Bell Marques recorda músicas antigas do Chiclete em show
Apresentação ocorre nesta sexta-feira (7), no Parador, no Recife Antigo
É difícil acreditar que Bell Marques (Washington Marques da Silva), o cantor baiano que por quatro décadas esteve à frente do grupo de axé Chiclete com Banana, tenha 64 anos e continue subindo ao trio elétrico nos carnavais da Bahia, e nos palcos de todo o Brasil pelo restante do ano. Nesta sexta-feira (7), ele traz ao Parador, no Recife Antigo, o show "Só as Antigas", em que recorda cerca de uma centena de músicas da carreira da banda que ajudou a fundar. Na lista interminável de hits, “Colar do Oriente”, “Cara Caramba”, “Gritos de Guerra”, “Lindo É Viver” e “Ele Não Monta na Lambreta”. Ele também reedita “Diga que valeu”, “Vumbora amar” e “Não Vou Chorar”.
Bell surpreendeu os fãs ao anunciar sua saída do Chiclete, seguiu em estrada solo e lançou, em São Paulo, com ingressos esgotados, no ano passado, o DVD "Fênix", gravado em Fortaleza na virada do ano. Ele não gosta de levantar polêmica sobre sua saída do Chiclete, que continuou sendo tocado por seus irmãos. Mas neste ano, por exemplo, embora Bell tenha saído no trio do Camaleão, no Carnaval de Salvador, o Chiclete com Banana não saiu como bloco, tendo tocado apenas em camarotes.
No show desta sexta-feira, que tem início às 21h, e os ingressos sendo vendidos nas lojas Chili Beans e online na bilheteria digital por R$ 200 (unissex), também toca a dupla Amigos Sertanejos. O projeto "Só as Antigas" já passou por Salvador, Aracaju, Brasília e São Luiz. Informações: (81) 3441-9660.
Confira a entrevista com o artista:
O que diferencia o som que você vem produzindo na carreira solo daquele que você fazia quando estava à frente do Chiclete com Banana?
Na verdade, muito pouco. Os fãs que me acompanham desde o Chiclete não me seguem à toa, mas também por reconhecerem a sonoridade, que sempre foi uma marca forte minha. A voz é a mesma, os arranjos continuam os mesmos, porque sempre foram meus, e a identidade está lá. Sou o mesmo Bell Marques de sempre.
Em 2013, na época de sua saída do grupo, foram muitas as repercussões e polêmicas, até mesmo com protestos dos fãs (tietes), com evento em rede social e a criação da hashtag Fica Bell. Naquele momento, Carlinhos Brown teria comentado sobre o desgaste do axé e sua coragem em sair da zona de conforto, em “descer do Olimpo”. Como você encara a mudança hoje, quase quatro anos depois? Pensa que deixou a banda que te levou à fama no momento certo?
O momento foi certo pra mim. O Chiclete nunca seguiu a maré de outras bandas, sempre foi um caso à parte e foi sucesso por tanto tempo, acima da média. Sempre fui movido a desafios e o Chiclete não me oferecia mais isso. Eu precisava de uma mudança e, sim, saí da zona de conforto por isso. A vida do artista, a estrada, não é fácil como as pessoas pensam. São muitos sacrifícios e se a rotina não te causar mais frios na barriga, não gerar expectativas, fica impossível continuar. Precisei arriscar pra continuar cantando.
Você concorda que exista um desgaste do axé? Por que motivos?
Existe uma mudança na música de maneira geral. Assim como o Sertanejo teve seu auge há anos atrás, se apagou um pouco e voltou, isso acontece com outros gêneros. As pessoas usam o Axé como exemplo, mas quem vai ser louco de dizer que o Rock morreu, que o Samba está desgastado, só porque eles não mandam, digamos assim, no mercado? A música sempre foi cíclica. Tenho quase 40 anos de carreira e loto shows em todo o Brasil. Temos Ivete, Brown e Claudinha em destaque na mídia nacional a todo momento. Não vejo como desgaste, mas como um processo natural.
Você sente saudades dos primórdios do Chiclete, ainda com Missinho nos vocais? Quais suas melhores recordações?
Tenho muito orgulho da história do Chiclete, de como as coisas aconteceram e minha participação no processo. Não sou uma pessoa saudosista, presa ao passado, mas lembro com muita alegria do que passamos pra alcançar o sucesso.
Como sua saída do Chiclete mexeu com seu modo de compor e encarar a música e o meio artístico?
Cheguei numa fase da carreira, depois de quase 40 anos, em que não preciso provar nada pra ninguém. Não quero ficar escravo do sistema que exige que você lance uma música a cada 15 dias pra ver qual vai dar certo. É desgastante pro artista, é muita informação pro público, mas entendo que a internet e os novos meios exigem um pouco essa velocidade. Aprendi muito com Rafa e Pipo Marques (os filhos, da banda Oito7nove4), que são de uma geração diferente e já vêm essas mudanças como algo natural, e continuo aprendendo. Só deixa de evoluir quem quer.
Como é fazer um show apenas com sucessos de antigos carnavais? O público não estaria interessado em ouvir também seu repertório mais recente, feito para o DVD "Fênix", lançado em 2016? Ou existe uma parte do show em que - mesmo sendo dedicado ao repertório das décadas de 1980, 1990, e 2000 - você se concentra nestas músicas novas?
Estou com duas turnês percorrendo o Brasil ao mesmo tempo. O show que fiz aí em Recife, no Parador também, no último dia do Carnaval, não foi o Só As Antigas. Os dois projetos circulam, assim como o Bloquinho do Bell, em que toco no pranchão e que começou em Fortaleza e vai passar agora em Salvador. Existe público interessado em um, no outro e nos dois e preciso atender essa demanda.
Porque você escolheu Fortaleza para a gravação do DVD, e não sua cidade, que é Salvador? E para lançá-lo, São Paulo (pelos ingressos esgotados também neste show)?
Fortaleza é quase uma segunda casa pra mim, toquei no revéillon lá por quase 20 anos, sempre estive com minha família lá e tem um significado importante neste meu recomeço, digamos assim, após sair em carreira solo. Salvador já havia sido palco de gravações de DVDs meus. O artista precisa mudar, se não se cansa e cansa o público. O lançamento em São Paulo foi algo natural que casou com a data que eu tinha show lá e uma antiga demanda dos fãs paulistas por projetos especiais na cidade.
E quando deve voltar de novo ao Recife? e qual sua expectativa para o show desta sexta-feira?
Estou muito ansioso. O show na terça de Carnaval foi muito emocionante e me deixou bastante motivado para voltar. Não tenho dúvidas de que será um lindo show.
Você está com quase 65 anos e faz shows longos, extenuantes, muitas vezes em cima do trio elétrico num sol muito quente. Como manter a forma e o pique com o passar da idade?
O segredo, eu digo sempre, é fazer o que se gosta e se cuidar. Não tem milagre! (Risos)

