'Jogo Político': Mateus Simões, vice de Zema, diz que MG 'endireitou' e que o lulopetismo não vence
Newsletter semanal do jornalista Thiago Prado traz entrevista com o pré-candidato de direita ao governo mineiro, que vai se filiar ao PSD de Rodrigo Pacheco, dando um nó no palanque do presidente Lula no estado
Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO e nessa newsletter você encontra análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político.
Na próxima segunda-feira, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, dará um nó no palanque do ex-presidente Lula em Minas Gerais com a filiação ao PSD do vice-governador, Mateus Simões, pré-candidato à sucessão de Romeu Zema (Novo). O movimento impede o lançamento do senador Rodrigo Pacheco pelo partido, deixando o petista sem opção de nome no estado que costuma refletir os resultados da eleição para presidente da República.
Em conversa com a newsletter Jogo Político, Simões descreve os seus próximos movimentos para fortalecer ainda mais o desempenho da direita nas 853 cidades de Minas: está amarrando apoios de partidos como PP e União Brasil, que poderiam abrigar Pacheco, caso ele aceite a ideia de Lula e venha candidato; além de ter aberto conversas com o senador Cleitinho (Republicanos), hoje líder nas pesquisas, na tentativa de fazê-lo desistir da disputa em 2026.
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A seguir, os principais trechos da conversa:
Começando com duas perguntas: por que trocar o Novo pelo PSD? E há incômodo com o fato de o partido ter espaços no governo Lula?
Separo o Mateus em dois. O de 2016, quando entrei na política, era mais programático. Depois que fui para o Executivo passei a ser pragmático. O PSD lançou o Alexandre Kalil contra a gente em 2022, mas quando acabou a eleição eu chamei o partido para conversar, e eles viraram a maior legenda da nossa base. Ir para o partido vai somar na formação de uma coalizão para ganhar em 2026. Sei que há o PSD dos ministérios, do Alexandre Silveira, do Rodrigo Pacheco e do senador Otto Alencar. Mas eu vou trabalhar para cada vez mais sermos o PSD do Ratinho Jr.
O senhor está entrando em um partido que, quando fundado por Gilberto Kassab, ele se recusou a defini-lo como de esquerda, direita ou centro. O Mateus, afinal, é de esquerda, direita ou centro?
Eu sou um “problem solver”, ou seja, um resolvedor de problemas que acredita no liberalismo econômico e em um Estado menor. Portanto, me considero de direita ou centro-direita. No entanto, não me acho radical. Sei conversar com a esquerda e, apesar de ser evangélico, não sou conservador a ponto de querer impor o que penso para os outros. Na verdade, é engraçado como essas nomenclaturas variam com o tempo. Na época em que o FH era considerado neoliberal pela esquerda, eu me considerava à direita dele.
Dá para dizer que o Mateus é bolsonarista?
Não sou, embora tenha votado e diga que votaria novamente se ele pudesse ser candidato. Bolsonaro deveria estar solto, sou a favor da anistia. Aliás, quero o apoio dele para governador no ano que vem.
Mas isso não é ser bolsonarista?
Não, porque não me submeto às decisões dele. Embora admita a condução da agenda econômica no governo dele, eu não concordei com a postura durante a pandemia. Mesmo agora com a PEC da Blindagem que o PL votou a favor; eu fui contra.
O senador Cleitinho (Republicanos) é hoje líder nas pesquisas em Minas. Ele não vai atrapalhar o seu projeto de direita no estado?
Cleitinho não é um candidato de esquerda, não? Ele já chutou foto do Bolsonaro, defende o fim da jornada 6x1, não quer a responsabilidade fiscal e é a favor dos movimentos sindicais em Minas. Ele é um candidato popular, mas não é da direita. É, no máximo, de alguns bolsonaristas.
Mas o senhor não está tentando tirá-lo da disputa?
Conversei ontem com o Cleitinho sobre a necessidade de unificarmos. Estamos sempre conversando, seja pessoalmente ou por telefone, ele adora uma mensagem de áudio por WhatsApp. Ele está naquela posição confortável de meio de mandato em que não tem nada a perder se concorrer. A questão é o risco que temos de deixar a esquerda ir para um segundo turno. Estou conversando com os partidos, inclusive o Republicanos, que é o dele. Tenho falado muito com o Nikolas Ferreira (PL)... Agora, se ele quiser ser candidato de si mesmo, aí vai ser difícil entrar na cabeça dele e mudá-la.
