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Política

Evangélico, ministro da AGU tenta diálogo com segmento, mas enfrenta barreira ideológica e crítica

Líderes do segmento veem a iniciativa do ministro Jorge Messias como um esforço pessoal

O advogado-geral da União (AGU), Jorge MessiasO advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Responsável por elaborar a ação que deverá ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de manter o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o ministro Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) tem dividido o tempo em outra frente estratégica para o governo: a aproximação com evangélicos. Assim como na via jurídica, que terá forte oposição no Congresso, responsável por derrubar o decreto que elevou o tributo, a articulação com os religiosos também enfrenta resistências.

Líderes do segmento veem a iniciativa do chefe da AGU como um esforço pessoal e criticam a falta de empenho da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Messias vem participando de eventos públicos voltados aos evangélicos, como a Marcha para Jesus, se reunindo com pastores em encontros e investindo em publicações nas redes sociais. Ele recebeu este ano representantes de diferentes correntes do protestantismo, como as igrejas Assembleia de Deus, Batista e Presbiteriana.

Também integrou campanhas publicitárias do PT voltadas ao público cristão. Em maio, protagonizou uma peça que associava valores familiares a iniciativas do governo, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Perfil engajado
Aos domingos, Messias publica vídeos curtos em que lê salmos da Bíblia e costuma desejar “uma semana muito abençoada”. Membro da Igreja Batista, o titular da AGU tem sido citado com frequência em iniciativas voltadas ao segmento, como o curso Fé e Democracia para Evangélicos e Evangélicas, promovido pelo PT entre maio e junho. Messias foi mencionado em quase todas as aulas como uma figura-chave na construção de pontes com o setor religioso. Procurado, o ministro não se manifestou.

Desde o início do terceiro mandato, o presidente Lula tem buscado melhorar a interlocução com o segmento evangélico, um dos mais resistentes ao governo. Determinou campanhas publicitárias voltadas ao público cristão e acionou auxiliares com trânsito entre os religiosos para intensificar o diálogo. Ainda assim, críticas internas apontam que o presidente continua distante das lideranças mais próximas das bases — justamente as que mais influenciam os fiéis.

De acordo com o Censo de 2022, os evangélicos representam 26,9% da população brasileira — cerca de 56 milhões de pessoas. Nas eleições de 2018 e 2022, 80% deles indicaram voto em Jair Bolsonaro, segundo o Datafolha. Hoje, de acordo com levantamento da Quaest, a taxa de desaprovação ao governo entre esse público chega a 66%, quase dez pontos acima da média nacional, de 57%.

A atuação de Messias é parte da estratégia, mas, até o momento, líderes evangélicos veem falta de conexão das ações do ministro com o tom do governo em geral.

— O governo sabe da necessidade de abrir diálogo com os evangélicos. Mas há uma dificuldade muito grande, em função de pautas que são contrárias aos princípios bíblicos. Uma das maiores resistências é a postura do governo em relação a Israel — afirma o apóstolo Estevam Hernandes, idealizador da Marcha para Jesus e líder da Igreja Renascer em Cristo.

Tensões ideológicas

A posição é corroborada pelo pastor Robson Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra:

— O Messias é evangélico de longa data, mas não resolve nada para Lula. É um posicionamento individual.

Alguns episódios também contribuíram para o distanciamento. No ano passado, a Receita Federal suspendeu a isenção tributária sobre os salários de pastores, o que gerou forte reação. A AGU integrou o grupo criado para debater o tema, junto com o Tribunal de Contas da União, mas até hoje não houve avanço.

— Messias busca minimizar as tensões ideológicas e focar em temas de interesse comum, como geração de renda e desenvolvimento econômico, visando atrair apoio do segmento. Isso é muito importante — pondera o pastor Cesário Silva, integrante do PT e do Conselho de Participação Social, ligado à Secretaria-Geral da Presidência.

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