Nos EUA, Ramagem interagia com bolsonaristas como se estivesse no Brasil
Gabinete foi orientado a seguir trabalhando. Precedente de Eduardo Bolsonaro foi citado para que funcionários não deixem de receber salários
Foragido nos Estados Unidos, para onde foi sem avisar nem sequer aliados, o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) manteve contato regular com correligionários e membros do seu gabinete nas duas semanas que antecederam a descoberta do seu paradeiro como se estivesse em Brasília.
Ramagem, entretanto, estava fora do Brasil há pelo menos um mês. Registros em aplicativos de conversa aos quais o jornal O Globo teve acesso mostram que o parlamentar chegou a combinar um encontro com uma liderança do PL nas horas que antecederam a divulgação das imagens em um condomínio em Miami pelo portal PlatôBR, revelando que ele estava fora do Brasil, descumprindo a proibição da Justiça.
Entre funcionários do seu gabinete na semana que antecedeu a reportagem, o quadro se repete: Ramagem teve contatos breves, deixando claro que estava em Brasília, onde estaria sob cuidados médicos.
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Antes de viajar aos EUA, Ramagem apresentou um atestado psiquiátrico à Câmara. Ele alegou ansiedade e pediu afastamento temporário. Para pessoas próximas, o deputado teria se valido da tática para não levantar suspeitas da sua fuga.
Nesta segunda, os funcionários que trabalham no gabinete de Ramagem foram orientados por um aliado do parlamentar a seguirem trabalhando normalmente nas suas funções legislativas, para que não haja contestações aos direitos a salários e benefícios. O precedente adotado no caso do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi citado: na ocasião, embora os salários de Eduardo tenham sido bloqueados por ordem judicial, os secretários parlamentares não sofreram restrição semelhante, já que Eduardo manteve seu mandato.
Deputados do PL dizem que, no mesmo dia em que fez a recomendação chegar aos seus funcionários, Ramagem fez uma série de videochamadas para colegas da bancada para se desculpar por tê-los despistado sobre seu paradeiro.
Em um vídeo publicado nas suas redes sociais, Ramagem chegou a dizer que continuaria a exercer sua função parlamentar dos Estados Unidos. Na gravação, ele também disse que está com situação "regular" no país e que, caso o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), queira pedir sua extradição, ele deverá enviar o caso para a análise do governo americano.
"Eu estou regular, eu posso sim continuar minha atuação parlamentar mesmo à distância, como vários fazem também. Estou respaldado na Constituição, nas leis e no regimento interno da Câmara, e eu tenho certeza de que os meus eleitores apoiam a minha atuação", disse. "Eu não vim para cá para me esconder, mas para trabalhar pelo Brasil como eu puder".
Providências para extradição
Na semana passada, após ser informado da saída do parlamentar do país, o magistrado determinou a prisão preventiva dele. Nesta terça, em decisão monocrática, Moraes determinou que Ramagem seja preso para começar a cumprir a pena de 16 anos, um mês e 15 dias de reclusão à qual foi condenado no processo da trama golpista. Neste despacho, o ministro pediu que a Polícia Federal tome providências para extraditar o parlamentar.
"Considerando que o réu (Ramagem) encontra-se foragido e fora do território nacional, determino a expedição do mandado de prisão e inserção no Banco Nacional do Monitoramento de Prisões (BNMP)", diz trecho da decisão de Moraes. O ministro também solicitou que a PF seja oficiada "para adoção das providências cabíveis" para a extradição de Ramagem dos Estados Unidos ao Brasil.
O deputado foi condenado em razão de sua atuação no governo Bolsonaro como diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele é um dos oito réus do chamado núcleo central da trama golpista. Nesta terça-feira, Moraes decretou o trânsito em julgado (que marca o fim do processo) e o consequente início do cumprimento das penas também para o ex-presidente Jair Bolsonaro, os ministros Anderson Torres (Justiça), Auguto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), além do almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha.
Em uma entrevista a um blogueiro bolsonarista, Ramagem afirmou que está seguro nos EUA com a "anuência do governo americano" e que deixou o Brasil para que suas filhas não o vissem ser preso.
Como resposta à fuga de Ramagem, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), limitou nesta terça-feira a atuação remota de parlamentares que estejam fora do país. Em edição extra do Diário da Câmara Motta acolheu integralmente um parecer da Secretaria-Geral da Mesa (SGM) que proíbe deputados no exterior de registrar presença ou votar pelo Infoleg, salvo quando estiverem em missão oficial autorizada.
O ofício reforça que o mandato parlamentar é, por definição, presencial, e que a participação remota não pode ser usada como atalho para quem deixou o território nacional sem autorização da Casa. A SGM ressalta ainda que a licença médica, u

