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Visita de Lula a Kirchner ofusca cúpula do Mercosul na Argentina

A ex-presidente da Argentina (2007-2015), é condenada a seis anos de prisão e inabilitação política perpétua

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do do Brasil, ao lado de Cristina Kirchner da ArgentinaLuiz Inácio Lula da Silva, presidente do do Brasil, ao lado de Cristina Kirchner da Argentina - Foto: Miguel Schincarol / AFP

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua aliada política Cristina Kirchner, em prisão domiciliar em Buenos Aires, domina as atenções da cúpula do Mercosul na Argentina nesta quinta-feira (3).

A ex-presidente (2007-2015), condenada a seis anos de prisão e inabilitação política perpétua, lidera o Partido Justicialista e é a principal opositora ao presidente Javier Milei, anfitrião do encontro regional.

A visita, autorizada pela Justiça para a mesma quinta-feira da cúpula presidencial, ocorrerá à tarde, disseram fontes do governo brasileiro à AFP, agravando a já tensa relação entre Lula e Milei.

O presidente argentino deve entregar ao Brasil a presidência pro tempore do bloco, que também inclui Uruguai, Paraguai e Bolívia como membros plenos.

A agenda de Lula não inclui um encontro bilateral com Milei em sua primeira visita à Argentina desde que o ultraliberal assumiu a presidência em dezembro de 2023.

Choque ideológico
Milei, um ultraliberal de direita que defende a abolição total do Estado, é um fervoroso admirador do presidente americano Donald Trump.

No passado, chamou Lula de "ladrão" e "corrupto", insultos que Lula considerou "bobagem".

Os dois têm se evitado em fóruns multilaterais recentes, como no início de junho, quando participaram da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas em Nice, e na cúpula do G20 realizada no Rio de Janeiro em 2024.

No entanto, embora as relações permaneçam tensas, não impediram o fluxo de acordos comerciais.

O chanceler da Argentina, Gerardo Werthein, disse à AFP que o bloco apoiou um documento final de "consenso" que também inclui, como de costume, "apoio unânime" à reivindicação da Argentina à soberania sobre as Ilhas Malvinas em sua disputa com o Reino Unido.

As negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), formada por Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, também foram concluídas na quarta-feira, o que resultará em um aumento do comércio entre os dois blocos.

Um memorando de entendimento para a integração regional do gás também foi assinado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressou surpresa ao encontrar um ambiente amigável e cooperativo na quarta-feira, ao final da reunião de ministros da região e presidentes de bancos centrais do grupo.

A cúpula também reafirmará a importância para o bloco do acordo de livre comércio com a União Europeia, assinado em dezembro passado, após 25 anos de negociações.

O texto ainda precisa ser ratificado pelos países europeus e enfrenta oposição da França.

A cúpula começará nesta quinta-feira às 9h30, horário local (mesmo horário em Brasília), e contará com a presença dos presidentes Milei, Lula, Santiago Peña (Paraguai), Yamandú Orsi (Uruguai) e Luis Arce (Bolívia).

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, também participará como Estado associado do bloco regional.

Aliados políticos
Kirchner, de 72 anos, solicitou autorização judicial para receber a visita de Lula.

Sua prisão domiciliar, em um apartamento na capital argentina, permite que seja visitada apenas por familiares, médicos e advogados.

O documento judicial indica que a visita deve ser realizada "sob estrita observância das regras de conduta" que envolvem evitar "perturbar a tranquilidade do bairro", um desafio dada a popularidade de ambos os líderes.

O local onde Kirchner cumpre pena tornou-se um local de manifestações diárias de apoiadores.

A ex-presidente frequentemente aparece na varanda do segundo andar para cumprimentá-los.

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