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O cenário atual do mercado de capitais

Eduarda Vieira, do Inspiração Invest e João Arthur Almeida, especialista em investimentos pela AnbimaEduarda Vieira, do Inspiração Invest e João Arthur Almeida, especialista em investimentos pela Anbima - Divulgação

Camila Haeckel e Eduarda Vieira, do Inspiração Invest, parceiras do Folha Finanças, entrevistam nesta semana João Arthur Almeida. Ele é CGA e especialista em investimentos pela Anbima (CEA), a Associação Brasileira dos Mercados de Capitais.

João Arthur comenta sobre o atual momento no mercado de capitais, que vem tendo um exponencial aumento no número de investidores. E fala um pouco sobre a sua filosofia ao selecionar ativos e montar um portfólio.

Confira a entrevista a seguir.  

O que você avalia na hora de escolher uma ação para investir?

Eu realizo uma análise minuciosa, iniciando pela avaliação qualitativa da empresa, que envolve uma consideração das vantagens competitivas, análise setorial, análise da gestão e se avalia todo o histórico de resultados da companhia.

Análises no padrão Porter e SWOT, que são modelos simples, mas eficientes, ajudam você a entender o perfil qualitativo da empresa. Após isto, segue-se para uma análise quantitativa de uma série de dados que ajudam você a contar a história daquela empresa, entre eles ROIC, margens, ROE, indicadores específicos do setor, cada segmento tem indicadores relevantes específicos.

Após as duas análises já terá uma boa ideia sobre o negócio. Aí começa a parte mais difícil, realizar o “valuation”. Isto é, estimar o quanto aquela empresa vale de fato. O investidor, em tese, só deveria comprar uma ação se o preço dela estiver menor do que o seu real potencial, pois só assim ele ganhará dinheiro, conforme o preço for convergindo para o valor justo.  

Realizar toda esta análise e ainda o valuation não é tarefa fácil. Mesmo para profissionais é um desafio tremendo. Por isso, para a pessoa física comum, que não trabalha no mercado, investir sozinho em ações é algo complicado. Eu acredito que faz mais sentido investir via fundos de investimento, ETFs (fundos de investimento negociados na Bolsa de Valores como se fossem uma ação) ou terceirizar o trabalho para uma casa de análise de investimentos ou um profissional da área.

Como você avalia o fenômeno dos ETFs?

Primeiramente, para quem não sabe, ETFs são fundos de investimento negociados em bolsa. Muita gente acha que são fundos passivos, mas isto não é verdade. Existem também ETFs ativos (onde o gestor está ativamente tentando bater um índice de referência). Mas, os fundos ficaram famosos justamente por ser em sua grande maioria passivos, isto é, eles não tentam superar o mercado, mas apenas acompanhar ele.

Um gestor ativo, por exemplo, tenta superar o índice Ibovespa, que mede o desempenho do mercado brasileiro. Já um ETF do Ibovespa apenas acompanha este índice.

E por que os ETFs têm crescido tanto? Porque estudos têm mostrado cada vez mais que a grande maioria dos gestores ativos falham em bater o mercado. Os ETFs são alternativa que por terem uma estrutura muito simples possuem taxas muito baixas. Essas taxas mais baratas acabam muitas vezes fazendo sentido para o investidor individual e levando eles a ter uma performance superior a longo prazo.

Então eu acredito que ETFs são mais uma alternativa interessante no cardápio de alocação de capital do brasileiro. Está aumentando bastante o número de alternativas de ETFs no Brasil, e vai crescer cada vez mais.

Eu gosto também de fundos ativos, pois tem alguns gestores que fazem valer muito a pena as taxas incorridas para investir com eles, porém, encontrar estes gestores não é fácil, aí entra o trabalho de um bom profissional.

Como você avalia o fenômeno dos IPOs no Brasil?

Muita gente tem se assustado com o número de novas empresas indo à bolsa, sobretudo por ter sido este um ano de pandemia. De fato, batemos recordo no número de IPOs. E de fato o momento de mais IPOs costuma preceder quedas do mercado, pois os empresários aproveitam para ir à bolsa quando o valor de suas empresas está sendo maximizado. Porém, eu enxergo essa onda de novas empresas sob a ótica otimista.

Tivemos uma série de excelentes empresas abrindo capital no Brasil. Você vê uma Petz, a Rede D'Or. Além destas, tiveram ainda negócios muito interessantes relacionados à tecnologia, algo que nossa bolsa era muito carente. Cito como exemplo a Enjooei e a Méliuz.

Então por mais que esses negócios tenham vindo à bolsa “caros”, em algum momento essas ótimas empresas darão a oportunidade do investidor se tornar sócio destes negócios. Portanto, para mim, esta entrada de novas empresas é muito positiva. Temos 3 milhões de investidores e muito dinheiro ainda para entrar na bolsa, precisamos de novas companhias como opções.

Você vê sinais de bolha no mercado?

Não vejo sinais de bolhas no geral. Eu vejo alguns ativos negociando a patamares que eu julgo exagerados. E vejo alguns sinais pontuais de irracionalidades. Como por exemplo, tem sido relativamente comum IPOs subirem mais de 100%no dia de estreia nos Estados Unidos. Este não é um sinal de racionalidade no mercado. Mas para um mercado ser classificado como bolha, estamos falando que se ele cair 30% ainda estará caro. Não é o caso hoje nem no Brasil e nem nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que alguns ativos parecem caros eu vejo oportunidades em setores que foram deixados de lado pelo mercado. Mesmo nas empresas de tecnologia mais famosas dos Estados Unidos, eu ainda vejo boas opções de investimento. Portanto, ainda sobram bastantes opções de investimento para quem é diligente.

Principalmente setores classificados como da “velha economia”, que foram colocados em patamares muito baratos.

Recomendações de leituras para entender mais sobre o mercado de capitais?

Livros que mostram a filosofia de três grandes investidores e são essenciais para mim:

- O Jeito Warren Buffett de Investir

- O Jeito Peter Lynch de Investir

- O Investidor de Bom Senso

Para quem está mais avançado, os livro do Damodaran, que ensina, sobretudo, valuation, são muito bons.

Para você, o que é o mais importante para o investidor individual?

É curioso que o investidor individual está sempre tentando encontrar a próxima Magazine Luiza, quando na verdade isto é algo extremamente improvável de se achar. E mesmo que o investidor ache um ativo como a próxima Magazine Luiza, sabemos que é improvável que ele mantenha em carteira durante todo o processo de valorização.

O investidor individual deveria focar no que ele pode controlar, que é o asset allocation (divisão percentual entre classes de ativos do portfólio), e ser eficiente na escolha dos ativos.

Não adianta complicar demais a estratégia de investimentos. John Bogle, em seu livro O investidor de Bom Senso, mostra como uma estratégia simples é a mais eficiente, principalmente para pessoas comuns.

Portanto, para a pessoa física que não é do mercado, foque em ter uma boa alocação de ativos e condizentes com o seu perfil, pois isto vai lhe permitir seguir na jornada a longo prazo. Além disso, comece o quanto antes a investir e tente aportar o máximo que seja possível para você, dessa forma você vai estar no caminho certo para ter sucesso no mercado.

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