“Desastre Total”: Os novos capítulos da franquia de documentários na Netflix
Coleção vasculha os bastidores do caos e transforma o absurdo em narrativa de streaming
Em 2022, a Netflix estreou “Desastre Total: Woodstock 99”, um documentário em três episódios que expôs o colapso de um festival que deveria ser a celebração da paz e acabou registrado como uma das maiores tragédias da indústria musical. O título não poderia ser mais certeiro, ali estavam jovens sem água, lama misturada a esgoto, violência, incêndios e uma organização que preferiu o lucro ao bem-estar humano.
O impacto foi imediato: o documentário entrou nos trends globais, consolidando-se como um filão que mistura escândalo, tragédia e voyeurismo do desastre.
Leia Também
• Netflix aposta em suspense contido com “O Jardineiro”
• “Despercebida” dá voz ao suspense sul-africano e conquista espaço na Netflix
• “O Eternauta” chega à Netflix como ficção que resiste ao tempo e aos clichês
Dois anos depois, a Netflix transformou “Desastre Total” em uma espécie de franquia. O que começou como a autópsia de um festival fracassado se desdobrou em retratos diversos de situações que, cada uma a seu modo, desviaram para o colapso.
Se o caso de Woodstock serviu como um cartão de visita, a plataforma trouxe novas histórias com o mesmo selo de caos. Políticos em queda, festas virais, seitas, shows fatais e até um navio transformado em pesadelo sanitário. Da lama de Woodstock às privadas improvisadas no convés de um cruzeiro, o que fica é a sensação de que, na cultura do streaming, nenhuma tragédia é desperdiçada. Pelo contrário, é reciclada em narrativa, editada em suspense e vendida como maratona de horror real.
O rótulo é o mesmo: “Desastre Total”. O cardápio de tragédias, agora, é variado. Confira:
Desastre Total: Prefeito do Caos
Retrata a queda de Rob Ford, ex-prefeito de Toronto, cuja carreira foi implodida após o vazamento de um vídeo em que aparecia fumando crack. O documentário de 49 minutos expõe como Ford tentou se sustentar atacando a imprensa, muito antes do estilo Trump, e como, mesmo diante do escândalo, manteve uma base de seguidores fiéis até seu colapso político.
Desastre Total: Storm Area 51
Com três episódios, a produção fala sobre a mobilização insana que nasceu de uma piada no Facebook: invadir a base militar mais secreta dos EUA, a mítica Área 51. O que era meme virou movimento real, com multidões cruzando o deserto, revelando o poder (e o perigo) da viralização digital.
Desastre Total: Garoto do Balão
Dirigido por Gillian Pachter, o documentário revisita o bizarro caso de 2009 em que o mundo acreditou que um menino estava preso em um balão voador. O episódio, transmitido ao vivo, terminou em farsa planejada para dar fama à família, rendendo prisões, restituições financeiras e uma mancha permanente no imaginário da mídia.
Desastre Total: O Verdadeiro Projeto X
Documentário sobre uma festa de aniversário na Austrália, em 2012, que saiu do controle após ser divulgada nas redes sociais. Inspirada no filme homônimo, a celebração virou caos urbano, com centenas de desconhecidos destruindo a rua onde a casa da aniversariante, uma adolescente, morava.
Desastre Total: Cruzeiro do Cocô
Revive o inferno vivido pelos passageiros do Carnival Triumph, em 2013, quando um incêndio deixou o navio à deriva sem energia e sem saneamento. Fezes espalhadas pelos corredores e improvisos desesperados transformaram um passeio turístico em uma metáfora grotesca do colapso de infraestrutura.
Desastre Total: Festival Astroworld
Analisa o show de Travis Scott em 2021, onde falhas na organização levaram à morte de cinco pessoas e centenas de feridos. Com relatos de sobreviventes e especialistas em segurança, o filme questiona a lógica predatória dos megaeventos que priorizam lucro acima de tudo.
Desastre Total: A Seita da American Apparel
Revela a ascensão e queda da marca que prometia revolucionar a moda, mas acabou afundada em crises financeiras, denúncias internas por assédio sexual e moral, além de abusos de poder.
Desastre Total: Mães Detetives
Resgata o fracasso de um reality show do canal Lifetime, onde mães foram expostas em meio a acusações de corrupção e tráfico de drogas. Um projeto de entretenimento transformado em escândalo televisivo.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.