"Te amo"; "Você é irmão de vida": mensagens mostram relação de amizade de desembargador e Bacellar
Diálogos foram citados em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou a prisão do desembargador
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Mensagens trocadas entre o desembargador Macário Ramos Judice Neto e o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) Rodrigo Bacellar revelam uma estreita de amizade entre os dois, segundo investigação da Polícia Federal. O conteúdo dos diálogos foi citado em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão do desembargador no âmbito de uma apuração sobre o vazamento de informações sigilosas de operações policiais.
Segundo a decisão assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, a Polícia Federal apontou a existência de uma “relação de intimidade” entre Bacellar e o desembargador, caracterizada por “palavras de afeto e troca de declarações efusivas de carinho, que denotam confiança e lealdade”. Em uma conversa, em 4 de novembro de 2025, Bacellar escreveu: “Vc eu levo pro caixão meu irmão nunca duvide disso”, após o magistrado agradecer “pela confiança”.
Em outro momento, o ex-presidente da Alerj diz: "Você é irmão de vida". O desembargador também o chamava de "irmão" e em um momento chega a dizer: "Te amo".
Diálogo entre desembargador Macário e ex-presidente da Alerj. | Foto: Reprodução/PFAlém das mensagens, a decisão registra que Bacellar e o desembargador se encontraram presencialmente na noite de 2 de setembro de 2025, na Churrascaria Assador, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O encontro ocorreu na véspera da deflagração da Operação Zargun, realizada pela Polícia Federal no dia 3. Na data, o então deputado estadual do Rio de Janeiro Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Jóias, foi preso por suspeita de atuação para o Comando Vermelho (CV).
"Elementos de prova apresentados pela autoridade policial demonstram que a relação de amizade entre RODRIGO DA SILVA BACELLAR e MACÁRIO RAMOS JUDICE NETO é estreita e próxima. A autoridade policial concluiu que os investigados utilizaram dessa relação de intimidade para se encontrar presencialmente, na véspera da deflagração da operação policial, em alinhamento para a prática de condutas delitivas", pontuou Moraes.
A decisão também menciona que, no mesmo período em que Bacellar e o desembargador estavam juntos, TH Joias trocava mensagens com Bacellar sobre a iminência da operação policial. Para a Polícia Federal, os diálogos indicam que TH Joias teve acesso prévio a informações sigilosas.
Segundo a decisão, a autoridade policial concluiu que a “estreita relação” entre Bacellar e Judice Neto teve “impacto relevante no prosseguimento das investigações”, apontando indícios de prática de obstrução de justiça e violação de sigilo funcional.
O advogado Fernando Fernandes, que faz a defesa do desembargador, afirmou que o ministro Alexandre de Moraes "foi induzido a erro ao determinar a medida extrema". "A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá a sua imediata soltura", pontuou. O advogado também afirmou que Judice Neto não jantou com Bacellar na véspera da operação contra TH Joias. "Esse jantar não ocorreu!", disse.
Em nota, a defesa de Bacellar afirmou que "o parlamentar sempre se colocou à disposição para evidenciar seu não envolvimento nos fatos noticiados, prestando todos os esclarecimentos necessários". "A defesa ressalta que o deputado tem cumprido todas as medidas determinadas e reitera que o parlamentar não atuou, de nenhuma forma, para inibir ou embaraçar qualquer investigação, direta ou indiretamente, sendo certo que isso restará demonstrado", pontuou.

