Planalto reconhece desgaste e situação ruim de Lupi, mas ainda não vê motivos para demissão
Auxiliares de Lula montam estratégia para ministro ressaltar atuação do governo nas apurações
Integrantes do Palácio do Planalto reconhecem que o desgaste gerado com a revelação do esquema de fraudes contra aposentados no INSS colocou o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, em uma situação ruim.
Até o momento, contudo, esses auxiliares não veem motivos para uma demissão.
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Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que o conjunto de informações revelado em operação da Polícia Federal (PF) com a Controladoria-Geral da República (CGU) não implica Lupi diretamente.
Um ministro diz que por enquanto “não há nada contra ele”.
Afirma que as medidas estão sendo tomadas e que não é possível agir por impulso nesses casos. A avaliação desse auxiliar de Lula é que Lupi precisa se orientar pelas investigações da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União (CGU) para definir as providências a serem seguidas.
A operação "Sem Desconto", deflagrada na quarta-feira passada, apura descontos irregulares feitos por associações que possuem convênios com o INSS. Segundo as investigações, esses grupos podem ter desviado mais de R$ 6 bilhões nos últimos anos.
Na avaliação do entorno presidencial, Lula não irá se desfazer de Lupi sem que haja suspeitas concretas sobre eventual erro do auxiliar.
Além de ministro, Lupi é presidente nacional do PDT e aliado de longa data do petista.
No Planalto, embora haja críticas à gestão do ministro, por outro lado, a percepção é que ele está correto ao fazer sua defesa pública e dar entrevistas.
Lupi aceitou participar, na terça-feira, de uma reunião da Comissão de Previdência e Assistência Social da Câmara, onde deve ser alvo de duros questionamentos da oposição.
Há uma preocupação em relação ao desempenho dele na audiência.
A estratégia montada pelo entorno de Lula é que Lupi faça a defesa do governo, mostre que a gestão de Lula atuou para enfrentar a fraude contra os aposentados e reforce que as irregularidades iniciaram no governo de Jair Bolsonaro.
Também há orientação para que Lupi frise que o governo está empenhado em resolver o problema, devolvendo o dinheiro aos beneficiários do INSS — os valores descontados em abril serão ressarcidos na folha de maio.
No dia em que a operação Sem Desconto foi deflagrada, Lula determinou a demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, aliado de Lupi.
Em entrevista ao Globo, Lupi admitiu que sabia o que estava acontecendo em relação aos aumentos dos descontos de aposentadorias para repasses a associações e que demorou para tomar previdências.
Disse, porém, que não se sente desconfortável em permanecer no governo.
— Se sou omisso, por que pedi o relatório e demiti o diretor? Quem é omisso não demite ninguém. Esse desconto associativo existe há muitos anos e sempre teve muita denúncia na Ouvidoria. Pela primeira vez o nosso governo, a CGU, a PF, o Ministério da Justiça e a área de inteligência da Previdência, que recebe as denúncias, começaram a apurar.

