Por falta de verba, MEC só vai comprar livros de Português e Matemática para crianças do fundamental
Associação afirma ainda que ensino médio, que terá novo formato de obras após reforma na etapa, terá apenas 60% dos exemplares adquiridos
O Ministério da Educação (MEC) avisou às editoras que não poderá comprar todos os livros didáticos necessários para o ano letivo de 2026. De acordo com Angelo Xavier, presidente da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), a pasta informou que crianças do primeiro ciclo do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) só receberiam os materiais de Português e Matemática.
E, no ensino médio, 40% das obras só seriam adquiridas em 2026, o que poderia causar atrasos de cerca de seis meses.
— O orçamento disponibilizado é de R$ 2 bilhões. Para o governo comprar tudo que estava previsto, precisariam de R$ 3 bilhões, segundo a estimativa das editores. O governo até fala que esse valor pode chegar a R$ 3,5 bilhões por causa dos custos de distribuição — afirma Angelo.
No total, era esperada uma compra de 165 milhões de exemplares só para ensino fundamental e médio. No entanto, o setor projeta que apenas 79 milhões serão de fato adquiridos. O Globo procurou o MEC e aguarda um posicionamento.
Nos anos iniciais, os livros de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano e de Artes do 1ª ao 5º ano são chamados de consumíveis. Ou seja, os estudantes escrevem e pintam neles, o que deixam eles inutilizados para o ano seguinte. Por isso, caso o MEC não compre novos, as crianças que entram nessas etapas em 2026 ficarão sem materiais.
A previsão era de uma compra de 59 milhões de livros considerando todas as disciplinas para essa etapa escolar. No entanto, ao focar apenas em Português e Matemática, são cerca de 23 milhões de exemplares.
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Já no ensino médio, de acordo com as editoras, a solução seria dividir a compra de 84 milhões de exemplares em 60% neste ano e 40% no ano que vem. O problema é que, por conta da demora para produzir e distribuir as obras, isso levaria a um atraso de cerca de seis meses, de acordo com Angelo.
— Ainda não está claro o que o MEC priorizaria nesses 60%. Em uma das reuniões, chegaram a falar em garantir os livros para os estados mais distantes. Mas como deixar Rio, São Paulo e Minas Gerais sem livros? É uma encruzilhada muito difícil — afirma Angelo.
Mudança de formato
Em 2026, os livros do ensino médio vão passar pela segunda mudança desde 2022. Naquele ano, os professores começaram a receber o material adequado ao formato do Novo Ensino Médio.
Em vez de um exemplar para História, Geografia, Filosofia e Sociologia, as escolas passaram a trabalhar com uma obra de Ciências Humanas na qual essas quatro disciplinas eram trabalhadas de forma misturada.
O mesmo aconteceu com Ciências da Natureza em relação à Química, Física e Biologia. O modelo encontrou uma enorme resistência nas salas de aulas por parte dos professores.
No governo Lula, após uma série de críticas de especialistas, o Novo Ensino Médio sofreu alterações. Com isso, os livros vão voltar ao formato antigo em que cada disciplina tem sua própria obra.
Compra de livros
Em 2025, o MEC também planejava comprar livros para o segundo segmento do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e para a educação de jovens e adultos — neste segundo caso, pela primeira vez nos últimos 11 anos.
De acordo com Ângelo, o MEC planeja comprar apenas os livros de Português e Matemática para os alunos do fundamental. No entanto, esses exemplares são apenas para repor uma parte das obras que estragaram já que esses exemplares passam de um aluno para outro. Por isso, apesar de fazerem falta, o impacto é menor.
— Já sobre os livros do EJA o MEC informou que já tem o orçamento para garantir a compra — afirmou o presidente da associação.

