Seg, 15 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Sinais de Avisos Prévios

O que há de estratégico entre a diversidade de conteúdos audiovisuais e a regulação de streamings?

Alfredo BertiniAlfredo Bertini - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Acho que, por trás de um certo "topete alaranjado", há uma cabeça que sabe bem o quanto é estratégico exercer o poder econômico e geopolítico. Até mesmo, pela sua condição empresarial de quem pode enxergar o sentido dos negócios e, por extensão, de tudo mais que possa ser extraído para lhe garantir o supremo poder, enquanto meta ideológica e política.

Está aqui uma sutileza do ofício público trumpista, que poucos reconhecem e muito outros não deram a devida importância. Enquanto o procer da causa do MAGA se mantiver firme no seu propósito natural de também defender o conteúdo das "big techs", faz todo sentido reconhecer esse movimento como estratégico para a economia americana. Tal e qual, deve-se também reconhecer seus surpreendentes instintos protecionistas, quando sai com seu ideal de "reserva de mercado" para o cinema americano, diante de ainda discretas ameaças que vêm de outros quadrantes, capazes de realizar filmes que gerem mercados. Que lógica faz por mover esse novo eixo que dá um dinamismo diferente a uma economia que, cada vez mais, trato aqui como o emergente "mercado dos intangíveis"?

Uma palavrinha mágica, que não está bem explícita para a sociedade, precisa ser posta à mesa: identidade Sim, o tratamento que norteia o lado de cima da América, tão ultrajada pelo debate político, aqui do lado de baixo dessa mesma América. Assim, a questão relevante para ser tocada no novo repertório das economias é uma tal identidade cultural. Ela é tão significativa para instrumentalização da política econômica que, ao sujeitar dados setores à regulação, capacita-se para influenciar, plenamente, desde o volume de incentivos fiscais e tarifas até a definição do que seja ou não estratégico. O gigantismo alcançado pelo setor trouxe para economia a certeza de que os negócios parecem estar por encontrar outro núcleo dinâmico. Por isso, não é à toa que o atual governo americano tem posto essas novas cartas no tabuleiro do jogo.

Como os sinais de avisos prévios já foram colocados nos seus mercados, a pressão dos agentes que produzem no nosso país seus conteúdos audiovisuais, já sinalizou para a classe política, que o tamanho do negócio não pode passar incólume, longe de uma inevitável regulação. Fortalecer a atuação no setor passa pela garantia do acesso dos consumidores aos produtos da prateleira de ofertas dos operadores de streaming.

O primeiro passo no legislativo foi dado nos últimos dias. A partir daí, é preciso avançar nas proposições para que o mérito econômico do setor audiovisual esteja mesmo valorizado. Conforme números que já apresentei aqui na coluna. Um ofício que corrobora toda sua importância pelo que há de mais justificável: o respeito à identidade cultural de um país com essa rica diversidade, que é o retrato fiel do Brasil.

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