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CINEMA

"Emilia Pérez": entenda polêmicas em torno do filme com mais indicações ao Oscar

Concorrendo a 13 estatuetas, longa francês é criticado principalmente por visão por sua representação da protagonista trans e visão caricatural do México

''Emilia Pérez'' é protagonizada pela atriz trans Karla Sofía Gascón, premiada em Cannes''Emilia Pérez'' é protagonizada pela atriz trans Karla Sofía Gascón, premiada em Cannes - Foto: Divulgação

Poucos ficam indiferentes a "Emilia Pérez", musical em espanhol com pitadas de thriller e comédia do diretor francês Jacques Audiard. Desde sua estreia, o filme sobre um narcotraficante mexicano que desaparece e ressurge como mulher trans em busca de redenção vem acumulando fãs e haters. Por um lado, soma prêmios e indicações — o longa levou quatro Globos de Ouro e concorre a 13 estatuetas no Oscar. Por outro lado, vai angariando críticas.

A seguir, entenda quais são as principais polêmicas em torno do filme que traz no elenco Karla Sofía Gascón, Zoe Saldaña e Selena Gomez.

Representação trans problemática
Muitos críticos e associações ligadas à comunidade LGBTQIA+ criticaram "Emilia Pérez" por sua decisão de usar a identidade transgênero da protagonista como um arco de redenção e uma ferramenta para escapar de seu passado cruel no cartel de drogas. No filme, a protagonista do musical finge sua própria morte e, ao fazer a transição, parece mudar de personalidade e passa a ajudar as vítimas da violência dos cartéis.

O site Pink News escreveu que o filme “perde todas as nuances quando se trata de identidade trans”, opinião que muitos críticos compartilham. Em um longo artigo de opinião, a GLAAD criticou o filme como um “retrato profundamente retrógrado de uma mulher trans”, chamando-o de “retrocesso na representação trans”.

Muitos também criticam a música “La vaginoplastia”, que rapidamente se tornou viral por sua simplificação excessiva das cirurgias de afirmação de gênero em uma lista de verificação completa: mamoplastia, vaginplastia, rinoplastia, laringoplastia e condrolaringoplastia, além de uma cirurgia de redução do pomo de Adão. No filme, o médico canta “pênis para vagina” e “homem para mulher” durante uma explicação risível do procedimento médico.

 

Atriz principal problemática
Na quarta-feira, a atriz de "Emilia Pérez" se viu em meio a uma polêmica após declaração em que sugeria ataques por parte da equipe de Fernanda Torres e de "Ainda estou aqui". Após repercussão em veículos americanos, Gascón esclareceu que não quis atribuir os ataques as pessoas diretamente ligadas à brasileiras, e que estava falando, na verdade, do clima tóxico nas redes sociais. De toda forma, a polêmica foi grande o bastante para muitos sugerirem que ela estaria violando regras do Oscar.

Nesta quinta-feira (30), o nome de Gascón voltou a ganhar os holofotes após a internet resgatar uma série de posts antigos da atriz no X, quando a rede ainda era conhecida como Twitter. Os tweets polêmicos envolvem opiniões polêmicas sobre muçulmanos, George Floyd e até mesmo a diversidade no Oscar.

Os posts repercutiram em publicações como Variety e Deadline, mas a equipe da atriz e de "Emilia Pérez" ainda não se manifestou. Os tweets em questão foram deletados das redes após viralizarem.

Nenhuma das protagonistas é mexicana
Entre os intérpretes dos seis personagens principais, apenas Adriana Paz é mexicana. Entre as três de maior destaque, Karla Sofia Gascon é espanhola, enquanto Zoe Saldaña e Selena Gomez são americanas.

O diretor buscou se justificar. “Vi muitas atrizes no México, conheci atrizes trans, mas simplesmente não estava funcionando”, disse Audiard em uma sessão de perguntas e respostas promovida pelo The Hollywood Reporter. “E então não me lembro exatamente como aconteceu, mas em um período muito curto de tempo, conheci Karla Sofía Gascón... E então conheci Zoe [Saldaña] no Zoom, e algo apareceu muito claramente para mim.”

Espanhol de Selena Gomez 'indefensável'
O fato de Selena Gomez não falar espanhol e consequentemente apresentar um mal desempenho no idioma em seu papel tem sido muito criticado desde o lançamento do filme.

O ator mexicano Eugenio Derbez foi uma das primeiras celebridades a criticar duramente o desempenho de Gomez no filme, chamando sua atuação de “indefensável”. Ele e a apresentadora de podcast Gaby Meza concordaram que a falta de conhecimento do idioma espanhol por parte da cantora contribuiu para seu suposto desempenho ruim no filme.

“Selena é indefensável”, disse Derbez à apresentadora de podcast Gaby Meza no mês passado. “Eu estava lá [assistindo ao filme] com outras pessoas, e toda vez que aparecia uma cena [com a participação de Selena], olhávamos uns para os outros e dizíamos: 'Nossa, o que é isso?

Retrato nocivo do México
Os dois itens anteriores seriam apenas superfície de um problema mais profundo: a representação caricata do México por um diretor estrangeiro — que não fala espanhol. Numa época em que o recém-empossado presidente Donald Trump se dedica a perseguir os estrangeiros que vivem nos EUA, boa parte deles mexicanos, o retrato que o filme faz não poderia ser mais nocivo: um país onde só há corrupção e a violência.

Em uma entrevista ao Hollywood Reporter, Audiard disse que visitou o México “três ou quatro vezes”, mas achou que filmar no país em que seu filme se baseia seria limitante. "Fizemos a busca de locações. Fizemos algumas seleções de elenco. E acho que foi no final da terceira visita que percebi que, se trabalhasse nessas locações reais, ficaria preso ao chão”, disse Audiard. “Eu tinha todas essas imagens em minha cabeça, e essas imagens não caberiam nas ruas do México.”

“Quando os mexicanos lhe dizem que um filme... está retratando um México cheio de estereótipos, ignorância, falta de respeito e está lucrando com uma das mais graves crises humanitárias do mundo”, escreveu o ator mexicano Mauricio Morales em uma declaração X. “Talvez... apenas talvez, acreditem nos mexicanos”.

Músicas ruins
Mesmo que você considere que os itens anteriores podem ser entendidos como escolhas autorais, há um pecado considerado imperdoável para os fãs de musicais: as músicas de "Emilia Pérez" não seriam boas.

Uma das que deu voz a essa questão foi a jornalista brasileira Marina Person. Logo no início de um vídeo publicado em sua conta no Instagram, ela diz: "O filme está sendo acusado de ser xenofóbico, transfóbico... Mas para além disso, há um fato fundamental: ele é um musical com músicas ruins. É insuportável de assistir. Eu gosto de musical, mas é que as músicas desse filme... parece que a letra não encaixa dentro da harmonia e da melodia"

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