"A finitude poderia ter chegado para mim", diz Tony Ramos sobre problemas de saúde
Ator conta, em entrevista ao videocast 'Conversa vai, conversa vem', o que sentiu ao sofrer risco de morte
No ano passado, Tony Ramos deu um susto no público ao sofrer um hematoma subdural que o fez encarar duas cirurgias em menos de 48 horas. Entre elas, teve uma convulsão. Em entrevista à jornalista Maria Fortuna, o ator conta que, diante do risco de morte, veio a noção de finitude. Com 76 anos de idade, mais de 61 anos de carreira e 152 personagens em sua trajetória profissional, o artista também refletiu sobre a passagem do tempo e disse que sobrevive, mas não supera a dor da perda de amigos. Afirmou ainda que é bem resolvido com o ser humano que se tornou. Leia a seguir:
Foi Lidiane quem te encontrou com metade do corpo caído da cama quando sofreu um hematoma subdural ano passado, quando enfrentou duas cirurgias. Você deu um susto na gente, Tony...
Dei um susto em mim mesmo. Veio a noção da finitude. Quando acordei na UTI, senti uma mão aqui...era Lidiane. Estava filmando, tive uma dor no miolo da testa e pedi a ela que me acordasse quando o carro da filmagem chegasse. Tirei o sapato e não lembro de mais nada. Quando me encontrou, Lidiane se apavorou ligou para a médica, que mandou a ambulância. Acordei preocupado com o filme, falei com o pessoal da peça e lembrei do poema do Fernando Pessoa: "Eu não possuo o meu corpo como posso eu possuir com ele?", como se repetisse cenas da peça. Depois da última ressonância, o Paulo Niemeyer (neurocirurgião) olhou para mim e falou: "Bora, rapaz, trabalhar! Vai terminar teu filme e volta para a sua peça".
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Menor ideia. Eu nem pensei nisso. A finitude poderia ter acontecido quando tive a convulsão e precisou fazer a segunda cirurgia. Eu não mudei. Sou o Antonio, o Toninho da minha mãe, o Tunico dos amigos mais íntimos, o Tony que está dando esta entrevista. Continuo o mesmo cara, o mesmo homem preocupado com democracia, com liberdade, com o não ao preconceito, à intolerância, com a vida dos netos, dos filhos.
O que te move a continuar vivo?
O trabalho. E é olhar pra Lidiane de manhã e pensar no café da manhã. Não penso em aposentadoria. Sou aposentado pela lei, e isso ninguém me tasca. Mas posso diminuir o ritmo para aproveitar um pouco mais.
A dor de ir perdendo as pessoas queridas é a pior de envelhecer. Aliás, sempre pegam Tony Ramos para comentar a partida dos artistas que partem...
Normal que me perguntem. Sempre procuro lembrar as coisas boas que aquela figura deixou e estarão sempre presentes . A gente sobrevive às perdas dos amigos, das referências, das mentes brilhantes, mas a dor ninguém supera. Perdi um primo para a Covid. Sou pela ciência, pela lógica, pela vida, por uma presença que eu não sei qual é e chamo de Deus, pelos meus anjos da guarda. Aprendi com os indianos. Conheci um físico quântico indiano que nos orientava em "Caminho das Índias" .Quando perguntei como era ser físico e hiper-religioso ele fez assim (abre os braços e como se convocasse o mistério): “Mr. Ramos, acha que é mesmo o acaso?” Vamos caminhando e lidando com perdas, alegrias, nascimentos. Sou bem resolvido sobre quem sou. Um homem que não segue modismos, tendências. Viver é honrar o chão que piso e amar.

