Sáb, 20 de Dezembro

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[Opinião] Renovação, traição e continuísmo

“As agruras de nossa irada e soberba condição humana são eternas, e como tais permanecerão”. (Housman)

Passado o período eleitoral, fica a lembrança de disputas acirradas e uma polarização com características maniqueístas.  De um lado aparecem candidatos que são apresentados como representantes de propostas de renovação política administrativa. Com o discurso aparentemente inovador, e se o candidato for jovem, as propostas reverberam com bem mais pujança. Acontece que a renovação não se limita e nem se encontra inerente à certidão de nascimento de nenhum candidato. Muitas vezes, o novo representa o velho. O que se tem é o continuísmo travestido de novidade, recheado de plasticidade para tentar encantar e seduzir o eleitor.

Representar o continuísmo, para muitos é tarefa fácil, principalmente quando se encontra rodeado de asseclas que vivem da mesa pública, voando sempre como ave de rapina, onde entra governo e sai governo e os abutres continuam, em uma clara demonstração de que tudo permanecerá do mesmo jeito. A perpetuação impede que novos quadros oxigenem a máquina pública, fazendo com que elas se alimentem do sobejo público. É justamente por aí que se constrói a traição, pois muitos apoiam candidaturas, na esperança de receber algum tipo de mimo oriundo do candidato vencedor.

Como disse Feurbach, às relações humanas são baseadas em interesses. Basta passar o período eleitoral para que se perceba o aparente “esquecimento” com quem até pouco tempo era lembrado e procurado pelos candidatos. Geralmente, o quadro administrativo é montado não por currículo ou perfil, mas pelos acordos. O Cardeal Richelieu já alertará que traição em política é questão de tempo. A mesma se torna mais contundente quando acontece rapidamente e oriunda de onde não se espera.

Mas se alguém prefere utilizar o tempo para uma boa leitura ao invés do reality show, saberá que na obra mais popular de Maquiavel ele disse que “... teus inimigos são todos os que se julgam ofendidos com o fato de estares ocupando o principado; e do mesmo modo não podes ter por amigos os que te colocaram, porque estes não podem ser satisfeitos como desejavam”.  Ai do governante que abandona os velhos aliados, pois o poder é efêmero e quando acaba o que lhe resta é o ostracismo, pois quem abandona os amigos, jamais terá a confiança dos inimigos.

Hely Ferreira é cientista político.

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