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INVESTIGAÇÃO

PF detalha teia de relações de Weverton e suspeitos de desvios nas aposentadorias

Segundo investigação, senador era 'liderança e sustentáculo das atividades empresariais e financeiras' do chamado Careca do INSS

O relator da indicação de Flávio Dino para o STF no Senado, Weverton RochaO relator da indicação de Flávio Dino para o STF no Senado, Weverton Rocha - Foto: Agência Senado

A Polícia Federal identificou um conjunto de relações políticas, empresariais e funcionais em torno do senador Weverton Rocha (PDT-MA) no esquema de descontos associativos fraudulentos aplicados a aposentadorias e pensões do INSS.

Conforme investigação, o senador teria se beneficiado de recursos desviados e era "liderança e sustentáculo das atividades empresariais e financeiras" de Antônio Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS", peça-chave no esquema.

"A Polícia Federal destaca, ainda, que os principais investigados mantinham vínculos estreitos com agentes políticos, especialmente um Senador da República, que figuraria como 'sustentáculo político' da operação criminosa, o que ampliava a capacidade de influência e blindagem institucional do grupo", afirmou o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que autorizou a operação.

A representação policial informa que o parlamentar teria atuado como “beneficiário final (‘sócio oculto’) de operações financeiras estruturadas pela organização criminosa, recebendo recursos ou benefícios por meio de interpostas pessoas, alguns seus assessores parlamentares”.

 

Um dos principais personagens ligados ao entorno do senador é o empresário Gustavo Marques Gaspar, que foi assessor de Weverton entre 2019 e 2023 e é considerado braço direito do parlamentar nos bastidores, conforme descrito na representação policial. A PF aponta que ele era integrante do “núcleo político-institucional” da organização criminosa, com papel relevante na lavagem de capitais, ocultação patrimonial e articulação política do esquema.

A PF relata que Gaspar foi nomeado assistente parlamentar sênior na liderança do PDT pelo próprio Weverton, quando o senador era líder da bancada, e que ele possuía “capacidade de articulação institucional e inserção em ambientes decisórios de relevo político”, o que "ampliava seu potencial de atuação no esquema ilícito".

A decisão menciona ainda registros de pagamento de propina no valor de R$ 100 mil em favor de “Gasparzinho”, identificados em planilhas apreendidas na casa do Careca do INSS, que seria para Gustavo Gaspar.

A investigação mostra, ainda, que ele esteve junto com o Careca do INSS no gabinete do ex-secretátio-executivo o Ministério da Previdência Social Adroaldo Portal. O servidor foi demitido do cargo na quinta-feira após ser alvo da operação.

Adroaldo é outra figura com elo com Weverton. Ele trabalhou como assessor do senador de 2019 a 2023. Posteriormente, Adroaldo ocupou cargos de direção no Ministério da Previdência Social até chegar ao cargo de número 2.

A PF também descreve movimentações financeiras consideradas suspeitas envolvendo Adroaldo, seu filho Eduardo Portal e uma chefe de gabinete no Ministério da Previdência que também já foi assessora de Weverton. Eduardo exerce a função de ajudante parlamentar intermediário no gabinete do senador desde junho de 2023.

Em nota, o senador afirmou que "recebeu com surpresa a busca na sua residência" e colaborará para o "esclarecimento dos fatos, certo de que a verdade prevalecerá e sua inocência será plenamente reconhecida."

"Confio plenamente nas instituições e no Estado Democrático de Direito, reafirmando meu respeito ao trabalho da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal. Ressalto que a decisão da Corte é clara ao reconhecer a ausência de provas que me vinculem a práticas ilícitas ou ao recebimento de recursos irregulares. Relações profissionais de terceiros não podem ser usadas para me imputar responsabilidade sem fatos concretos", disse ele, no texto.

Prisão
Apesar de avaliar que há "fortes indícios" de participação do senador no esquema, o ministro negou o pedido de prisão de Weverton por considerar que ela teria "efeitos drásticos". Na decisão, ele destacou que o Ministério Público Federal (MPF) foi contra a prisão preventiva, indicando que "o panorama probatório apresentado é assentado em inferências ainda não consolidadas".

"Até o momento, não se demonstrou vínculo direto entre o parlamentar e a execução das condutas ilícitas, nem recebimento de valores ilícitos. O simples fato de ex-assessores terem sido destinatários de valores não autoriza, automaticamente, a extensão de responsabilidade ao titular do mandato sem base fática robusta que o vincule. Não se afirma inexistência de eventual prática ilícita, mas que, neste momento, os elementos disponíveis são frágeis para sustentá-la", pontuou o MPF.

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