Rússia pode desencadear guerra ampla em cinco anos, alerta Inteligência dinamarquesa
Primeira-ministra Mette Frederiksen anuncia maior aumento dos gastos com Defesa em mais de 50 anos após declarações de Trump
A Dinamarca está planejando um aumento significativo de seus gastos com Defesa em reposta à crescente ameaça russa ao continente europeu e às exigências dos Estados Unidos para que seus aliados invistam mais em segurança, sinalizando que pode haver mudanças no equilíbrio militar da Otan em meio às conversações sobre um acordo de paz na Ucrânia.
De acordo com a primeira-ministra Mette Frederiksen, a Dinamarca vai investir US$ 7 bilhões a mais em sua segurança, elevando os gastos com defesa para mais de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste e no próximo ano. Somado ao orçamento já previsto de US$ 5 bilhões, o valor corresponde ao maior investimento militar do país em mais de 50 anos.
Os novos fundos permitirão a Dinamarca adquirir armamento avançado e transferir material adicional para a Ucrânia, disseram membros do governos ao jornal Wall Street Journal. Copenhague também irá conceder isenções e reestruturar o Ministério da Defesa para que este possa adquirir armamento mais rapidamente.
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— Se não podemos ter o melhor equipamento, comprem o segundo melhor. Só há uma coisa que conta, que é a velocidade — disse ela numa entrevista coletiva a na quarta-feira. — Comprar, comprar, comprar.
Frederiksen acredita que a Dinamarca está num corrida para aprimorar suas capacidades militares para ser capaz de defender a si mesma e evitar uma guerra em meio às ameaças da Rússia.
Um relatório do Serviço de Inteligência da Dinamarca (DDIS, na sigla original) alertou no início deste mês que uma guerra de larga escala poderia ser desencadeada pela Rússia na Europa dentro de cinco anos caso a Otan enfraquecesse.
“É provável que a Rússia esteja mais disposta a utilizar a força militar numa guerra regional contra um ou mais países europeus da Otan se considerar que a Otan está militarmente enfraquecida ou politicamente dividida”, afirma o relatório. “Isto é particularmente verdade se a Rússia considerar que os Estados Unidos não podem ou não querem apoiar os países europeus da Otan numa guerra contra a Rússia.
A agência apresenta três cenários que podem ocorrer se o conflito na Ucrânia parar ou ficar congelado, partindo do pressuposto de que a Rússia não tem capacidade para travar uma guerra com vários países ao mesmo tempo: no prazo de seis meses, a Rússia seria capaz de travar uma guerra local com um país fronteiriço, enquanto no prazo de dois anos poderia lançar uma guerra regional na região do Mar Báltico. Entretanto, em cinco anos, poderia lançar um ataque em grande escala na Europa, desde que os Estados Unidos não se envolvessem.
O relatório do DDIS foi divulgado após uma série de declarações do presidente americano, Donald Trump, de que os EUA poderiam se isentar do Artigo 5 da Otan, que prevê a defesa mútua, caso os países europeus não aumentassem seus gastos militares para 5% do PIB. O chefe da Casa Branca também disse que a Europa deveria cuidar de sua própria defesa, o que nas entrelinhas sugere que as garantias de segurança para a Ucrânia após a guerra poderiam ficar a cargo exclusivamente dos países europeus.
No mês passado, a Lituânia divulgou planos para aumentar a despesa militar para 5% a 6% do PIB a partir de 2026. Na terça-feira, a Letônia também concordou em atingir o objetivo de 5%. Em 2024, a Dinamarca gastou 2,4% de seu PIB com defesa, acima da meta atual de 2% para os países da aliança transatlântica.
"A atual situação em matéria de segurança torna perfeitamente claro que temos de investir na nossa defesa a um ritmo muito mais rápido do que antes", afirmou o Ministro dos Negócios Estrangeiros Lars Løkke Rasmussen numa declaração. “Todos os países europeus devem assumir uma maior responsabilidade pela segurança na Europa. Isto envia um sinal claro a todos os nossos aliados de que compreendemos os desafios em matéria de segurança e que estamos prontos a agir agora.
O secretário de Estados dos EUA, Marco Rubio, e o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, desembarcaram na Arábia Saudita, na segunda-feira, para uma reunião bilateral que teve como tema principal a guerra na Ucrânia, prestes a completar três anos, e cuja resolução rápida parece ser uma prioridade para o governo do presidente Trump. Nem Kiev, nem os aliados europeus de Washington foram convidados.
Poucos dias antes, o vice-presidente J.D. Vance aproveitou a Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, para reiterar que os europeus devem fazer mais para cuidar da própria segurança, enquanto os americanos concentram suas forças “em regiões do mundo que correm grande perigo”.

