Espectadores indignados no México exigem reembolso após assistir "Emilia Pérez"
Na semana de estreia, um grande número de pessoas solicitou o reembolso dos seus bilhetes numa rede de cinemas que ofereceu "garantia de satisfação"
Emilia Pérez não deixa o público indiferente. O filme dirigido por Jacques Audiard e ambientado no México se tornou a produção de língua não inglesa com mais indicações na história do Oscar, concorrendo em 13 categorias.
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Além disso, sua protagonista, Karla Sofía Gascón, é a primeira trans a disputar o prêmio de Melhor Atriz. Embora o filme tenha tido grande destaque em várias cerimônias de premiação, há cada vez mais críticos concordando que o diretor banalizou questões como mudança de sexo, imigração e tráfico de pessoas.
E agora, uma semana após o lançamento do filme do diretor francês no México, uma série de polêmicas surgiram. Em meio a diversas críticas à história, uma conhecida rede de cinemas promoveu o filme com um selo de garantia que centenas de pessoas usaram para pedir o reembolso do dinheiro do ingresso.
Na segunda-feira, 27, a presidente do México, Claudia Sheinbaum Pardo, se referiu ao filme em sua coletiva de imprensa matinal e ressaltou que “ninguém pode tirar o orgulho do México”.
Ela também destacou que “o turismo não chegaria se houvesse uma imagem diferente do país” e destacou que houve um aumento de 8% no setor em 2024.
“Não acreditamos em censura, acreditamos na liberdade de expressão , mas ao mesmo tempo é hora de nós — e isso está acontecendo — reconhecermos o México por sua história, sua cultura, suas tradições", disse a presidente, ecoando a polêmica.
Além disso, o titular da Agência Federal de Proteção ao Consumidor (PROFECO), Iván Escalante, disse que a rede de cinemas respondeu às reclamações apresentadas contra ela a respeito da “Garantia Cinépolis” dada ao longa-metragem.
Escalante destacou que desde a última quinta-feira detectaram o incômodo dos usuários por meio das redes sociais:
“O artigo 77 e 78 da Lei Federal de Defesa do Consumidor estabelece que o termo ou palavra ‘garantia’ tem que vir acompanhado de uma política que estabeleça os termos e condições da referida garantia, pelo que a Profeco indicou que a empresa deveria substituir esse termo por 'recomendação' ou especificar os termos e condições", disse o responsável.
“Imediatamente enviamos um chamado a todos os consumidores que sentiram não ter recebido a proteção estabelecida por lei para entrarem em contato conosco para iniciar um processo de conciliação. De qualquer forma, a empresa já publicou os termos e condições", disse Escalante.
De acordo com os termos e condições publicados pela empresa, o reembolso será aplicado apenas aos ingressos dos filmes anunciados com o selo “Garantia Cinépolis” e não inclui o reembolso de despesas adicionais, como alimentação e bebidas.
Ele só pode ser validado no dia da exibição e nos primeiros 30 minutos após o início do filme.
As críticas a "Emilia Pérez"
Uma das principais críticas ao filme tem a ver com a atuação de Selena Gomez, uma atriz que, apesar de suas raízes latinas, não fala espanhol.
Alguns comentários apontam que, embora Hollywood tenha sido cuidadosa há algum tempo em relação à apropriação cultural da comunidade afrodescendente, ela não demonstra o mesmo cuidado com a representação dos latino-americanos.
Além dos personagens estereotipados, muitos ficaram impressionados com a ausência de atores mexicanos nos papéis principais.
Sobre as críticas que o filme recebeu antes de seu lançamento, a atriz espanhola Karla Sofía Gascón adotou uma posição de defesa absoluta do projeto:
“Há muitas pessoas que dizem que ele não aprofunda ou não especifica nenhuma das muitas questões que aborda. E essa é precisamente a sua virtude. Não é um filme moralista que diz o que o público deve pensar, o que é certo ou errado, mas coloca algumas questões na mesa e diz: 'Olha, aqui está isso e isso, e você como espectador reflita sobre o que você acha apropriado", disse em entrevista ao La Nación.
Jacques Audiard, em entrevista à EFE em 18 de janeiro, se referiu aos comentários que recebeu: “Tive muito cuidado, não queria ofender os mexicanos, não queria magoar ninguém”.
No entanto, o diretor defendeu sua abordagem e ressaltou que não mudaria a forma como concebeu "Emilia Pérez" e enfatizou que sua criação nada mais é do que uma “realidade interpretada” do México.