solução de dois Estados seja aceita por todos os demais integrantes do Brics, o fato de um dos novos sócios não reconhecer a existência de um país soberano e membro da ONU não foi considerada algo anormal, de acordo com um negociador.

O mais importante, disse, foi que o Irã não bloqueou a aprovação do documento, o que foi “surpreendente” tendo em vista os pesados ataques de Israel contra o país.

Cinco parágrafos da declaração tratam do conflito entre israelenses e palestinos, com tom de crítica a Israel.

Outro trecho que causou desconforto em meios diplomáticos por uma suposta parcialidade em relação à Guerra na Ucrânia foi a menção a ataques recentes que atingiram três regiões da Rússia, Bryansk, Kursk e Voronej, “resultando em várias vítimas civis, incluindo crianças”.

Como esperado, o parágrafo foi incluído a pedido do governo russo. A preocupação em evitar um desequilíbrio a favor da Rússia não foi considerada, já que o país é membro do Brics e é natural que suas demandas sejam manifestadas, disse a fonte.

Nas declarações do G7 (grupo de potências ocidentais), por exemplo, não se fala de ataques da Ucrânia contra a Rússia, comparou.

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