"Se o governo pressionar, centrão desembarcará", afirma o senador Efraim Filho
Senador Efraim Filho (UBPB) diz que a tensa relação entre o governo e o centrão poderá implodir caso o Executivo siga cobrando posicionamento dos partidos da suposta base
A tensa relação entre o governo Lula e o centrão poderá implodir caso o Executivo siga cobrando por um posicionamento dos partidos que integram a suposta base. Esse grupo, que inclui União Brasil, PP, PSD, Republicanos e MDB, pode deixar o governo se houver precipitação do debate eleitoral, revelou o senador Efraim Filho (UniãoPB).
“No início do ano, o governo queria um compromisso eleitoral já para 2026, mas os partidos não toparam. A palavra foi governabilidade. O que tem sido entregue é uma agenda econômica, onde boa parte foi aprovada. Taxação das offshores, arcabouço fiscal, reforma tributária, mudança nas regras do ICMS, toda uma agenda para dar governabilidade a um projeto. A partir do momento em que essa agenda virar eleitoral, é decisão para 2026. A federação (União e PP) está muito mais próxima de uma candidatura da oposição, da direita, do que de uma candidatura do PT. Se anteciparem essa cobrança, haverá o desembarque”, afirmou Efraim, em entrevista ao podcast Direto de Brasília, apresentado por Magno Martins.
Líder de uma bancada que vai do presidente Davi Alcolumbre ao exjuiz Sérgio Moro, o senador paraibano diz que busca atuar como ponto de equilíbrio. E que os parlamentares não têm dado sinais de tensionamento, mas que as decisões políticas devem ficar para 2026. “Antecipar a discussão eleitoral é ruim para o governo. Trabalhar com um cenário de governabilidade e de agenda é o ideal, deixa a eleição para 2026, e 2025 para a agenda econômica, para que o cenário político contamine o menos possível. Se o governo mudar esse entendimento e exigir essa postura (de adesão), o desembarque poderá ser antecipado, mas é uma decisão que fica para o segundo semestre”, apontou o senador.
“O governo não tem como impor uma maioria, porque não tem uma base sólida para chamar de sua. A votação do IOF mostrou isso. Quando o governo resolveu peitar a decisão do Congresso, teve apenas 98 votos. Aquela é a base que o governo pode chamar de sua, e que não chegou a 100 deputados. Se tirar PP ou MDB dos ministérios, vai entregar a quem? Quem vai dar mais votos? O governo já perdeu a condição do PT de 20 anos atrás, que podia impor uma agenda e tinha 400 votos no Congresso. Hoje, no Executivo está quem ganhou eleição, com apoio de 51% dos brasileiros que deram voto a Lula. E no Congresso está 100% da sociedade, quem ganhou e quem perdeu a eleição. Por isso o governo precisa ter coalizão”, completou.
Presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional, Efraim reconhece que o orçamento impositivo tirou poder de fogo do Executivo. Mas ressalta que as críticas do Planalto sobre os escândalos financeiros envolvendo o Legislativo não são válidas. “Os escândalos já existiam, independente do orçamento ser do Executivo ou do Legislativo. Vários episódios mostram que a corrupção existia. O que temos que avançar são meios de fiscalização e transparência. Quem faz a destinação equivocada deve ser punido. Mas você tem diversos exemplos de emendas para fazer o bem, sejam postos de saúde ou reformas de creches e escolas. O desvio é sempre ruim, mas tem gente que faz bom uso”, colocou o senador.
“O orçamento impositivo foi um avanço, e voltar atrás seria um retrocesso. O tempo do toma lá dá cá, do balcão de negócios, onde o governo aprovava projetos só liberando emendas para quem votasse com ele. O orçamento virou impositivo, seja para governo ou oposição, e o mundo gira, tem alternância de poder. Quando o governo era Bolsonaro, o orçamento impositivo era importante para o PT não ser perseguido. Isso significa transparência na relação, e o governo agora precisa de argumentos para convencer a aprovar, sem o tradicional toma lá dá cá”, concluiu.

