Sáb, 06 de Dezembro

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RESTRIÇÕES

Em silêncio à espera de Moraes, Bolsonaro deixa críticas ao STF a cargo de filho e aliados

Ex-presidente recebeu ao menos sete políticos de seu grupo na sede do PL nesta manhã, que assumiram as rédeas das declarações

Ex-presidente Jair Bolsonaro após colocar tornozeleira eletrônicaEx-presidente Jair Bolsonaro após colocar tornozeleira eletrônica - Foto: Evaristo Sa/AFP

Recluso e sob risco de novas punições do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem evitado declarações públicas, mas mantém intensa movimentação política nos bastidores. Nesta quarta-feira (23), ao menos sete aliados circularam pela sede do PL, em Brasília, onde Bolsonaro deve passar o dia inteiro.

Coube a eles vocalizar críticas ao ministro Alexandre de Moraes e ao próprio STF. Seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), protocolou um novo pedido de impeachment contra o magistrado.

Segundo interlocutores, Bolsonaro “está bem, sem medo” e tem recebido visitas desde segunda-feira. A expectativa é que ele permaneça no local até o início da noite, quando, por ordem judicial, deve retornar para casa. O almoço, mais uma vez, foi servido por um buffet na própria sede do partido.

Sem poder se manifestar diretamente, ao menos até que Moraes se pronuncie sobre os limites das medidas cautelares impostas, Bolsonaro tem terceirizado o discurso a parlamentares e lideranças bolsonaristas que passaram a despachar ao seu lado.

— Esse cara (Moraes) é um pau mandado do sistema, está trabalhando para isolar Jair Bolsonaro. Não tem base jurídica nenhuma. Ali não se salva quase ninguém, salvo o discernimento de Fux, André Mendonça e Nunes Marques — disse o senador Magno Malta (PL-ES), que também esteve no local.

Entre os visitantes desta quarta-feira estavam os deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Evair de Melo (PP-ES), Delegado Caveira (PL-AL), Domingos Sávio (PL-MG), o vereador Jair Renan Bolsonaro (PL-SC) e o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG). De Sávio veio uma das declarações mais incisivas:

— Moraes precisa ir para o divã. Ele censura todo mundo. Não vai me calar, mas pode mandar me prender. A democracia liberal não se sustenta assim — afirmou.

Ele evitou relatar conversas privadas com Bolsonaro:

— Não posso dizer o que falei com ele porque ele pode ser preso se eu externar a opinião.

A aliados, Bolsonaro tem repetido que está tranquilo e confiante de que não cometeu crime. O ambiente no PL é descrito como semelhante a outros momentos de pressão: discurso afinado, lealdade mútua e indignação compartilhada.

— Está como sempre esteve. Estamos seguros de que ele não cometeu crime nenhum, mas não há mais segurança jurídica de que não haverá novas sanções — resumiu um interlocutor próximo.

A tensão diminuiu com a demora de Moraes em se manifestar sobre o suposto descumprimento das medidas cautelares. Até a noite de terça-feira, aliados temiam que uma ordem de prisão preventiva fosse decretada nas primeiras horas do dia, o que não ocorreu. Agora, a expectativa é que o ministro mantenha apenas as sanções já impostas.

Pedido de impeachment
O senador Flávio Bolsonaro protocolou um novo pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, sob argumento de que o ministro teria abandonado sua posição de julgador imparcial e assumido protagonismo político ao impor medidas contra o ex-presidente.

Cabe ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), decidir se dará andamento ao processo.

“O Ministro relator abandona sua posição constitucional de julgador imparcial para assumir um protagonismo político absolutamente incompatível com o cargo que ocupa. A decisão de medidas cautelares ao ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro extrapola em muito os limites que regem o exercício da jurisdição penal. Trata-se de uma decisão com nítida carga político-partidária [...] em evidente contexto de perseguição ideológica”, afirma o pedido.

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