A fuga de talentos no Brasil e os desafios da internacionalização
No contexto da internacionalização, é preciso compreender que diferentes agentes perseguem objetivos
A fuga de talentos no Brasil é um fenômeno complexo, geralmente associado à busca por melhores condições de trabalho, reconhecimento profissional, segurança e qualidade de vida em outros países. Determinar de quem é a culpa exige uma análise multifatorial. De um lado, há o Estado, que falha em garantir políticas públicas eficazes de valorização da educação, ciência e inovação, bem como em oferecer segurança, estabilidade econômica e oportunidades. Por outro lado, o setor privado também contribui ao não reconhecer adequadamente o valor de profissionais altamente qualificados, limitando investimento em pesquisa, desenvolvimento e carreira. Soma-se a isso a instabilidade política e econômica que desmotiva talentos e afasta investimentos. A responsabilidade, portanto, é compartilhada entre governo, instituições de ensino, empresas e até mesmo a sociedade, que muitas vezes não valoriza o conhecimento como bem estratégico.
No contexto da internacionalização, é necessário compreender que diferentes agentes perseguem objetivos distintos, ainda que sob o mesmo rótulo. Uma empresa ou start-up visa, prioritariamente, expandir mercado, captar investimento, ganhar escala e competitividade global. A internacionalização aqui é estratégica, voltada para lucro, crescimento e inovação. Já uma entidade representativa, como associações de classe ou consórcios de exportação, busca promover um setor ou segmento, facilitando a inserção coletiva de empresas no exterior e fortalecendo sua imagem internacional.
No caso de órgãos públicos, como ministérios, agências de fomento e embaixadas, a internacionalização pode estar alinhada a políticas de Estado para projeção de soft power, atração de investimentos estrangeiros, promoção cultural e científica, ou ainda cooperação bilateral e multilateral. Nessas instâncias, a internacionalização é mais institucional e diplomática, com fins estratégicos amplos que nem sempre convergem com os interesses empresariais imediatos.
Quando esses objetivos distintos são comunicados de forma genérica como sendo simplesmente “internacionalização”, ocorre uma diluição do sentido estratégico. Isso pode gerar desalinhamento de políticas públicas, desperdício de recursos, frustração de expectativas e, em última instância, ineficiência. Por exemplo, uma política pública que oferece incentivos genéricos à internacionalização pode não atender adequadamente nem as demandas de uma start-up que busca aceleração no Vale do Silício, nem as de uma universidade que deseja firmar parcerias de pesquisa na Europa.
Esse tipo de confusão também dificulta a criação de métricas de avaliação, pois os indicadores de sucesso variam conforme o objetivo: aumento de exportação, captação de investimento, visibilidade institucional, cooperação acadêmica, etc. Assim, a falta de clareza sobre o que se entende por internacionalização pode levar à formulação de políticas públicas equivocadas, perda de competitividade e desmotivação de talentos que poderiam ser retidos ou atraídos por ações mais bem direcionadas.
Internacionalização não se resume a abrir um escritório achando que vai conquistar e abraçar um continente. Trata-se de uma jornada estratégica, multidimensional e profundamente alinhada aos objetivos específicos de quem a empreende.



