Sáb, 06 de Dezembro

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INVESTIGAÇÃO

'Abin paralela' tentou estabelecer vínculo de Moraes com delegado que prendeu Queiroz

Delegado é Osvaldo Nico, atual número 2 da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

'Abin paralela' tentou estabelecer vínculo de Moraes com delegado que prendeu Queiroz (foto)'Abin paralela' tentou estabelecer vínculo de Moraes com delegado que prendeu Queiroz (foto) - Foto: Reprodução/arquivo

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, foi alvo de agentes da "Abin paralela", que tentaram estabelecer uma relação entre ele e o delegado Osvaldo Nico, atual número 2 da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

O pedido para a elaboração de um dossiê ligando os dois ocorreu no mesmo dia em que Nico prendeu o ex-assessor Fabrício Queiroz, pivô do caso da ‘rachadinha’ no gabinete do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), - caso revelado pelo Estadão em dezembro de 2018.

Segundo a PF, o ex-presidente, que não foi indiciado por já responder pelo crime em outra ação, foi o principal beneficiado pelo esquema. Procurada, a defesa de Jair Bolsonaro ainda não se manifestou.

Queiroz foi preso em Atibaia (SP) em 18 de junho de 2020 na casa de Frederick Wassef, que à época atuava como advogado de Jair Bolsonaro (PL). Naquele dia, o então presidente da República defendeu Queiroz durante uma transmissão nas redes sociais e disse que a prisão foi "espetaculosa".

"Considerando a correlação temporal entre o desvio da atividade de inteligência para produção de dossiê e a ‘live’, todas em 18/06/2020. Tratava-se de ação destinada à produção de desinformação com o fito de neutralizar a investigação que envolvia o núcleo familiar, em verdadeira ação de contrainteligência", afirma o relatório da Polícia Federal cujo sigilo foi levantado por Moraes nesta quarta-feira, 18.

O dossiê foi solicitado por Marcelo Bormevet, ex-coordenador do Centro de Inteligência da Abin, ao militar do Exército Giancarlo Rodrigues, que estava cedido à agência. O documento produzido contém uma notícia publicada pela revista Veja em 2016 sobre uma operação policial contra torcidas organizadas. Moraes, à época secretário de Segurança Pública de São Paulo, aparece em uma foto ao lado de Nico, que participou da operação como delegado da Polícia Civil.

A PF afirma também que Rodrigues encaminhou outros dossiês sobre Moraes a Bormevet. Ele teria utilizado "sistema clandestino", pago em euro ou dólar, para realizar o monitoramento. O conteúdo dos demais dossiês não foi detalhado no relatório. Ao menos parte deles foi produzida em 2021, na mesma época em que o ministro do STF incluiu Bolsonaro no inquérito das fake news.

O relatório da Polícia Federal aponta também que Bormevet e Giancarlo trocaram mensagens pregando violência contra Moraes após o ministro afastar ,em agosto de 2021, o delegado responsável por investigar ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Tá ficando foda isso. Esse careca tá merecendo algo a mais", escreve o número de celular atribuído a Rodrigues no relatório. "Só 7.62", responde Bormevet, citando o calibre de um famoso modelo de fuzil. "Head shot", acrescenta o primeiro.

Em outra conversa, em 2022, Bormevet encaminha uma petição que reunia assinaturas pelo impeachment de Moraes. Após Rodrigues perguntar do que se tratava, o primeiro diz que ela era "melância". "Kkkkkkkk realmente acho que sou. Sou verde por fora e tenho a p….. vermelha", rebate o militar.

Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues foram indiciados pela PF pelos crimes de integrar organização criminosa, interceptação de comunicações de informática ou telemática sem autorização judicial, prevaricação, violação de sigilo funcional e peculato-desvio.


 

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