Rodrigo Pacheco defende urgência do PL da Dosimetria e diferencia líderes do 8 de janeiro
Senador afirma que penas aplicadas testaram pela primeira vez lei criada pelo Congresso em 2021 e diz que correção busca proporcionalidade, não vingança
O ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) defendeu nesta quarta-feira, em pronunciamento na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a urgência da tramitação do Projeto de Lei da Dosimetria e a necessidade de diferenciar, na legislação penal, os responsáveis por liderar e financiar a tentativa de golpe de Estado dos participantes que atuaram sob influência de multidão, sem poder de comando.
Pacheco contextualizou o projeto como um desdobramento direto de uma iniciativa do próprio Congresso Nacional, ao lembrar que foi o Legislativo que revogou a Lei de Segurança Nacional e criou, em 2021, os crimes contra o Estado Democrático de Direito no Código Penal. Segundo ele, aquela legislação foi fundamental para permitir a responsabilização penal dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, mas acabou sendo testada pela primeira vez em um episódio de grande escala.
— As condenações eram absolutamente inevitáveis diante do que aconteceu no 8 de janeiro. Mas foi a primeira vez que se testou aquela lei que fizemos em 2021 — afirmou.
O senador reconheceu que houve incômodo no Congresso ao ver a aplicação de penas elevadas a réus que, segundo ele, não lideraram, não financiaram nem planejaram os ataques. Para Pacheco, essa lacuna evidencia a necessidade de uma correção legislativa que permita gradações mais justas de responsabilização penal, sem comprometer a punição dos mentores da tentativa de golpe.
— Não é esse sentimento que deve guiar o legislador. Não pode ser o sentimento de vingança — disse. — É preciso ter decência e honestidade intelectual para reconhecer que uma pessoa que liderou uma tentativa de golpe não pode receber o mesmo tratamento penal de alguém que, influenciado por uma multidão em tumulto, praticou aquele ato sem poder de comando.
Leia também
• Dois absolvidos, 29 condenados e 500 anos de prisão: veja a sentença dos acusados da trama golpista
• Supremo conclui julgamentos da trama golpista, e ministros classificam condenações como históricas
• STF encerra julgamento da trama golpista com 29 condenados; dois foram absolvidos
Pacheco relatou que, no início do ano, foi procurado pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), para examinar alternativas legislativas que modernizassem a lei de 2021. Entre as ideias discutidas, citou a adoção do concurso formal para evitar a soma automática de penas em crimes praticados no mesmo contexto e a criação de um tipo penal específico — mais brando — para participantes sem liderança ou financiamento.
O ex-presidente do Senado afirmou ainda que, se dependesse de sua avaliação pessoal, a legislação poderia avançar inclusive no sentido de endurecer a punição para lideranças, em projetos futuros, sem efeito retroativo. O objetivo, segundo ele, seria reforçar a distinção entre quem comandou a tentativa de ruptura institucional e quem teve participação periférica.
Pacheco também criticou alterações feitas pela Câmara dos Deputados na Lei de Execução Penal, ao afirmar que a redução dos percentuais de progressão de regime não fazia parte da concepção original discutida no Senado. Para ele, a solução possível seria restringir esse benefício exclusivamente aos crimes relacionados ao 8 de janeiro, por meio de uma emenda de redação, evitando efeitos colaterais sobre outros tipos penais.
O senador defendeu que a análise do projeto seja feita com “olhar republicano”, voltado à proporcionalidade e à razoabilidade das penas, sem relativizar a gravidade dos ataques às instituições.
— Essas pessoas atentaram contra a democracia, contra o Congresso Nacional. Eu teria todos os motivos para querer a punição máxima. Mas isso não pode guiar o legislador. O que deve nos guiar é uma pena proporcional ao fato imputado — concluiu.

