Biblioteca Britânica reativa passe de Oscar Wilde retirado após condenação por homossexualidade
Há 130 anos, autor de 'O retrato de Dorian Gray' foi preso em 1895 por 'indecência grave'
Em 1895, a Sala de Leitura do Museu Britânico cancelou o passe de leitor usado por Oscar Wilde após a condenação do escritor por “indecência grave”, quando a homossexualidade ainda era ilegal no Reino Unido.
Wilde era leitor autorizado da Sala de Leitura (atual Biblioteca Britânica) desde 1879. À época, a instituição não emprestava livros. Em 25 de maio de 1895, ele foi condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados e, por decisão da instituição, proibido de frequentar a Sala de Leitura.
No domingo (15), a Biblioteca Britânica anunciou que, 130 anos depois, o passe de leitor de Wilde será simbolicamente reativado e entregue a seu neto, Merlin Holland, numa cerimônia em 16 de outubro, aniversário do irlandês. O ator Rupert Everett, que interpretou o escritor no filme O Príncipe Feliz, de 2018, também estará presente.
O jornal britânico The Guardian perguntou a Holland como seu avô se sentiria com a decisão da biblioteca. “Provavelmente ele diria que ‘já era hora’”, disse ele, que organizou a correspondência de Wilde.
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Holland acrescentou que, quando o passe de leitor de seu avô foi cancelado, ele já estava preso havia três semanas e talvez nem tivesse ficado sabendo da decisão. “Só teria aumentado a angústia dele saber que uma das maiores bibliotecas do mundo o havia banido do mundo dos livros, justo quando a lei o havia banido da vida cotidiana”, afirmou.
A Biblioteca Britânica guarda uma das mais importantes coleções de manuscritos de Wilde em todo o mundo, incluindo rascunhos de suas principais peças, como O Leque de Lady Windermere, Uma Mulher sem Importância, Um Marido Ideal e A Importância de Ser Prudente. Laura Walker, curadora-chefe de arquivos modernos e manuscritos da Biblioteca Britânica, afirmou que o objetivo da reativação do passe de leitor é “homenagear Wilde”.
A relação do escritor com o Museu Britânico começou quando ele ainda era estudante e se mudou para Londres. No entanto, Wilde não tinha receio de criticar a instituição. Quando publicou seu longo poema A Esfinge, foi perguntado por que havia impresso tão poucas cópias. Ele respondeu: “Minha ideia inicial era imprimir apenas três exemplares: um para mim, um para o Museu Britânico e um para o céu. Mas tive algumas dúvidas quanto ao Museu Britânico”.
Para Holland, o neto, Wilde colocava “o céu e a si mesmo acima do Museu Britânico de um jeito provocador e arrogante”. “Foi um comentário levemente travesso sobre uma instituição muito solene, exatamente o tipo de coisa que ele consideraria um tanto empolada e convencional”, disse Holland.
O autor de O Retrato de Dorian Gray frequentava as altas rodas da sociedade londrina, mas caiu em desgraça após processar Lord Queensberry, que o havia acusado de ser “sodomita” ao descobrir que seu filho, Lord Alfred “Bosie” Douglas, era amante do irlandês. O processo acabou levando à condenação de Wilde.
Após a prisão dele, sua esposa, Constance, fugiu para a Europa com os dois filhos do casal, Cyril e Vyvyan, e mudou o sobrenome da família para Holland. Wilde morreu em 1900, em Paris, aos 46 anos e em extrema pobreza.

