Ana Suy lança novo livro no Recife e fala sobre democratização da psicanálise por meio da literatura
Publicação propõe reflexões psicanalíticas sobre o "eu" e sua relação com o olhar do outro
A Livraria Jaqueira da unidade Recife Antigo recebeu, na noite desta quinta-feira (25), o lançamento do livro “Eu só existo no olhar do outro?”, escrito pelos psicanalistas Ana Suy e Christian Dunker, dois dos nomes mais respeitados da psicanálise brasileira contemporânea.
A publicação, que surgiu de uma troca de ideias entre os autores, se destaca por não oferecer respostas prontas, mas sim por propor um espaço de construção de pensamento conjunto, repleto de sensibilidade, humor e densidade conceitual.
Durante a apresentação da obra, Ana Suy abordou o conceito que dá nome ao livro. Para ela, a afirmação de que só existimos no olhar do outro é, ao mesmo tempo, constatação e provocação.
“Sem o outro, a gente não existe. A gente é outro pra gente. Olha que louco que é isso: quando a gente pensa na gente, a gente pensa como é que a gente é visto pelo outro, porque afinal de contas, gente nunca olhou pra nossa própria cara”, explicou a autora. “A imagem que a gente tem de quem nós somos é essa ficção a partir do que a gente supõe ser pro outro”.
Escritora participou de um bate-papo com os fãs que formaram fila para ter a chance de entrar no auditório onde o evento aconteceu. Foto: Ricardo Fernandes / Folha de Pernambuco
Quem não conseguiu participar do bate-papo formou fila em toda a livraria na espera de um autógrafos. Foto: Ricardo Fernandes / Folha de Pernambuco
Após o bate-papo, Ana Suy participou de uma noite de autógrafos. Foto: Ricardo Fernandes / Folha de Pernambuco
Suy também refletiu sobre os efeitos psíquicos dessa dependência simbólica do olhar alheio. “Se a gente fica muito crente dessa ideia de que a gente é o que o outro vê, a gente também fica muito desamparado, refém daquilo que o outro diz que nós somos, o que muitas vezes não é verdade”.
A partir disso, a autora propõe uma leitura crítica da tese lacaniana segundo a qual “não há relação sexual”, interpretando o enunciado como uma metáfora da impossibilidade de alcançar o outro em sua totalidade.
“Entre mim e o outro tem a minha fantasia, entre mim e o outro tem a fantasia do outro sobre mim, e entre mim e mim tem a fantasia de quem eu sou pra mim”, afirmou.