Seg, 15 de Dezembro

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Um Ponto de vista do Marco Zero

Brasilidade. Ou o custo de clã inapto (e inepto)

Na prática, se converte em atos de patriotismo. E patriotismo é defender o país

O pensador britânico Thomás Paine (1737-1809) foi um dos fundadores da AméricaO pensador britânico Thomás Paine (1737-1809) foi um dos fundadores da América - National Portrait Gallery, Londres/Laurent Debos

Brasilidade é sentimento. Amor ao Brasil. Compromisso. E ao que compõe seus valores, sua arte, seu patrimônio, material e imaterial. Na prática, se converte em atos de patriotismo. E patriotismo é defender o país. Engajar-se nas suas causas.

O pensador britânico Thomás Paine (1737-1809) foi um dos pais fundadores da América. Testemunhou a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789). Compartilhou as ideias do liberalismo. E declarou-se republicano. Um de seus livros mais admirados é Common Sense (O Bom senso, editora Avis rara, São Paulo, 2022). Uma das conclusões mais árduas de seu pensamento é: “A grande força de uma nação não se encontra nos números, mas na unidade” (pg. 53).

Outra de suas afirmações apreciadas, fruto de sua experiência, é o valor da Constituição. E a importância de respeitá-la. Mantendo-a íntegra. Inteira. Sem apartar corpo e alma. O espírito constitucional da letra constitucional. Diz ele: quando a integridade republicana se corrói, a servidão se instala.

Paine assistiu a duas maiores revoluções modernas: a Americana e a Francesa. E observou o processo parlamentar de governança inglês. Percebeu riscos à democracia. Quanto a consolidação da República. E escreveu: “Existem caminhos pelos quais o poder se afirmará e dará o destino à América: voz do povo, força militar e rebelião”.

O Brasil tem nomes inscritos no livro exemplar de brasileiros: José Bonifácio e Joaquim Nabuco. Bonifácio foi ministro do Império, serviu a Pedro I, rompeu com ele e foi exilado em Portugal. Sua maior obra terá sido a costura política para manter a integridade territorial do país. Superando rebeliões e juntando os pedaços da desarmonia provincial. E quando, em 1831, Pedro I precisou de um tutor para seu filho, Pedro de Alcântara, não duvidou: José Bonifácio era o nome confiável. Embora rompido com o Imperador, aceitou o encargo.

O segundo exemplo de brasilidade é Joaquim Nabuco. Proprietário de escravos e de terra, ó Massangana, solo sagrado de Pernambuco, ficou a favor da abolição da escravatura. Conservador, em algumas oportunidades, votou com os liberais. Quando se sobrepunha, à sua consciência, o interesse do país.

Em 1900, desiludido com a República, deixou a vida pública. E recolheu-se à vida de escritor. Mas, o presidente Deodoro da Fonseca o convidou para ser o primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Era função relevante para o Brasil. Com embaixador à altura do cargo. Nabuco, mesmo monarquista, aceitou o convite. E serviu à República. Porque servia ao Brasil.

A falta de brasilidade de clã político da atualidade me lembrou a exemplaridade de Bonifácio e Nabuco. Notável contraste. Pois a família, tratada, tem processos da rachadinha. Concessão de medalhas a milicianos. Contas a ajustar com a Justiça por golpe de Estado. Agora, na categoria de clã opositor ao próprio país. Tecendo fios indignos de trama contra o superior interesse do Brasil.  

Ao pensar sobre tão ignominiosa façanha, verifico que a obra mais feia e pobre da família é a exemplaridade ao contrário. Legada ao Brasil. Na violência de parlamentares contra a direção do Legislativo. Na ação obsessiva contra a governabilidade do país. Um mal percorre a política brasileira. E há vacina. Bom senso, como disse Thomás Paine.      

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