Sáb, 06 de Dezembro

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Como o filme "Conclave" ajuda (ou não) a entender a escolha do novo Papa

A produção foi "bastante precisa, exceto em algumas coisas", segundo Kurt Martens, professor de direito canônico na Universidade Católica da América

Cena do filme 'Conclave' (2024)Cena do filme 'Conclave' (2024) - Foto: Divulgação

A partir desta quarta-feira (7), cardeais se reunirão no Vaticano para eleger o sucessor do Papa Francisco.

O processo, envolto em segredo, ocorre poucos meses após uma eleição papal ficcional ganhar tratamento hollywoodiano no drama “Conclave”, de Edward Berger.

O título do filme vem da conferência secreta em que cardeais da Igreja Católica escolhem o próximo líder da instituição.

O filme oferece ao grande público um raro vislumbre de um processo que, na vida real, ocorre sob rigorosas medidas de segurança para garantir a confidencialidade.

A produção foi “bastante precisa, exceto em algumas coisas”, segundo Kurt Martens, professor de direito canônico na Universidade Católica da América.

“Conclave” foi amplamente celebrado e conquistou os principais prêmios do sindicado dos roteiristas dos Estados Unidos, da academia de cinema do Reino Unido e o Oscar de melhor roteiro adaptado.

A seguir, confira o que acontece no filme (atenção: pequenos spoilers) — e o que especialistas em assuntos papais afirmam ser verídico.

Sobre o que é o filme "Conclave"?
O filme começa com a morte de um pontífice fictício e segue o processo dramático de uma eleição papel. Ralph Fiennes interpreta o cardeal Thomas Lawrence, decano do Colégio de Cardeais.

Os personagens de Stanley Tucci, John Lithgow, Lucian Msamati e Sergio Castellitto aparecem como candidatos de peso ao papado.

O longa acompanha os cardeais ao longo de diversas sessões de votação, em um refeitório comum e nos aposentos do palácio papal onde ficam reclusos.

Embora muitos especialistas tenham elogiado o filme como uma das representações mais fiéis de um conclave, Piotr Kosicki, professor associado de história na Universidade de Maryland, faz uma ressalva:

“em certo nível, pouquíssimas pessoas fora do Colégio de Cardeais podem realmente falar com propriedade sobre o que acontece a portas fechadas”.

Rituais e processos de votação
Muitos dos rituais retratados — as orações, a queima das cédulas, uma agulha costurando os votos — são “mais ou menos corretos”, segundo Kosicki.

Durante a votação, cada cardeal escreve o nome de um candidato em uma cédula retangular. Os votos são lidos em voz alta, um por um, e cada cédula é perfurada por uma agulha antes de ser queimada.

Se não houver um consenso de dois terços, a fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina é preta.

São permitidas quatro rodadas de votação por dia. Quando um papa é escolhido por maioria de dois terços, a fumaça que sai da chaminé torna-se branca.

No filme, alguns rituais são realizados em inglês e espanhol. Na realidade, “as orações no Vaticano são em italiano ou latim, ponto final”, afirma Kosicki.

A política nos bastidores é realmente tão feroz?
Embora seja difícil afirmar com precisão o que se passa dentro de um conclave, a eleição de um Papa se assemelha à escolha de um chefe de Estado, explica Massimo Faggioli, professor de história na Universidade de Villanova.

As articulações ganham força logo após a morte do papa, durante o período que é chamado de “sede vacante”. Alguns cardeais concedem entrevistas à imprensa para ganhar visibilidade ou impulsionar aliados.

Há encontros formais e informais, e também congregações gerais, em que todos os cardeais discutem o estado da Igreja e possíveis sucessores.

“Desta vez, acho que será um conclave aberto, ou seja, sem um sucessor natural ou um cardeal que seja claramente o favorito”, diz Faggioli.

É comum haver várias rodadas sem uma decisão?
A palavra conclave deriva dos termos latinos “com” (juntos) e “clavis” (chave), e o processo foi instituído na Alta Idade Média para garantir a escolha rápida de um novo Papa.

Os cardeais fazem um juramento de sigilo e não podem deixar a área do conclave até que o novo Papa seja eleito — salvo raríssimas exceções.

No filme, o Papa é escolhido ao longo de três dias e sete votações dramáticas. Nos últimos dois séculos, porém, os conclaves não costumam durar mais do que quatro dias, afirma Faggioli.

O Papa Bento XVI foi eleito em dois dias, em 2005 — o mesmo aconteceu com o Papa Francisco, em 2013.

“Todos preferem quando o processo é rápido, porque simboliza unidade”, comenta Kosicki. “E envia uma mensagem forte ao mundo exterior — aos 1,4 bilhão de católicos.”

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