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Pernambuco perde Waldemar Borges Filho, um defensor da democracia e das causas populares

Velório do ex-deputado foi realizado nesta sexta-feira (29), na Assembleia Legislativa de Pernambuco

A luta pela democracia e pelas causas populares perdeu um dos seus mais aguerridos aliados: Waldemar Alberto Borges Rodrigues Filho. Deminha, como era conhecido, faleceu, aos 93 anos, de causas naturais nesta  sexta-feira (29). Ele deixa um legado de resistência e do bom combate, além da admiração e do exemplo de sua trajetória para familiares, amigos e admiradores. Borges enfrentou a ditatura militar e chegou a ter o mandato cassado pelo AI-5, em 1968, além de trabalhar pelo desenvolvimento agrário do Estado.

O ex-deputado foi velado no saguão do Edifício Governador Miguel Arraes, da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O corpo de Deminha, que chegou às 17h15, foi recebido sob aplausos. O sepultamento foi realizado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista.

Além da presença dos familiares e amigos, o carinho por Deminha ficou demonstrado nas quase vinte coroas de flores que chegaram ao velório, enviadas por personalidades como o prefeito João Campos; o presidente da Alepe, Álvaro Porto; o superintendente da Sudene, Danilo Cabral, e a esposa, Ana Lucia; além de entidades como o SINPRF-PE e o NAF, e também o Partido Socialista Brasileiro (PSB)

Deminha deixa a esposa, Lucia Borges Rodrigues, quatro filhos — entre eles o deputado estadual Waldemar Borges (PSB) — e sete netos. Assim que o corpo chegou, o irmão mais novo de Deminha, Ricardo Borges, estendeu a bandeira do Clube Náutico Capibaribe, time do falecido, e puxou o grito de guerra dos alvirrubros, que foi seguido por todos.

Luta e afeto
A missa de corpo presente foi celebrada pelo padre Fábio Potiguar dos Santos, do município de Currais Novos (RN). Capelão da Igreja das Fronteiras, onde Dom Helder Câmara viveu e atuou, está há dez anos no Recife. Militante dos direitos humanos, o religioso fez questão de traçar um perfil do ex-deputado Waldemar Borges Filho. 

"Mesmo nos anos mais difíceis, ele tinha um lado. E o lado era com companheiros de sonhos e de luta. Um homem que fez oposição ao regime de exceção, se escondeu no seminário de Olinda no período da ditadura. E era um homem do afeto e de boas gargalhadas", disse o padre. 

Inspiração
O deputado estadual Waldemar Borges, que já havia divulgado uma nota pela manhã sobre a morte do pai, disse, durante o velório, que esse é um momento de muita dor para a família, os amigos e todos que conviveram com Deminha, mas era um momento também de gratidão. “Um exemplo de vida, de decência, de correção de maneira altiva e generosa como viveu. Tudo isso é o legado que ele deixa e que vai nos inspirar enquanto tiver por aqui a mim e todos que conheceram ele, conviveram com ele, tiveram esse privilégio de privar da amizade dele”, disse.

Waldemar Borges: “Um exemplo de vida, de decência, de correção de maneira altiva e generosa como viveu"   Foto: Paullo Allmeida 

Retidão e coragem
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, esposa do deputado Waldemar Borges, afirmou que o sogro tem uma história de retidão, de dedicação ao outro, de coragem e de combatividade. “Foi um parlamentar aqui em tempos muito duros, tempos de chumbo e teve a coragem de salvar muitas vidas e fazer o bom combate. Pessoas assim, nesses tempos tão desumanos, é que fazem falta”, lembrou. 

A governadora Raquel Lyra (PSDB) não pôde comparecer ao velório, mas lamentou a morte de Deminha por meio de um texto nas redes sociais. “É com pesar que recebi hoje a notícia do falecimento do ex-deputado estadual Waldemar Borges Rodrigues. A minha solidariedade a seu filho, deputado estadual Waldemar Borges, e em nome dele, à família e aos amigos neste momento de despedida”, escreveu a governadora.

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), ressaltou, no velório, o legado que Deminha deixa às novas gerações. “A gente, que é mais jovem, tem que conhecer a nossa história, tem que ter boas referências de alguém que resistiu contra a ditadura, que esteve na militância política e (teve) mandatos populares como uma marca da sua vida. “É muito importante a gente lembrar dessas histórias para poder construir um futuro melhor, um futuro digno”, afirmou o prefeito. 

O presidente do PSB estadual, deputado Sileno Guedes, ressaltou que Deminha foi um democrata, um homem que sempre esteve perto das causas populares, com serenidade, mansidão e capacidade de aglutinar. “Ele deixa um legado que a gente vai ter muita alegria de estar sempre consultando a história por ele construída”, salientou o deputado.

O ex-vereador de Olinda Marcelo Santa Cruz,  integrante da Comissão da Verdade e irmão do desaparecido político Fernando Santa Cruz, lembrou que primeiro voto dele foi em Deminha. “Participei de sua campanha para deputado estadual, e Oswaldo Lima Filho para deputado federal, em 1966, fiz parte do núcleo estudantil da Faculdade de Direito da UFPE. fomos todos cassados: os parlamentares, pelo AI-5; os estudantes, pelo Decreto de  Lei 477/69”, recordou ele.

Para Santa Cruz, Deminha será sempre a referência dele de político, pela integridade coerência e compromisso pela radicalidade em defesa da democracia. “Estou muito pesaroso com o seu encantamento, Deminha. Presente agora e sempre”, complementou.

Francisco de Assis Barreto da Rocha Filho, o Chico de Assis, que foi secretário da Prefeitura do Recife, com Jarbas; do Governo do Estado, com Roberto Magalhães e também ex-preso político, assim como Deminha, relatou que o nome do ex-deputado está inscrito no panteão dos que compuseram a resistência à ditadura civil-militar de 1964, “sendo por ela cassado pelo famigerado Ato Institucional Nº 5”.

“Do ponto de vista pessoal, além de amigo e companheiro em várias lutas do seu filho — o deputado estadual Waldemar Borges — registro com imenso orgulho ter sido em Deminha o meu primeiro voto. Impedido de votar no pleito majoritário — então relegado a condição de eleição indireta  — compus minha chapa proporcional com os nomes de Andrade Lima Filho, para deputado federal, e Waldemar Borges Filho, para deputado estadual. Pernambuco e o Brasil estão hoje de luto, envoltos na tristeza por tão irreparável perda”, afirmou.

Entre os presentes ao velório de Deminha também estavam o deputado estadual João Paulo (PT), o vereador Samuel Salazar (MDB) e o deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB)  

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