Flávio Dino foi monitorado por estrutura clandestina da Abin para embaraçar investigação, diz PF
O acesso à conversa foi possível após o afastamento do sigilo telemático de Moretti, autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes
Responsável por determinar a investigação do caso da Abin Paralela quando ocupava o cargo de ministro da Justiça no governo Lula, o atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino também foi alvo da estrutura clandestina, segundo mensagens interceptadas pela Polícia Federal.
No relatório encaminhado ao STF, a PF destaca um diálogo ocorrido em outubro de 2023 entre dois integrantes da cúpula da Abin: Alessandro Moretti, então diretor-adjunto da agência, e Marcelo Furtado, que ocupava o cargo de diretor do Departamento de Operações. Na conversa, Furtado encaminha dados de um contrato de aquisição de uma ferramenta de inteligência pelo governo do Maranhão em 2017, período em que Dino era governador.
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— Opa. Boa tarde. Dr. Achei isso do governo Dino no Maranhão. Queria ver se pode ser o First Mile ou outra ferramenta da mesma empresa — escreve Furtado, ao compartilhar os dados do contrato. Moretti responde: — Vou dar uma olhada. Te aviso.
O acesso à conversa foi possível após o afastamento do sigilo telemático de Moretti, autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes. Segundo a PF, o objetivo do grupo era causar embaraço nas investigações em curso.
“O contexto converge com o cenário já delineado, no qual havia um ambiente que permitiu a MARCELO FURTADO MARTINS DE PAULA, investigado nos presentes autos, encaminhar um fato que pudesse ser usado politicamente contra do então Ministro da Justiça, FLÁVIO DINO DE CASTRO E COSTA, para causar embaraço à apuração”, diz trecho do relatório.
Ainda segundo o relatório, a mensagem de Marcelo Furtado Martins de Paula a Alessandro Moretti, buscando informações sobre um contrato do governo de Flávio Dino no Maranhão para associá-lo a uma ferramenta similar, “é a prova cabal da tentativa de criar um fato político para embaraçar a apuração”. “A aquiescência de Moretti ("Vou dar uma olhada") demonstra seu envolvimento direto na manobra”. Os dois servidores foram afastados dos cargos no início do ano passado por decisão de Moraes.

