Dom, 07 de Dezembro

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Política

Wajngarten diz à PF que não teve contato com familiares de Cid após agosto de 2023

Ex-secretário de comunicação do governo de Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento em São Paulo, nesta terça

O advogado de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, fala com a imprensa na sede da Polícia Federal. O advogado de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, fala com a imprensa na sede da Polícia Federal.  - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O ex-secretário de comunicação do governo de Jair Bolsonaro (PL), Fábio Wajngarten, negou ter atrapalhado as investigações da trama golpista e buscado informações sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid, em depoimento simultâneo a de advogados de réus na superintendência da Polícia Federal (PF) de São Paulo, nesta terça.

Ele alega que foi procurado pelo pai do ex-ajudante de ordens na mesma época em que Cid firmou acordo de delação, mas apenas para inscrever uma de suas filhas numa competição de hipismo.

— Fui demandado pelo general Lorena Cid para inscrever a neta numa competição de hipismo em São Paulo, no mês de agosto de 2023. Eu telefonei para o Paulo Bueno e ele procedeu com a inscrição da Giovana, a filha mais velha, e por uma feliz coincidência ela venceu o campeonato aqui na hípica de São Paulo. Assim se deram os contatos e as ligações, se é que houve, não me recordo — disse.

Ele negou ter feito qualquer outro contato com familiares após esse episódio, apesar da “relação amistosa” que tinha com Cid, responsável por abastecê-lo de informações durante “crises de imprensa” de Bolsonaro ao final do mandato.

— Em hipótese alguma houve tentativa de desorganizar, de tumultuar, de atrapalhar qualquer investigação que seja, e estou estudando entrar com uma ação de denunciação caluniosa a quem quer que seja por essa tentativa de intimidar a defesa do presidente.

Wajngarten não soube dizer se esse contato ocorreu antes ou depois de Cid decidir colaborar com a Justiça e que a linha do tempo era “confusa”.

Além de Wajngarten, a PF ouviu um dos advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Paulo Amador da Cunha Bueno, e Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara, em depoimentos simultâneos, em salas separadas.

As oitivas ocorrem por suspeitas de obstrução de Justiça no caso da trama golpista. Bueno deixou o local cerca de 40 minutos depois do horário marcado. Wajngarten levou mais de duas horas, e Kuntz ainda não havia deixado a sede da PF até o fim da tarde.

Kuntz informou ao STF, no dia 17, que conversou com Cid por uma conta no Instagram sobre a sua delação premiada, o que violaria o sigilo do acordo. O documento inclui um print da tela em que Cid faz um sinal de positivo com uma das mãos enquanto segura o celular e supostamente estaria logado no perfil fake.

Antes de Kuntz entregar ao STF as referidas mensagens, o advogado Celso Vilardi, da defesa de Bolsonaro, perguntou a Cid durante o interrogatório no STF, em 9 de junho, se ele havia conversado sobre o conteúdo de sua delação com outras pessoas pelo Instagram. Ele negou.

Em seguida, Vilardi questionou se ele conhecia um perfil chamado "GabrielaR702". Cid respondeu que Gabriela é o nome de sua esposa, mas que não sabia se esse era o perfil dela. Dias depois, a revista Veja publicou mensagens atribuídas a esse perfil, sobre a delação de Cid.

O objetivo dos advogados de Bolsonaro e de Câmara é invalidar o acordo de colaboração premiada de Mauro Cid e todas as provas derivadas dele, em um efeito cascata para derrubar os principais elementos da denúncia da Procuradoria-Geral da República.

Ao STF, os advogados do tenente-coronel negaram que ele fosse o autor do diálogo e pediram a investigação da conta. Moraes atendeu ao pedido e determinou que a Meta enviasse os dados. Nos dados enviados pela Meta, há o registro de uma conversa entre Kuntz, o perfil "GabrielaR702" e Paulo Amador Cunha Bueno.

Procura por familiares

A PF também investiga o relato da defesa de Cid de que Kuntz e Wajngarten tentaram contato com o delator por meio de uma de suas filhas menor de idade.

Wajngarten também teria procurado a esposa do militar. Segundo a defesa, Kuntz e Bueno também abordaram a mãe do tenente-coronel em eventos em São Paulo. "Cercaram-na no sentido de demover a defesa então constituída por Mauro Cid", informaram a Moraes.

Wajngarten rebateu publicamente o pedido de apuração do Supremo dizendo que o ministro estaria “criminalizando a advocacia” como uma forma de “ocultar a expressa falta de voluntariedade e a consequente nulidade da colaboração” de Mauro Cid no caso. O caso avança com celeridade no STF, com abertura de prazo de 45 dias para alegações finais. A previsão é que o julgamento de Bolsonaro, acusado de integrar o chamado “núcleo crucial” da trama golpista, ocorra entre o fim de agosto e o começo de setembro.

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