Vai para Belo Horizonte? Conheça três restaurantes que merecem entrar no seu roteiro
Per Lui, Odoyá e Pastaio oferecem uma gastronomia consistente sob as mãos do chef Yves Saliba
BELO HORIZONTE (MG) - Mais de dois mil quilômetros separam Recife de Belo Horizonte. A distância geográfica, porém, não impede que as duas cidades conversem no jeito acolhedor de receber à mesa. E, nesse quesito, os mineiros têm um representante à altura dos grandes anfitriões, com qualidades culinárias notórias.
Yves Saliba, sócio de três restaurantes com propostas distintas na capital mineira, assina uma cozinha que merece entrar no roteiro da sua próxima viagem gastrô fora do Nordeste…e eu te explico o porquê.
Afeto
Símbolo brasileiro da comida de afeto, a capital de Minas Gerais combina tradição e vanguarda em igual medida. É nessa cena gastronômica vibrante, onde ingredientes de Indicação Geográfica estão ao alcance das mãos, que Yves apresenta uma base essencial na sua cozinha: a formação familiar.
Foi na lanchonete da família, a Dona Empada, que Yves começou a trabalhar ainda garoto, em 2007. Ali aprendeu os ritmos da produção, o ofício do atendimento e, sobretudo, descobriu o prazer de cozinhar.
“Interesse que veio dele, como vocação”, afirma a mãe, Maria Aparecida, no mesmo salão onde o filho deu seus primeiros passos no mercado.
O curioso é que talento também pode vir de berço: a massa generosamente recheada da Dona Empada, uma das melhores que já provei, deixa evidente que boas referências o acompanham desde cedo.
Chef Yves Saliba (Foto: Victor Schwaner/Divulgação)Reviravoltas
Depois de investir em lanchonetes próprias e somar mais de dez unidades em operação em Belo Horizonte, vieram as reviravoltas dignas de um roteiro de cinema. Em 2017, Yves partiu para a Itália para uma temporada no estrelado Villa D’Amelia, em Benevello.
A viagem, inicialmente pensada para aprimorar a visão administrativa, acabou despertando seu interesse pela gastronomia profissional. De volta ao Brasil, esteve à frente de diversos projetos até, finalmente, inaugurar o Per Lui - uma das três casas que conheci nessa viagem.
Mas antes, um detalhe determinante: a pandemia de Covid-19. Após dias internado, Yves precisou recalcular a rota. Encerrou as operações que mantinha e idealizou um projeto que acabaria servindo de base para o restaurante que abriria em 2022, em sociedade com o médico Victor Hugo Barcellos, que conduziu seu tratamento durante a internação.
“Ele aprecia muito a gastronomia e tem um olhar atento às experiências de viagem. Aliás, adora viajar pelo mundo”, resume.
Per Lui
A proposta já começou ousada. Ser um restaurante que oferece apenas menu degustação. Opa! A primeira pergunta que me fiz foi: como se estabelecer no mercado oferecendo o modelo mais desafiador da cozinha profissional?
A resposta imediata veio do salão. Com poucas mesas, administradas apenas mediante reserva, a equipe consegue controlar bem a logística do serviço, até mesmo personalizando algumas situações. O outro ponto está no cardápio.
“Não consigo ficar muito tempo com o mesmo menu. Costumo mudar a lista completamente em até três meses”, diz o chef. O que seria um risco, soa um trunfo.
A novidade, com bom proveito de ingredientes sazonais, estimula não só o fluxo de turistas, mas de quem mora na cidade e busca novidade constante. Não à toa, o restaurante atrai de casais em ocasiões especiais a grupos que celebram aniversários e outras datas marcantes.
Peixe, curry e banana já figurou em etapa do menu degustação do Per Lui (Foto: Victo Schawaner/Divulgação) Se você planeja uma ida ao Per Lui, vale conferir o menu degustação da temporada. O preço médio por pessoa é de R$ 305 (+ R$ 305 com harmonização) para dez etapas. Luz baixa, louça de alto padrão e atendimento tranquilo recebem os visitantes.
