Seg, 15 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Política

Presidente eleito coleciona recuos para adaptar o seu discurso

Cientistas políticos analisam últimas decisões anunciadas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro Jair Bolsonaro  - Foto: Evaristo Sá/AFP

Desde que foi eleito presidente, há menos de duas semanas, Jair Bolsonaro (PSL) já acumula ao menos quatro recuos sobre ações que tomará e a estrutura de seu governo. A despeito de ter empunhado um discurso radical prometendo ruptura com velhas práticas, o futuro chefe do Executivo tem encontrado resistência de agentes econômicos e atores políticos, o que empurra o perfil do seu discurso à uma perspectiva cada vez mais centrista.

As últimas mudanças foram anunciadas na quarta-feira (7), em relação à composição de seus ministérios. Pela manhã, ele admitiu que poderá ter até 18 pastas, número superior ao que foi prometido antes do início da campanha, de reduzir de 29 para 15. A nova contabilidade veio com a possibilidade de ele manter como ministério a Controladoria-Geral da União, que, pelos planos anteriores, seria somada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, sob o comando de Sergio Moro.

Leia também:
Conheça a equipe de transição de Jair Bolsonaro
Bolsonaro não vê momento. Senado não dá ouvidos
Congresso aguarda proposta de Previdência de equipe de Bolsonaro
Bolsonaro coleciona recuos sobre medidas e estrutura do governo
Não há espaço para retroceder, diz Temer a Bolsonaro em cartilha


No mesmo dia, a equipe de governo confirmou que o general da reserva Augusto Heleno não comandará mais o Ministério da Defesa, como anunciado ainda durante a campanha eleitoral. O militar vai assumir o Gabinete de Segurança Institucional, que fica no Palácio do Planalto e cuida, entre outras atribuições, da segurança pessoal do presidente. O presidente eleito também deixou em suspenso a mudança da Embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém. A transferência foi anunciada antes mesmo do início da campanha.

Os principais recuos de Bolsonaro têm se dado na formação da estrutura da Esplanada, especialmente em relação à fusão de ministérios. Caso emblemático é a unificação de Agricultura e Meio Ambiente. A junção das duas pastas, prometida desde o início da campanha, foi alvo de críticas por ambientalistas e ruralistas.

Para o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília Wladimir Ganzelevitch Gramacho, é muito clara a diferença da narrativa entre o período eleitoral e depois desses ajustes, quando na expectativa de assumir o cargo. "Ele deixa de falar só pra uma parte dos eleitores que precisa convencer e agora fala, não só para todos, mas também para outras autoridades constituídas e enfrenta limitações concretas das instituições", explica.

A liberdade de falar o que bem entende, segundo Gramacho, é própria da experiência política vivida pelo capitão da reserva até a campanha, como deputado federal, que tem liberdade de expressão como prerrogativa parlamentar. "No sistema político brasileiro, o nosso presidencialismo de coalizão sofre, não apenas, a limitação da necessidade de formar coalizão com partidos, mas de atuar na divisão com os outros poderes", esclarece.

O cientista político da PUC-RJ Ricardo Ismael enxerga esses movimentos do presidente eleito como uma disposição de ouvir e negociar, numa tentativa de evitar o jogo do "toma lá, dá cá". "Ele terá que buscar um governo de centro-direita, tem que negociar com o centro. Evitar o toma lá, dá cá impõe muita conversa", pontua.

Veja também

Newsletter