Nikolas vai apoiar o senhor ou o Cleitinho?
Tenho convicção que as convergências farão o Nikolas me apoiar. Ele é um fenômeno e será o político mais importante da direita do Brasil um dia.
E do lado de lá do ringue, quem vem do campo lulista para te enfrentar?
O lulopetismo tem um problema por aqui. Eles jamais conseguirão eleger um candidato sozinho por aqui. Minas Gerais endireitou. Eles precisam de um candidato de centro e por isso especularam o Rodrigo Pacheco. A questão é que pelo PSD não será, e pelo União Brasil e PP como estão especulando também não será viável porque esses partidos já fecharam apoio a mim. O que resta? Alexandre Kalil? Lula já trabalhou com ele em 2022 e sabe como foi. Na medida que o Pacheco diz que não quer, eles começam a procurar outros nomes como o Tadeuzinho, presidente da Assembleia Legislativa de Minas.
Zema ser o vice de Tarcísio de Freitas em uma candidatura ao Planalto em 2026 é uma hipótese?
Se Tarcísio for candidato, há chance de unificação, sim.
Recomendo
"Bartleby e eu"
Aos 93 anos, o escritor e jornalista Gay Talese narra os bastidores das matérias que marcaram a sua carreira. Por que o título do livro? Trata-se de uma referência ao conto "Bartleby, o escriturário", de Herman Melville, a história de um funcionário que diariamente executa um monótono trabalho em um escritório de advocacia americano. É esse tipo de personagem que Talese sempre apreciou perfilar, as figuras anônimas que, em situações normais, não rendem manchetes ou grandes artigos.
Aqui vão dois trechos saborosos do livro. O primeiro, um recado a todos aqueles que ironizam o trabalho dos jornalistas da área esportiva. Sim, Talese passou pela editoria nos anos 50:
"Quando voltei para o Times no meio do verão de 1956, fui promovido de mensageiro a repórter do departamento de esportes. Teria preferido escrever notícias em geral, mas a única vaga era para esportes, por isso aceitei o cargo imediatamente, mesmo sabendo que isso também poderia me marcar como membro do “departamento de brinquedo” do jornal. Essa referência depreciativa ao jornalismo esportivo veio de Jimmy Cannon, um colunista de esportes do New York Post, mas deixava de mencionar que muitos autores ilustres começaram a carreira escrevendo sobre o assunto. (...). Eu sempre fora influenciado e inspirado por textos de autores literários que versavam sobre atividades esportivas. Havia Ernest Hemingway sobre tourada e pesca, e John O'Hara sobre o esotérico jogo do padel".
Ainda que os perfis de figuras anônimas tenham notabilizado Talese, são os bastidores da histórica reportagem 'Frank Sinatra está resfriado" sobre o cantor mais popular de todos os tempos que ocupam as páginas mais interessantes de "Bartleby e eu". O escritor mostra o passo a passo da apuração: como o assessor de imprensa de Sinatra impediu que o cantor e fontes próximas dessem entrevistas; e as técnicas de apuração de um jornalista que não conseguiu falar com o alvo da sua matéria - apenas observá-lo à distância em bares e shows. Eis o segundo trecho divertido sobre como Talese registra anotações durante uma apuração em tempo real:
"Pensamentos zumbiam na minha cabeça e eu queria anotá-los antes que sumissem, por isso deixei a área do bar e fui para o banheiro masculino. Sempre que desejo fazer anotações em particular, sem chamar a atenção para minha pessoa como repórter, o que muitas vezes altera a relação entre observador e observado, eu me isolo em lugares como um banheiro, em geral atrás da porta fechada de uma das cabines".
É leitura obrigatória para jornalistas a longa reportagem escrita por Talese, basta buscar no Google. Sinatra de fato estava resfriado durante a apuração, algo que o deixava extremamente irritado aos olhos do repórter. Para fechar, um lindo trecho do perfil:
"Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem combustível - só que pior. Porque um resfriado comum despoja Sinatra de uma joia que não dá para pôr no seguro - a voz dele -, mina as bases de sua confiança, e não apenas afeta seu estado psicológico, como parece provocar também uma espécie de contaminação psicossomática que alcançam dezenas de pessoas que trabalham com ele".

