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Prisão de ex-presidente do INSS reaviva CPI, pressiona governo e deve alimentar novas investigações

Oposição tenta colar escândalo no Planalto, enquanto base mira ex-ministro de Bolsonaro citado pela PF por ter "papel estratégico" no esquema

Alessandro Stefanutto em depoimento na CPI do INSS no Senado Alessandro Stefanutto em depoimento na CPI do INSS no Senado  - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A prisão do ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto pela Polícia Federal (PF) dá um novo fôlego à CPI sobre as fraudes no instituto, provoca desgaste ao governo e deve alimentar novas frentes de investigação, tanto no Congresso quanto na PF. Stefanutto ocupou a chefia do INSS no governo Lula e foi afastado em abril quando as fraudes vieram à tona.

O ex-chefe do INSS participou da transição após a vitória eleitoral de Lula e chegou ao cargo em meados de 2023, com a demissão do presidente anterior, e apoio do então ministro da Previdência Carlos Lupi. Oposicionistas planejam usar as novas descobertas, como os repasses mensais de R$ 250 mil que Stefanutto recebia como propina, para tentar colar o escândalo no Palácio do Planalto.

Já a base usa o fato de o ex-ministro da Previdência no governo de Jair Bolsonaro José Carlos Oliveira ter sido citado pela PF como uma figura que teve um papel “estratégico” para o “funcionamento e blindagem” do esquema de descontos indevidos. A polícia apontou que o ex-ministro recebeu R$ 100 mil do operador financeiro da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer).

 

No início das investigações, o governo estava preocupado, situação que foi contida diante dos avanços tímidos da investigação. Agora, o presidente da CPI, Carlos Viana, entende que com a última operação da PF, o núcleo principal e o núcleo financeiro do grupo suspeito de desviar benefícios previdenciários está na cadeia. O que falta, neste momento, é avançar sobre o que ele chama de “primeiro escalão” da organização — os políticos que indicaram os servidores que atuavam com as fraudes em diferentes governos.

A suspeita nos bastidores da CPI é que além do deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), alvo da PF, haja ao menos outros três deputados no esquema. Existem, ainda, nomes já citados, como o senador Weverton Rocha (PSD-MA), por suspeita de relação com o lobista Antônio Antunes, conhecido como Careca do INSS, figura-chave no caso.

A prisão de Stefanutto e da ex-cúpula do INSS foi vista como uma grande vitória para a oposição na CPI. Parlamentares aproveitaram a oportunidade para relembrar as tentativas de convocação, por exemplo, de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foram barradas pela base.

— Não adianta blindar na CPI porque tem outra investigação em curso. Tem muita gente que precisa ser retirada debaixo do tapete — disse o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), na última quinta-feira.

Viana afirmou entender que a prisão de Stefanutto confirma a tese central da CPI de que havia “um esquema estruturado, repetitivo e profissional dentro do INSS”. Para o presidente, a comissão conseguiu romper “a blindagem regimental que tentaram impor”.

— Se dependesse da base do governo, nada teria sido investigado. Com as prisões e operações em 17 estados, a narrativa oficial desmoronou. A investigação entra agora na fase em que as responsabilidades aparecem com clareza — disse.

A ideia, segundo Viana, é analisar nomeações, atos administrativos e quebras de sigilo para entender movimentações financeiras e vínculos.

Vice-presidente da CPI e integrante da base, o deputado Duarte Jr. (PSB-MA) minimiza a ideia de que a operação representa um desgaste ao governo, justamente porque ela atingiu ex-integrantes dos governos Lula e Bolsonaro.

— Não tem que perder tempo com essa briga partidária, porque o escândalo passou pelos governos Temer, Bolsonaro e Lula. É um problema de todo mundo. O desgaste é para o INSS — afirmou.

Núcleo político
Esta é a primeira vez que a Operação Sem Desconto, da PF, avança sobre o “núcleo político” do suposto esquema. Um dos dez alvos de mandado de prisão e o único que continua foragido, o presidente da Conafer, Carlos Lopes, é apontado como o “líder” e “centro de gravidade” do grupo. Com bom trânsito entre parlamentares, capitaneou o lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Empreendedorismo, em abril de 2024. Lopes é considerado peça-chave na CPI para chegar à cabeça política do esquema. Ele chegou a ser preso durante depoimento, após parlamentares avaliarem que ele mentiu.

Segundo a PF, dentro do “núcleo político” e subordinado a Lopes, estaria o deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), que seria a “pessoa melhor paga na lista de propina” com o codinome e “Herói E” e conferia a “quem tinha influência na indicação” de nomes para a direção do INSS. De acordo com o relatório da PF, ele recebeu R$ 14,7 milhões em propina.

Em nota, o deputado disse que “apoia integralmente o trabalho das autoridades competentes” e se colocou “à inteira disposição para prestar os esclarecimentos necessários”. Conforme a PF, o núcleo era responsável pela manutenção dos acordos de cooperação técnica que viabilizam os descontos indevidos e faziam a blindagem dos suspeitos.

Segundo Viana, discute-se a possibilidade de delações desde as primeiras fases da operação. Na sessão da última quinta-feira, ele afirmou que o empresário Mauricio Camisotti, alvo da investigação, deve fazer delação.

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