Silêncio do Exército sobre acampamentos teria gerado risco de perda de controle, diz réu
Tenente-coronel Márcio Nunes Resende Júnior afirmou ao STF que o silêncio do Exército durante os acampamentos em frente aos quartéis, após as eleições de 2022, criou um "vácuo de poder"
Réu na ação penal da trama golpista, o tenente-coronel Márcio Nunes Resende Júnior afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o silêncio do Exército durante os acampamentos em frente aos quartéis, após as eleições de 2022, criou um “vácuo de poder” que contribuiu para a radicalização de manifestantes.
Segundo ele, a omissão da Força naquele período foi um erro que poderia ter tido consequências graves.
— Houve um erro grande. Houve um silêncio ensurdecedor por parte do Exército. Não gostaria de estar aqui criticando a instituição que servi por 33 anos, sem nenhuma mágoa. Mas, com aquele pessoal acampado ali na frente dos quartéis, achando que teria alguma coisa... esse vazio deixava os manifestantes cada vez mais... — declarou o oficial, durante interrogatório conduzido nesta segunda-feira pelo juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes.
Integrante do grupo conhecido como "kids pretos", formado por militares da ativa que, segundo a investigação da Polícia Federal, atuaram na tentativa de golpe de Estado, Resende Júnior afirmou que a ausência de um posicionamento claro da cúpula militar alimentou a percepção, entre os acampados, de que haveria apoio das Forças Armadas a uma ruptura institucional.
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— Do jeito que estava ali, se Bolsonaro fosse à TV e dissesse que estava acionando o artigo 142 [da Constituição], aquilo virava um ‘barata voa’. Poderia perder o controle da situação. Um informativo do Exército ali seria importante — completou.
Segundo ele, o ambiente no acampamento do QG era marcado por discursos de parlamentares e apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro, e a falta de uma resposta clara do comando do Exército deixava margem para interpretações equivocadas por parte dos manifestantes.
— O Exército não estava apoiando. É claro que não. Mas esse silêncio poderia ter consequências ruins — afirmou.
O tenente-coronel é um dos alvos da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que sustenta que havia um núcleo militar articulado com aliados de Bolsonaro para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

