Dom, 07 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Justiça

PGR diz que versão de Braga Netto é fantasiosa e afirma entrega de dinheiro a Cid em sacola de vinho

Paulo Gonet afirmou que relato de tenente-coronel sobre ex-ministro é reforçado por outras provas

Mauro Cid e Braga Netto durante acareação no STF Mauro Cid e Braga Netto durante acareação no STF  - Foto: Rosinei Coutinho / STF

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, reforçou a acusação de que o ex-ministro Walter Braga Netto entregou dinheiro ao tenente-coronel Mauro Cid.

Os recursos seriam utilizados para o monitoramento de autoridades. Braga Netto nega ter feito isso, e chegou a realizar uma acareação com Cid, mas Gonet considerou a versão do ex-ministro "inverossímil" e uma "narrativa fantasiosa".

A avaliação consta na manifestação em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) pede a condenação de Braga Netto, Cid, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros cinco réus na ação penal da trama golpista. Gonet solicitou que eles sejam condenados por cinco crimes, incluindo tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Como parte de seu acordo de delação premiada, Mauro Cid afirmou que Braga Netto entregou a ele uma quantia em dinheiro, que ele não precisar, dentro de uma sacola de vinho.

A entrega teria sido feita após uma reunião, na casa de Braga Netto, na qual participaram outros dois militares investigados, quando teria sido elaborado o plano contra autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-ministro afirma que a reunião em sua casa foi apenas uma visita de cortesia, para que os militares tirassem uma foto com ele, e nega ter entregue qualquer valor a Cid. A pedido da defesa de Braga Netto, uma acareação entre os dois foi realizada no mês passado, mas ambos mantiveram suas versões.

Nas alegações finais, Gonet ressalta a divergência entre os relatos, mas considera que a versão de Braga Netto é prejudicada quando analisada em conjunto com outros elementos.

Em relação à reunião, a PGR afirma que "a visita de dois 'desconhecidos', levados por um Tenente-Coronel à casa de um General de quatro estrelas, sem justificativa plausível ou aviso prévio, contraria frontalmente as normas de conduta e hierarquia que regem as relações militares, pautadas por formalidade e respeito aos superiores".

"A narrativa se revela ainda mais fantasiosa, considerando que os supostos visitantes eram militares das Forças Especiais que sequer tinham residência em Brasília, sendo descabido admitir que teriam viajado centenas de quilômetros para uma simples visita de cortesia. Tais circunstâncias reforçam a percepção de que se tratava de um encontro deliberadamente oculto e incompatível com as práticas militares corriqueiras", acrescenta o procurador-geral.

Sobre o dinheiro, Gonet considera que o ex-ministro adotou "tom evasivo". Braga Netto admite ter sido procurado por Cid, mas confirma apenas que recomendou que ele tentasse conseguir os recursos com o PL, partido de Bolsonaro.

A PGR também avalia que o fato dos envolvidos de fato terem implementado as ações previstas no plano (como passagens aéreas, hospedagens e compras de celulares), e que não foi identifica outra origem dos recursos, reforça a suspeita de que o dinheiro veio de Braga Netto.

"Tal circunstância não apenas refuta a versão de Braga Netto como corrobora o depoimento de Mauro Cid, confirmando que os valores empregados na operação clandestina foram angariados por Braga Netto", afirma Gonet.

Veja também

Newsletter