Lula afirma que não assistirá a julgamento de Bolsonaro: 'Tenho coisa melhor para fazer'
Petista também questionou pleito da oposição por anistia; ex-presidente será julgado a partir da próxima terça-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF), na ação penal que apura a trama golpista
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou, nesta sexta-feira, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "tem que provar sua inocência" ao invés de pleitear a anistia.
Em entrevista concedida à Rádio Itatiaia, quando questionado se assistirá o julgamento de Bolsonaro na ação penal que apura a trama golpista, o petista afirmou ter "coisa melhor para fazer".
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— Não vou assistir ao julgamento. Tenho coisa melhor para fazer. Eu não sei como termina (o julgamento). Eu acho que ele vai ser julgado com base nos autos — disse Lula. — Se ele cometeu crime, vai ser punido. Se ele não cometeu, será absolvido, e a vida continua. É assim que as coisas devem funcionar no Brasil.
O presidente abordou, ainda, a busca dos bolsonaristas por uma anistia "ampla, geral e irrestrita" ao ex-presidente e aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. O pleito também tem sido utilizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como moeda de troca para a revogação das sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.
— Ele (Bolsonaro) não foi nem julgado, já está querendo anistia? Ele está dizendo que já é culpado e quer ser perdoado? Não, primeiro ele tem que provar a inocência. Ele que prove que não tinha caminhão com bomba no aeroporto de Brasília, ele que prove que não tinha plano para matar o Lula, o Alckmin e o Moraes — analisou.
Na quinta-feira, Lula já havia defendido o julgamento do núcleo central de reús da ação penal da trama golpista no Supremo. De acordo com o presidente, caso o ataque ao Capitólio americano de janeiro de 2021 tivesse ocorrido no Brasil, o presidente americano Donald Trump seria réu na Justiça brasileira.
— Eu disse ao presidente Trump, numa resposta a ele, que se tivesse acontecido no Brasil o que aconteceu no Capitólio, ele também estaria sendo julgado aqui. Porque nós não somos tão grandes, não somos tão ricos, não temos tantas armas, tanto dinheiro, mas aprendemos que somos um povo orgulhoso, e quem manda no Brasil é o povo brasileiro e mais ninguém.
'É necessário cassar'
Ainda durante a entrevista concedida à Itatiaia, Lula afirmou que, pelo fato de fomentar o tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil, Eduardo Bolsonaro não deveria exercer seu mandato do exterior.
— Eu já falei com o presidente (da Câmara) Hugo Motta, já falei com vários deputados. É extremamente necessário cassar o Eduardo Bolsonaro, porque ele vai passar para a história como o maior traidor da história desse país. Aliás, um dos maiores traidores da pátria no mundo — enfatizou.
Na noite desta quinta-feira, Eduardo enviou um ofício ao presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) em que pede para exercer o mandato mesmo estando em solo americano. Se não voltar ao Brasil, ele será cassado caso falte mais de um terço das sessões do ano.
Na semana passada, o parlamentar e seu pai foram indiciados pela Polícia Federal (PF) em um outro processo, pelos crimes de coação no curso do processo e abolição violenta ao Estado Democrático de Direito por conta de supostas articulações para intensificar as sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.
Big techs
Além disso, Lula também afirmou que Eduardo utiliza argumentos equivocados para fomentar a aplicação de sanções ao Brasil impostas por Trump.
Segundo o petista, as justificativas utilizadas pelo mandatário americano são "totalmente inverídicas", como na questão que envolve a regulação das big techs no país, em que os EUA alegam cerceamento à liberdade de expressão.
— É importante o presidente americano compreender que o Brasil tem uma legislação, tem uma Constituição. Todas as empresas, de qualquer nacionalidade, que estejam implantadas no Brasil, devem cumprir a legislação. Nós vamos regular as bigtechs, porque nós queremos defender as nossas crianças — disse.
O presidente afirmou que, na semana que vem, o Governo Federal dará entrada, no Congresso Nacional, com a proposta para "regular definitivamente as big techs”.
Ele mencionou que o parlamento já "fez uma parte" com a aprovação do projeto de lei que combate a chamada "adultização" de crianças e adolescentes nas redes sociais na última quarta-feira, que agora aguarda sanção presidencial.
Conforme afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o objetivo do governo com a regulação das big techs é estabelecer medidas que evitem abusos contra os consumidores.
O debate acontece ao mesmo tempo em que internacionalmente se discute a regulamentação das grandes empresas de tecnologia. Tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos têm procurado ampliar a fiscalização sobre o uso de dados pessoais, o espalhamento de notícias falsas e os efeitos econômicos dessas plataformas.

