Momento histórico da democracia
A economia brasileira sempre exposta aos desígnios políticos
Apesar de uma parcela da sociedade se mostrar dividida entre uma majoritária indiferença silenciosa e uma insistente ideologia entreguista, incluo-me num outro grupo de percepção, justo o que entende a importância do momento histórico que o país agora atravessa. Afinal, para quem sabe da dimensão e do valor de uma democracia, cuja História do Brasil revela o quanto já esteve atacada pela síndrome do golpismo, assisti-la em episódios de resistência representa uma situação de enorme significado. Uma genuína lição para os que fragilizaram ou destruíram o regime democrático, seja por qual tenha sido o caminho escolhido.
Penso que o processo recente do julgamento que, efetivamente, decorreu de um ataque ao Estado Democrático de Direito representou, um certo grau de maturidade política. No entanto, o que houve de mais importante nisso foi mesmo o registro histórico de um marco inédito. Afinal, dele se pode extrair um senso educativo, pela amplitude das punições, algo que nunca foi alcançada pelos velhos protagonistas dessa mácula política. Isto representa uma situação fática. Quero crer que foi construído um "túnel do tempo", cuja passagem deixa para trás um sentimento incômodo, no qual se moldou um vetor político manchado por um "laboratório de golpes".
De fato, pela primeira vez, um presidente e alguns militares sentiram na própria pele o tamanho de um crime, representado pelo descumprimento da Constituição que juraram, justo por negarem o real valor da democracia. Claro que quem tem na sua essência indiferença ideológica ou algum viés autoritário, não consegue enxergar, conceituar e mensurar essa grandeza. Vale aqui realçar que custou muito caro ao Brasil viver os tempos de sufoco libertário, gerado por regimes de exceção. Assim, ignorar o compromisso de parte de uma geração, que foi às ruas pedir por eleições diretas e uma Constituinte, parece-me uma atitude de brutal desrespeito civil.
Dito isso, qual a relação desses fatos históricos com o cotidiano econômico? Diante de um país onde a economia sempre se mostrou sensível aos humores políticos, o que esperar das reações desse julgamento? Para mim, a incredulidade derivada de fatos recentes, como a "idolatria ao pavilhão americano" e a priorização de uma "anistia extemporânea" antes de uma sentença judicial desfavorável, além de ser risível foi também um ensaio do mal que se pode promover na economia.
Nesse triste desenho de um mundo surreal, por mais que não se queira admitir uma normalidade inesperada na conjuntura econômica, movimentos políticos de endurecimento com relação às consequências do julgamento, são preocupantes. Exemplo? As novas ameaças do Governo Trump, que sustentam uma ação política apenas pautada por meros interesses individuais. Só neste particular, dar para notar o nível da incredulidade desse tipo de iniciativa. Que o digam as perdas internas dos importadores americanos e, por extensão, dos exportadores nacionais. Será que irão aceitar, passivamente?
Bem, cabe sempre lembrar que, nesse contexto atípico, fora dos padroes convencionais, os efeitos reativos sobre a economia tendem a acontecer. E em mão dupla. É como diz o adágio popular: pau que bate em Chico, também bate em Francisco. Afinal, as dores serão comuns às partes.



