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Pedidos no WhatsApp e relatos de pressão por apoio na reta final da eleição da bancada evangélica

Otoni Paula (MDB-RJ) e Gilberto Nascimento (PSD-SP) enviaram mensagens gravadas aos parlamentares que compõem a frente

Deputados Gilberto Nascimento e Otoni de PaulaDeputados Gilberto Nascimento e Otoni de Paula - Foto: reprodução/Câmara dos Deputados

A eleição inédita para a presidência da bancada evangélica, marcada para às 17h desta terça-feira, ganhou um novo capítulo a poucas horas da votação.

Principais candidatos na disputa e também membros da Assembleia de Deus de Madureira, Otoni de Paula (MDB-RJ) e Gilberto Nascimento (PSD-SP) dispararam vídeos pelo WhatsApp aos colegas em busca de votos, e já causaram mal-estar e irritação em alguns parlamentares.

Uma lista referente à bancada do Republicanos também provocou críticas internas. Os 42 deputados e dois senadores do partido que integram a frente parlamentar teriam sido convidados a assinar um documento em apoio a Otoni, medida interpretada como uma forma de pressão.

Otoni e Nascimento têm visões distintas sobre o relacionamento com o Palácio do Planalto. Enquanto o primeiro tem se aproximado do governo Lula, o segundo conta com o apoio da ala ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O Republicanos hoje ocupa o comando do Ministério de Portos e Aeroportos.

Além da lista, o vídeo enviado pelo emedebista faz gestos de aproximação com o Palácio do Planalto, o que gerou irritação nos aliados de Nascimento.

— (Precisamos) abrir um canal de diálogo com o governo, para que os objetivos políticos dos membros da bancada sejam atendidos, com o objetivo de fortalecer nossa atuação política nas próximas eleições. Esse diálogo em nada impede de mantermos os mesmos princípios e valores. São diálogos políticos — disse Otoni na mensagem.

Parlamentares ouvidos pela reportagem criticaram o conteúdo do vídeo, classificando-o como uma "afronta final". Nos bastidores, a disputa passou a ser chamada de "guerra santa" em tom de brincadeira, em referência à divisão do grupo.

Enquanto Otoni de Paula gravou um vídeo de quatro minutos, Gilberto Nascimento foi mais sucinto e enviou uma gravação de 40 segundos.

— Quero muito contar com seu voto, com seu apoio, para que, se Deus quiser eleito, venha a dar o melhor de mim — pede Nascimento, dando os detalhes sobre a votação.

A votação de hoje quebra a tradição de definir o presidente da bancada por acordo. Embora ambos rejeitem os rótulos de governista e bolsonarista, aliados reconhecem que a eleição pode influenciar o nível de proximidade ou distanciamento da bancada em relação ao governo federal.

Terceira via
Uma terceira candidata, a deputada Greyce Elias (Avante-MG), da Sara Nossa Terra, se apresenta como alternativa à polarização. A aposta na bancada é que ela vai retirar seu nome da disputa e apoiar Nascimento, o que a deputada nega.

— Tenho admiração pelo trabalho do Gilberto e por sua trajetória na vida pública, mas não conversamos sobre isso — afirmou Greyce Elias.

Tradicionalmente, a Frente Parlamentar Evangélica escolhe seus líderes por consenso. Em 2023, a falta de acordo levou Otoni a retirar sua candidatura, resultando em uma presidência compartilhada entre Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM).

Esse histórico explica o apoio dos atuais dirigentes a Otoni, embora ele enfrente resistência da ala bolsonarista, que cogita deixar a bancada caso ele vença, temendo um alinhamento com o governo federal.

Desde o ano passado, Otoni, que era alinhado a Bolsonaro, tem feito acenos ao governo Lula. Em outubro de 2024, o deputado compareceu à cerimônia de sanção do Dia Nacional da Música Gospel, no Palácio do Planalto, e fez elogios a Lula. O deputado também apoiou a reeleição de Eduardo Paes (PSD), que foi o candidato de Lula para a prefeitura do Rio do ano passado.

Além disso, Otoni tem um aliado na superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Rio. José de Moraes Correia Neto também é ligado a Silas Câmara.

Já os aliados de Gilberto Nascimento também destacam seu papel como um dos precursores da Frente Parlamentar Evangélica, criada em 2003. Delegado da Polícia Civil e em seu quarto mandato na Câmara, ele conta com o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e do líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ).

Voto facultativo
Deputados e senadores inscritos na Frente não são obrigados a votar. O processo de votação será em urna eletrônica e secreto. Após o resultado, o vencedor vai celebrar, amanhã, o tradicional culto semestral da Santa Ceia.

A bancada evangélica escolhe um novo presidente a cada dois anos, em geral na primeira semana de fevereiro. Houve uma tentativa de antecipação, mas o racha impediu a definição do novo líder no final do ano passado.

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