Como estão os acusados de mandar matar Marielle e de criar obstáculos às investigações, segundo a PF
A única sobrevivente do crime cobra celeridade do julgamento no STF e da ação contra o deputado federal Chiquinho Brazão na Câmara dos Deputados
Um ano após a prisão dos acusados de serem os mandantes dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, o julgamento do caso entrou na reta final no Supremo Tribunal Federal (STF). Os três seguem presos em presídios federais distintos. O deputado federal Chiquinho Brazão e seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, continuam exercendo seus cargos. O outro acusado é o ex-chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa. Ainda há outros envolvidos no processo, acusados de terem colaborado com o plano ou de terem atrapalhado as investigações dos crimes.
Por manterem seus cargos, os irmãos Brazão já consumiram R$ 2,2 milhões dos cofres públicos com a manutenção do gabinete do deputado federal e o pagamento de salários à dupla. Eles são acusados por Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle e Anderson, de terem mandado matar a vereadora. De acordo com o Portal da Transparência da Câmara, Chiquinho mantém o imóvel funcional e seu gabinete, com 28 assessores e assistentes. Apenas entre fevereiro e novembro de 2024, o gabinete consumiu R$ 1,2 milhão. Já o parlamentar recebeu R$ 522 mil de salário bruto nos últimos 12 meses.
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No mesmo período, Domingos Brazão também manteve seus vencimentos no TCE, somando um total de R$ 478 mil brutos. Segundo o tribunal, os 19 assessores do conselheiro foram realocados para outros gabinetes, e qualquer medida contra Domingos só poderá ser tomada após seu julgamento.
Procurada, a assessoria do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, não informou se já foi marcada uma data para a votação da cassação em Plenário. Para cassar o mandato, são necessários os votos de pelo menos 257 deputados (maioria absoluta), em votação aberta e nominal.
Segundo as investigações, o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa auxiliou os irmãos Brazão no planejamento dos assassinatos e também, por isso, é considerado um dos mandantes. Marcelo Ferreira, que defende o delegado, informou que o delegado está com o salário e todos os bens bloqueados desde sua prisão, mas que fez uma petição em fevereiro pedindo a liberação.
Como estão os outros acusados de envolvimentos no crime:
Acusado de monitorar Marielle, o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira está preso e responde a um processo de exclusão da corporação no Tribunal de Justiça. O Conselho de Justificação da PM já decidiu por sua demissão, que agora depende de aval do Judiciário. O salário do oficial é de R$ 17.327,88.
Major Ronald Paulo Alves Pereira assiste audiência da Penitenciária Federal do Mato Grosso — Foto: ReproduçãoRobson Calixto Fonseca, o Peixe, acusado de fornecer a arma do crime, foi reformado da PM em 2007 por motivos de saúde e recebe, atualmente, R$ 5.233,88 por mês. Segundo a corporação, caso seja condenado no processo criminal, ele poderá ser excluído definitivamente após responder a um Processo Administrativo Disciplinar ou por meio de medida punitiva acessória prevista na sentença condenatória.
Citados na ação, o delegado Giniton Lages, que comandou o início das investigações, Erika Andrade, esposa de Rivaldo Barbosa, e o comissário de polícia Marco Antônio de Barros Pinto não podem se ausentar do Rio e precisam se apresentar à Justiça periodicamente. Atualmente, os três usam tornozeleiras eletrônicas. Giniton e Marco Antonio foram indiciados pela Polícia Federal pelo crime de obstrução à investigação, mas a Procuradoria-Geral da República não os denunciou até hoje.
Todos os acusados na ação negam envolvimento nos assassinatos.
A única vítima sobrevivente do crime, Fernanda Chaves, cobra celeridade no julgamento no STF e no processo contra Chiquinho Brazão na Câmara dos Deputados:
— Já passamos por um extenso período de audiências de instrução, testemunhas de acusação e defesa já foram ouvidas, e tenho esperança de que isso se encaminhe ainda para este ano. A única coisa que falta é o presidente da Câmara pautar a votação no plenário. Arthur Lira sentou em cima. E, até agora, o novo presidente, Hugo Motta, não se manifestou. Eu, que só Deus sabe como saí daquele carro metralhado, me sinto afrontada quando vejo o nome dele constar entre os deputados da Câmara Federal.

