Após derrota para Heloísa Helena, aliados de Marina judicializam eleição da Rede Sustentabilidade
O secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac, foi eleito porta-voz do partido no último domingo; aliados da ministra alegam irregularidades no congresso
Após a derrota nas eleições internas da Rede Sustentabilidade, aliados da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, recorreram à Justiça para denunciar supostas irregularidades no 6º Congresso Nacional do partido.
O principal nome do grupo, Giovanni Mockus, foi derrotado pela ala liderada por Heloísa Helena.
Leia também
• Lula deve se reunir com líderes da Câmara em meio a desgaste com adesão a projeto de anistia do 8/1
• Lula fica de fora da lista dos mais influentes da revista Time
• Moraes é juiz com "poder excessivo" e STF deve exercer "moderação", diz The Economist
O novo porta-voz da legenda, eleito neste domingo (14), é o secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac.
Em nota assinada por Marina, Giovanni Mockus e Iaraci Dias, os aliados afirmam que seguirão adotando “todas as medidas cabíveis, no campo político e jurídico, para que essas denúncias sejam devidamente investigadas”.
Por um acordo interno que estabelece que a sigla seja comandada por uma dupla — um homem e uma mulher — Iaraci Dias foi indicada como porta-voz ao lado de Lamac.
Apesar da derrota geral, o grupo de Marina comemorou o resultado.
“Mesmo tendo sido arbitrariamente cancelados cerca de 43% dos nossos delegados, não conseguiram evitar que conquistássemos uma das duas cadeiras de porta-vozes”, diz a nota.
O período que antecedeu o congresso foi marcado por tensão. A ala ligada à ministra chegou a acionar a Justiça para tentar suspender a eleição, mas a liminar foi derrubada na quinta-feira anterior ao evento, poucas horas antes de seu início.
Na votação de domingo, a chapa "Rede pela Base", encabeçada por Lamac, conquistou 76% dos votos dos delegados. Já a chapa “Rede Vive”, apoiada por Marina, ficou com 24%.
Nos últimos meses, a Rede Sustentabilidade enfrentou disputas judiciais em pelo menos cinco estados — Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo — onde aliados de Marina denunciaram supostas irregularidades, como filiações feitas sem o consentimento dos envolvidos.
Essa é a principal justificativa apresentada pelo grupo para o resultado desfavorável.
Na Bahia, ocorreu o episódio mais emblemático do conflito interno: duas convenções paralelas foram realizadas.
A ala de Marina ocupou o espaço originalmente reservado, enquanto o grupo de Heloísa se reuniu no saguão do hotel.
Durante o impasse, um aliado de Heloísa chegou a incitar vaias contra Marina, que não estava presente.
A disputa entre Marina Silva e Heloísa Helena evidencia uma cisão histórica no diretório nacional da Rede.
As divergências entre as duas lideranças remontam a 2022 e refletem visões distintas sobre os rumos ideológicos do partido.
Marina defende uma linha “sustentabilista progressista”, que busca conciliar preservação ambiental com a lógica do mercado.
Heloísa, por sua vez, é defensora do “ecossocialismo”, que prega a transformação estrutural do sistema econômico como caminho para a justiça ambiental.
Outro ponto de tensão é a relação com o governo federal. Marina integra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministra do Meio Ambiente.
Já Heloísa mantém uma postura crítica ao PT desde 2003, quando foi expulsa do partido por se opor à reforma da Previdência no primeiro mandato de Lula.
Fundada por Marina Silva em 2013, a Rede surgiu como uma alternativa política que não se alinhava nem ao governo nem à oposição.
Em 2014, Marina disputou a Presidência pelo PSB, e após ficar fora do segundo turno, apoiou Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT) — decisão que ainda hoje é alvo de críticas internas.
A chegada de Heloísa Helena ao partido, em 2015, e sua eleição como porta-voz em 2021 marcaram a ascensão da ala mais à esquerda da legenda. A disputa sobre os rumos da política ambiental — tema central da sigla — tem ampliado o racha interno, agora cristalizado com a nova derrota do grupo liderado por Marina.

