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Ministros do STF se deparam com hostilidades no Brasil e no exterior

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro tentam intimidar os magistrados com gravações

Foto: Reprodução/Instagram

No último dia 4 deste mês, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, teve que interromper um jantar que realizava na cidade de Porto Belo, em Santa Catarina, e ser escoltado depois que bolsonaristas o hostilizavam do lado de fora do local. O mesmo ministro foi abordado e provocado por uma mulher enquanto caminhava em Nova York no domingo (13). Outros ministros do STF também foram hostilizados e ameaçados por manifestantes na cidade americana no mesmo dia. O fato é que, neste mês, o que tem se observado é o aumento no número de hostilidades contra representantes do Supremo.

Em comum, as ameaças em vídeos que circulam nas redes sociais. "Cuidado, hein? O povo brasileiro é maior do que a Suprema Corte" foi uma das frases proferidas contra o ministro Luís Roberto Barroso. 

O ministro Gilmar Mendes também foi alvo de ameaças dos manifestantes. Em um outro vídeo, uma das pessoas que protestava em frente ao hotel onde estão hospedados os membros do STF grita: “o que é seu está guardado, seu bandido”.

No mesmo dia, várias pessoas vestidas de verde e amarelo gritavam palavras de ordem contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como “ei, Xandão, seu lugar é na prisão”. O fato é que, desde o resultado das eleições que definiu o nome de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o novo presidente da República de 2023 a 2026, o número de manifestações de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) tem aumentado consideravelmente.

Desde o dia 31 de outubro que apoiadores estão montando acampamento em frente a quartéis em todo o País e caminhoneiros alinhados ideologicamente com o presidente Bolsonaro chegaram a parar seus veículos nas principais rodovias brasileiras.

As agressões aos magistrados não passaram incólumes dos membros do STF. Perguntado sobre o tema, o ministro Gilmar Mendes não titubeou. “Agressão não encontra abrigo na Constituição. É lamentável”, disse. O próprio ex-presidente Michel Temer (MDB), que também estava no encontro de Nova York, também se manifestou. “Polarização é útil, mas a radicalização, não. Lamentavelmente, isso ocorre neste instante”, frisou o emedebista, que também chegou a ser hostilizado na frente do hotel.

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Pernambuco (OAB-PE), Fernando Ribeiro Lins, as investidas contra os magistrados do STF são inaceitáveis. “Se há algum tipo de inconformismo, que se recorra. Mas jamais se deve atacar a qualquer autoridade que tenha dado uma decisão de cunho jurídico”, considerou.

Ainda segundo ele, as hostilidades são reflexo de um clima de polarização vigente no País. “(As pessoas) podem estar contaminadas pelo período eleitoral e se acham no direito de agredir as autoridades”, frisou. 

O entendimento do cientista político Augusto Teixeira é de que, apesar de desacordos com decisões do STF não ser uma novidade na sociedade, os atos deste ano podem desencadear uma crise de imagem do Brasil no exterior. “Esse tipo de atividade hostil pega mal para investidores e para a própria opinião pública internacional. Os membros do Supremo, em tese, devem ser blindados da política e não temos visto isso”, reitera.

Para ele, a postura tímida do presidente Jair Bolsonaro (PL) colabora para ações do tipo contra os magistrados. “É perigoso, pois em momento algum estamos vendo, por parte do presidente, um movimento para distensionamento. O que ocorre, basicamente, é uma legitimação dessas manifestações, demonstrando, assim, um flagrante desrespeito a representantes do Estado”, ponderou o especialista.

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