Cid diz em delação que Braga Netto cogitou bancar plano golpista com dinheiro do PL
Depoimentos do ex-ajudante de ordens tiveram o sigilo retirado nesta quarta-feira pelo ministro Alexandre de Moraes
Em seu acordo de delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, relatou que o general Braga Netto cogitou financiar o plano golpista com recursos do Partido Liberal (PL) - legenda a qual ele e Bolsonaro faziam parte. Essa informação consta do depoimento de Cid prestado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, cujo sigilo judicial foi retirado nesta quarta-feira.
"O colaborador procurou o General Braga Netto informando dessa solicitação e recebeu como reposta a indicação de que procurasse o PL - Partido Liberal para obter o dinheiro necessário para a operação", diz a transcrição do depoimento.
Em sua audiência com o ministro do Supremo, Cid deu detalhes sobre falas supostamente ditas por Braga Netto. Segundo o tenente-coronel, os militares envolvidos no movimento para reverter o resultado eleitoral estavam "precisando de dinheiro".
"Aí o general deu a ideia: Peça para eles fazerem uma solicitação, o que eles precisam inicialmente e nós vamos ver se o partido consegue bancar alguma coisa", afirmou Cid a Moraes.
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Depois, o ex-ajudante de ordens recebeu um documento que listava estimativa de gastos com "hotel, carro, passagem aérea" para a suposta tentativa de golpe.
"O valor de cem mil, inicialmente, fui eu que falei, assim, até de maneira brincando. né? Não tinha nem ideia de gasto. E o General Braga Netto me orientou a perguntar se o partido poderia custear isso aí. Aí eu fui conversar com o coronel lá que era responsável pelo partido. Eu não me recordo p nome dele. Inclusive, ele viu o documento", explicou Cid.
Segundo o militar, o "coronel" do PL lhe avisou que o partido não poderia apoiar o movimento nem com manifestantes ou material.
"Aí eu voltei no General Braga Netto e ele falou: "Vou dar um jeito, vou tentar conseguir por outros caminhos".
A alternativa foi arrecadar dinheiro com o "pessoal do agro", conforme descreveu Cid. "Então, o General Braga Netto entregou e ele comentou que era alguém do agro que tinha dado. Mas eu não sei o nome de quem foi, quem passou pra ele o dinheiro. A gente sabia que o pessoal do agro tava sempre ali, trazendo manifestante e tudo. Teve essa parte do financiamento pelo general Braga Netto", prosseguiu.
Segundo as investigações, a busca por financiamento para a trama golpista, que não se concretizou, ocorreu após uma reunião entre Cid, militares de Forças Especiais e o general Braga Netto, que cedeu o seu apartamento para o encontro ocorrido no dia 12 de novembro de 2022.
Cid afirmou que não participou de todas as discussões naquele dia, porque Braga Netto lhe pediu para se retirar como uma estratégia para não envolver Bolsonaro no plano.
"Quando entrou no nível das ideias, o general Braga Netto interrompeu e falou assim: 'Não, o Cid não pode participar, tira o Cid porque ele está muito próximo ao Bolsonaro", afirmou Cid.
Até então, o tenente-coronel havia ouvido os militares discutirem sobre a necessidade de "fazer alguma coisa" para provocar uma "mobilização de massa" e, assim, convencer Exército a "fazer uma coisa", como o decreto de um estado de sítio.
"E aí começaram a surgir algumas ideias: não, vamos mobilizar os caminhoneiros, parar o país; não, vamos bloquear estrada", detalhou Cid.
Denúncia
Nesta terça-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro Braga Netto e mais 32 pessoas por participação em uma trama golpista para mantê-lo no poder após ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
A denúncia foi oferecida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, e será apreciada pela Primeira Turma da Corte após ser liberada pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.
De acordo com a acusação, Bolsonaro cometeu os crimes de organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do estado democrático de direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

