Trump e Netanyahu se reúnem em Washington em meio a negociações por cessar-fogo em Gaza
Embora o americano tenha reiterado nos últimos dias que uma trégua poderia ser firmada esta semana, as conversas seguem travadas no Catar até o momento
Em meio às negociações por um cessar-fogo em Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe em Washington nesta segunda-feira o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu — a sua terceira viagem desde que o aliado retornou à Casa Branca, em janeiro.
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Embora o americano tenha reiterado nos últimos dias que uma trégua estaria num horizonte próximo, até o momento as conversas no Catar seguem travadas.
Segundo um oficial do Hamas ouvido pela AFP, as partes não obtiveram "nenhum avanço na sessão de negociações" nesta segunda, e a expectativa é que Trump pressione Netanyahu durante a reunião.
Antes do encontro previsto para as 18h30 do horário local (19h30 em Brasília), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que acabar com a guerra em Gaza e libertar os reféns israelenses mantidos pelo Hamas é "prioridade máxima" para o presidente.
— A maior prioridade do presidente no momento no Oriente Médio é acabar com a guerra em Gaza e devolver todos os reféns — disse Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, a repórteres nesta tarde. — Houve uma proposta de cessar-fogo apoiada por Israel que foi enviada ao Hamas, e esperamos que eles concordem com essa proposta. Queremos ver todos os reféns libertados.
Leavitt acrescentou que o enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, pretende viajar esta semana para Doha, onde participará da mediação ao lado de representantes do Catar e do Egito.
No domingo, Trump declarou que existia a possibilidade de alcançar um acordo ainda "esta semana".
— Acho que estamos perto de um acordo sobre Gaza. Pode ser que consigamos esta semana — disse Trump aos repórteres. — Acho que há uma boa chance de chegarmos a um acordo com o Hamas durante a semana.
Outras negociações
Além do cessar-fogo, o futuro de Gaza no longo prazo e a normalização das relações entre Israel e seus vizinhos do Golfo Pérsico estão no centro da pauta entre os dois líderes, de acordo com duas fontes ouvidas pelo New York Times a par dos bastidores.
Em uma visita anterior de Netanyahu a Washington, Trump sugeriu transformar o enclave palestino na "Riviera do Oriente Médio" e deslocar à força a população que vive no território para vizinhos.
Após a repercussão negativa, ele acabou voltando atrás na iniciativa. Países como a Arábia Saudita, aliada dos americanos, foram contra a proposta e condicionam a normalização das relações com Israel ao reconhecimento do Estado palestino.
Também há a expectativa de que Trump e Netanyahu discutam as relações de Israel com a Síria. O republicano espera expandir os Acordos de Abraão, que normalizaram as relações entre Israel e outros países da região durante o seu primeiro mandato.
Recentemente, Trump assinou um decreto encerrando décadas de sanções contra Damasco e retirou a designação de organização terrorista do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), grupo liderado pelo novo presidente sírio, Ahmed al-Shara, que em dezembro passado derrubou a ditadura de Bashar al-Assad, aliada do Irã, após 13 anos de guerra civil.
De acordo com Washington, Síria e Israel estão envolvidos em negociações “significativas” que visam restaurar a estabilidade ao longo de sua fronteira. No domingo, antes de partir para os EUA, Netanyahu disse que “a oportunidade de expandir o círculo da paz” estava “muito além do que poderíamos ter imaginado antes”.
Os caminhos para reduzir a instabilidade no Oriente Médio após os ataques americanos contra instalações nucleares no Irã também estão na agenda, segundo as fontes, que falaram sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto.
Antes de se reunir com Trump em um jantar, Netanyahu teve agendas com o enviado especial Witkoff e com Marco Rubio, secretário de Estado americano e conselheiro de segurança nacional.
Termos para Gaza
Segundos fontes palestinas próximas às conversas, a proposta de cessar-fogo em Gaza inclui uma trégua de 60 dias, período em que o Hamas libertaria dez reféns israelenses vivos e vários corpos de sequestrados, em troca da libertação de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Eles acrescentaram, no entanto, que o Hamas também exige certas condições para a retirada de Israel, como garantias contra a retomada dos combates durante as negociações e o retorno do sistema de distribuição de ajuda administrado pela ONU.
Horas antes da visita, dezenas de pessoas se manifestaram em Tel Aviv, incluídos familiares dos reféns israelenses. "Presidente Trump, faça história. Traga-os para casa. Acabe com a guerra", dizia um cartaz do lado de fora da sede diplomática dos Estados Unidos na cidade.
Por sua vez, manifestantes pró-Palestina se manifestaram em frente à Casa nesta segunda-feira. Muitos seguravam cartazes acusando Netanyahu e Trump de promoverem um genocídio no enclave palestino.
Das 251 pessoas sequestradas em 7 de outubro de 2023 durante o ataque do Hamas em Israel, 49 continuam em cativeiro em Gaza, mas o Exército israelense acredita que 27 estão mortas. Desde o início da guerra, os mediadores negociaram duas tréguas temporárias dos combates.
Nas duas ocasiões, reféns foram libertados em troca de milhares de prisioneiros palestinos sob custódia israelense.
Os últimos esforços para negociar uma nova trégua fracassaram. O principal ponto de divergência é a rejeição de Israel à exigência do Hamas de um cessar-fogo duradouro.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP feito com base em dados oficiais israelenses. Mais de 57.523 palestinos morreram na ofensiva israelense em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, números que a ONU considera confiáveis.

