Entre a lei e a sobrevivência, “Task” revela uma América onde ninguém é inocente
Mark Ruffalo vive um agente que investiga crimes e carrega uma culpa que não se prende a ninguém
A série “Task - Unidade Especial”, lançada semanalmente pela HBO Max, finalizou sua leva de episódios no último domingo. Criada por Brad Ingelsby, o mesmo roteirista da premiada “Mare of Easttown”, o novo drama do streaming mergulha no território da classe trabalhadora da Filadélfia, onde cada erro tem um preço alto.
Mark Ruffalo interpreta Tom Brandis, um agente do FBI que retorna ao campo depois de uma tragédia pessoal, para liderar uma força-tarefa que investiga uma sequência de assaltos a depósitos clandestinos ligados a gangues de motociclistas.
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Mas o que poderia ser apenas mais um drama policial ganha densidade nas mãos de Ingelsby, que prefere observar as rachaduras humanas sob o uniforme da lei. Ao mesmo tempo, Tom Pelphrey dá vida a Robbie Prendergrast, um homem comum que cruza o limite entre o certo e o errado movido pela falta de alternativas, um espelho imperfeito do protagonista.
A moral dos personagens
“Task” acerta ao fugir do formato de “quem matou quem”, transformando a experiência audiovisual em um retrato da falência moral de um país inteiro. A fotografia fria e o ritmo contido podem ser um problema para quem curte algo mais acelerado. Porém, a história pode fazer o público lembrar que, muitas vezes, a tensão não está nas perseguições, mas nos silêncios, nas casas pequenas, nos olhares que evitam o outro lado da rua.
O personagem de Ruffalo carrega o peso de um homem que já não sabe se está caçando criminosos ou vivendo no modo automático, enquanto Pelphrey faz de seu personagem um lembrete cruel de como o desespero pode ser um tipo de condenação.
Por que assistir?
A série também encontra força no que não diz. Ingelsby filma seus personagens com empatia, mas sem absolvição. Ele compreende a falência das instituições, o cansaço da classe trabalhadora e a falta de horizontes. E, mesmo assim, recusa a redenção fácil. É um retrato da América que ainda acredita em justiça, mas já não acredita mais em salvação.
Com sete episódios, “Task” é concisa, mas não apressada. Sua narrativa se sustenta em diálogos econômicos, atuações intensas e uma atmosfera de melancolia que nunca abandona a tela. O crime é só a superfície, o que está em jogo é a culpa, o arrependimento e a impossibilidade de recomeçar. Ruffalo e Pelphrey entregam performances que extrapolam o gênero e transformam o drama policial em uma espécie de luto coletivo.
“Task” é o tipo de série que reafirma a força da HBO Max em dramas de textura realista, mais preocupados em escutar o som do colapso do que em transformá-lo em espetáculo.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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