O cardápio não é feito para contar uma história específica. Quer mesmo entregar uma boa variedade de pratos, que destacam a potência dos ingredientes. Assim, ele acertou no steak tartare de angus com brioche tostado, no peixe com curry e banana e no carré com purê de cenoura. Todos com contrastes claros e simplicidade bem conduzida.
Para acompanhar, a carta de vinhos assinada pelo sommelier Frederico Langbehn apresenta uma curadoria consistente, com destaque para rótulos brasileiros, especialmente os da Serra Gaúcha.
Odoyá
O segundo restaurante de Yves e Victor Hugo, agora com o sócio Giovanni Barcelos, lembra que Belo Horizonte sempre foi um território de versatilidade culinária.
Restaurante Odoyá (Foto: Victor Schwaner/Divulgação)Desde os tempos em que os mercados municipais reforçavam a cultura alimentar, abastecendo a cidade com queijos, embutidos e doces típicos, a capital aprendeu a equilibrar tradição com novas demandas gastronômicas.
Pois bem, o mineiro não possui praia. Mas, mesmo vivendo longe da costa, costuma adotar destinos litorâneos como sua extensão. E é nessa vibe de mar, que o Odoyá sugere pratos leves e descomplicados, que se comunicam bem com a estrutura da casa.
As referências na decoração, inclusive, são de viagens dos sócios a lugares como Fernando de Noronha (Pernambuco), Caraíva (Bahia) e Jericoacoara (Ceará).
Produção com Bowl é destaque no Odoyá (Foto: Victor Schawaner/Divulgação)Um cenário solar e despretensioso, com destaque para os bolws que combinam opções refrescantes como salmão com laranja e mel, mix de folhas, gohan, milho torrado e sunomono (R$ 62).
A lista ainda contempla produções como costela assada, chorizo angus e risoto de moqueca. Isso sem falar nas opções do menu executivo, que é oferecido na hora do almoço, com sugestão começando a R$ 56, mais sobremesa por R$ 15.
Pastaio
“O pastaio é uma casa de pasta fresca. E o mais legal disso tudo é que, cada vez que eu me aprofundo em um estilo de cozinha, eu melhoro como cozinheiro. Então, quando a gente começou o Per Lui, que foi a nossa primeira casa há quase quatro anos, o nível das nossas massas do menu degustação era um.
E, hoje, três anos depois, com o Pastaio aberto, a gente tem um nível muito mais delicado, mais fino”, resume Yves, acrescentando o quanto uma nova operação consegue agregar a outra.
Carbonara no Pastaio (Foto: Victor Schwaner/Divulgação)E é aqui, onde o chef consegue colocar boa parte da sua temporada na Itália em prática. No cardápio estão clássicos que o mercado adora, como o carbonara. E, este, deve mesmo entrar na sua lista de pedidos no restaurante. A massa artesanal combina delicadamente com o queijo canastra e o guanciale defumado feito na casa (R$ 79).
Outro indispensável é o parppadelle com ragu de músculo bovino, servido com queijo grana padano (R$ 82). A massa consistente se envolve bem no molho encorpado, que combina potência de sabor e textura sedosa.
O resultado é um prato reconfortante, assim como a colherada que se deve dar no tiramisù (R$ 37). Para completar, vale acompanhar a movimentação da casa, que funciona quase de maneira orquestrada com a cozinha aberta para o visitante.
SERVIÇO:
Per Lui
Endereço: Rua Muzambinho 608, Serra, Belo Horizonte (MG)
Fone: (31) 98365-9397
Instagram: @perluibh
Odoyá
Endereço: Rua Pernambuco, 797, Savassi, Belo Horizonte (MG)
Instagram: @odoya.cozinha
Pastaio
Onde: Av. Getúlio Vargas, 58, Funcionários, Belo Horizonte (MG)
Instagram: @pastaiobh
*O repórter viajou a convite da Documennta Comunicação

