Dia da Abolição da Escravatura: conheça seis livros para entender a história dos negros no Brasil
Historiadores e autores de ficção brasileiros desfazem mitos sobre o passado dos povos trazidos da África em suas obras
Com a sanção da chamada Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, o Brasil se tornou o último país das Américas a decretar oficialmente o fim do trabalho escravo em seu território. Hoje, 133 anos após a assinatura da Princesa Isabel, a abolição da escravatura é discutida por especialistas a partir de um ponto de vista mais crítico, que leva em conta os séculos de luta dos próprios escravizados e também as consequência de uma liberdade sem medidas de reparação para a população negra.
“Precisamos entender que essa data representa a resistência dos negros. Não foi um ato de bondade da coroa portuguesa, o que muitas vezes se acredita pelo desconhecimento da história”, aponta Paulo Sergio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Estácio.
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O professor universitário, que é também doutorando em Literaturas Africanas, percebe na literatura um bom instrumento para a compreensão da verdadeira história do povo negro no Brasil. Além de “Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil”, indicação do próprio especialista, à Folha de Pernambuco traz outras cinco dicas de livros para quem quer entender melhor o tema.
Confira as indicações de livros:
“Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil”, de Beatriz G. Mamigonian
(Companhia das Letras, 608 páginas)
A extensa pesquisa da historiadora Beatriz G. Mamigonian tem como ponto de partida a lei promulgada em 7 de novembro de 1831, que proibia a importação de escravos para o Brasil. A obra trata das mudanças sociais e políticas oriundas dessa proibição que, na prática, foi apenas "para inglês ver".
"Cumbe”, de Marcelo D'Salete
(Veneta, 192 páginas)
Neste romance gráfico vencedor do Eisner - maior prêmio dos quadrinhos no mundo -, o paulista Marcelo D’Salete retrata a resistência à escravidão no Brasil colonial. Em formato de HQ, o autor narra quatro histórias de negros escravizados contra a violência sofrida por eles.
“Rastros de resistência: histórias de luta e liberdade do povo negro”, de Alê Santos
(Panda Books, 136 páginas)
Com prefácio do rapper Emicida, o escritor, pesquisador e influenciador digital Alê Santos reúne 20 heróis e heroínas do povo negro. São personagens que tiveram suas narrativas de luta por liberdade invisibilizadas ao longo do tempo, como o quilombola Benedito Meia-Légua e o líder jangadeiro Dragão do Mar.
“Dicionário da escravidão e liberdade”, organizado por Lilia M. Schwarcz e Flávio Gomes
(Companhia das Letras, 496 páginas)
Lançado nos 130 anos da abolição da escravidão, o livro traz 50 textos de alguns dos maiores especialistas no tema, como Angela Alonso e Luiz Felipe de Alencastro. Os autores fornecem um panorama do passado escravista brasileiro e suas consequências na contemporaneidade.
“O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado”, de Abdias do Nascimento
(Perspectiva, 232 páginas)
Durante um colóquio na Nigéria, em 1977, o ativista e intelectual Abdias do Nascimento se insurgiu contra o governo militar brasileiro ao apresentar um ensaio combativo. O texto, que escancara a falácia da democracia racial no Brasil, acabou se tornando um clássico.
“Escravidão - Vol. 1”, de Laurentino Gomes
(Globo Livros, 504 páginas)
Autor dos best-sellers “1808”, “1822” e “1889”, Laurentino Gomes apresentou a primeira parte de sua trilogia sobre a escravidão no Brasil, resultado de uma pesquisa de seis anos. O volume inicial cobre um período de 250 anos, que vai do primeiro leilão de cativos africanos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares.

